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Está em fase de finalização um equipamento que vai auxiliar o produtor no monitoramento do bicudo do algodoeiro, considerada a principal praga da cultura. A inovação desenvolvida pela startup LiveFarm, em parceria com a Embrapa, realiza a contagem automática dos insetos em tempo real, otimizando tempo e recursos com o monitoramento, além de reduzir o números de pulverizações. O equipamento será apresentado aos produtores durante a 13ª edição do Congresso Brasileiro do Algodão, que acontece de 16 a 18 de agosto, em Salvador (BA).
Em levantamento recente realizado com cerca de 60 cotonicultores do Cerrado verificou-se que o bicudo é a praga que exige o maior número de pulverizações, variando entre 18 e 22 aplicações por safra, nas últimas sete safras. Os prejuízos causados pela praga podem ultrapassar o valor de mil reais por hectare, o que equivale a cerca de 10% do custo total de produção.
“A tecnologia vai aperfeiçoar a estratégia de controle e a aplicação de inseticidas, com reduções potenciais de 30% a 50%,” prevê o sócio fundador da LiveFarm, Joélcio Carvalho.
O equipamento consiste em um sensor que é acoplado às armadilhas convencionais de feromônio e envia os dados para um aplicativo, facilitando a tomada de decisão do produtor quanto ao manejo da praga. “Ao passar o inseto, a inteligência artificial faz a identificação e envia as contagens para a nuvem. O sistema se diferencia pelo método de contagem e pelo fato de funcionar sem a necessidade de sinal telefônico ou de internet de satélite, sendo possível adaptar a qualquer ambiente”, explica Carvalho.
Para o pesquisador da Embrapa Algodão, José Ednilson Miranda, que trabalhou no aperfeiçoamento da armadilha com sensoriamento remoto, o equipamento é uma tecnologia disruptiva, que se insere no novo cenário de agricultura digital em que as fazendas se modernizaram e utilizam cada vez mais ferramentas de inteligência artificial para condução das lavouras. “O algodão é produzido em áreas muito extensas e a tecnologia dispensa a necessidade de ficar fazendo visitas. Além disso, as visitas podem ser feitas em um momento em que o inseto não vai estar presente. Enquanto a armadilha estará no campo constantemente, fornecendo informações assim que o inseto chegar”, observa.
Outra vantagem do sistema em relação ao método de monitoramento atual é que ele facilita o controle localizado e precoce das pragas, reduzindo de uma semana, para menos de uma hora a confirmação da presença da praga no campo.
“Normalmente as pragas começam em uma determinada área e depois se dispersam. Na medida em que você consegue detectar essa colonização inicial, você consegue controlar precocemente a população da praga, sem gastar mais tendo que pulverizar a área toda e sem ter nenhum prejuízo decorrente do ataque”, detalha o pesquisador.
Outra aplicação para o uso dessas armadilhas é aproveitar a coleta de dados para a tomada de decisões de controle localizado através de drones agrícolas. “Hoje nós já temos drones de pulverização de 10, 20 e 30 litros de capacidade que vão ser ótimos para fazer esse controle localizado. Isso também pode ser automatizado de maneira que um único operador pode resolver esse problema de maneira tempestiva antes que a praga se alastre na lavoura”, vislumbra Miranda.
O desenvolvimento do sistema teve início em meados de 2018, com o processo de patente. O protótipo do equipamento foi sendo aperfeiçoado em parceria com a Embrapa, Instituto Matogrossense do Algodão (IMAmt) e outras instituições ligadas ao setor produtivo.
No Brasil, as armadilhas com feromônios são amplamente utilizadas em programas de monitoramento populacional do bicudo e controle do inseto. Quando empregadas corretamente, minimizam o uso desnecessário de inseticidas, trazendo benefícios econômicos e ambientais ao agricultor e à sociedade.
O pesquisador da Embrapa, Cherre Bezerra da Silva explica que, para obter o índice populacional de bicudo presente na área a ser cultivada, as armadilhas devem ser instaladas e mantidas ao longo de todo o perímetro da área em intervalos entre 150 e 300 metros entre si e devem ser inspecionadas semanalmente por um período de nove semanas antes da semeadura da nova lavoura de algodão.
“As capturas dão ideia da intensidade de infestação de bicudos; posteriormente, os dados de captura auxiliarão na definição do número de pulverizações de inseticidas que serão feitas no início do florescimento da nova lavoura, momento em que os insetos migram do refúgio para a área plantada com o algodoeiro,” conta.
O novo sistema vem se somar a uma série de ferramentas que estão em desenvolvimento para otimizar o manejo do bicudo do algodoeiro. Entre elas estão novos compostos orgânicos voláteis mais atrativos ao bicudo para atuar em sinergia com o feromônio nas armadilhas; a atualização do nível de dano econômico da praga, com maior flexibilidade para as diferentes condições de cultivo; e uma formulação de inseticida biológico contendo semioquímicos atrativos do bicudo e isolados de fungos patogênicos ao inseto.
Também será desenvolvido o processo de eliminação química de restos culturais do algodoeiro e plantas voluntárias (tigueras e soqueiras) mantenedoras de populações de bicudo; além de um equipamento de controle remoto para destruição química de plantas voluntárias de algodão; linhagens de fungos e bactérias patológicos ao bicudo; tecnologia attract-and-kill com plantas-iscas para controle localizado de populações remanescentes e recolonizantes do bicudo; software para predições da presença do bicudo com base em dados climáticos; entre outras.
As inovações estão sendo desenvolvidas pelas equipes da Embrapa Algodão (PB), Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF) e Embrapa Arroz e Feijão (GO), em parceria com a Universidade Federal de Viçosa (UFV), Universidade Federal de Goiás (UFG), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano (IF Goiano Campus Rio Verde), entre outras instituições ligadas à cotonicultura.
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