Clima influencia produção de algodão
Neste mês de junho, a Embrapa Semiárido comemora 35 anos de criação.
A instituição acumula em sua história algumas das pesquisas que ajudaram a mudar a percepção do país sobre o bioma caatinga: de um ecossistema empobrecido, submetido aos rigores de secas intermináveis, para a de um ambiente rico em recursos naturais e de variadas potencialidades socioeconômicas.
Para o pesquisador Natoniel Franklin de Melo, Chefe Geral da Embrapa Semiárido, este é um mérito que serviu para reorientar muitas das intervenções governamentais na região e é base para as novas políticas públicas, que buscam enfrentar, de forma produtiva e sustentável, fenômenos como os das mudanças climáticas.
De acordo com o dirigente, ainda que criada no ambiente institucional dos anos 70, quando se impunha a solução de distribuição de carros pipa para enfrentar os problemas relacionados ao clima quente e seco e as irregularidades das chuvas, o centro de pesquisa soube se orientar em direção contrária.
“Nos projetos da instituição, constatações como risco de seca na região maior que 60%, temperaturas elevadas, freqüência de dias ensolarados em grande parte do ano, regime de chuvas e vegetação, passaram a ser aproveitadas como um diferencial de sustentabilidade ambiental, produtiva e econômica”, afirma Natoniel.
Esses fatores, associados às técnicas de irrigação adaptadas ou desenvolvidas nos projetos de pesquisa, tornaram o semiárido do Brasil o único em todo o planeta onde é possível a produção agrícola em todas as épocas do ano.
Esta é uma das vantagens que impulsiona a expansão da agricultura irrigada, em especial no Vale do Submédio do São Francisco, onde está localizado o principal pólo de fruticultura tropical do país. O impacto do desenvolvimento tecnológico também alcançou as produtividades. Em meados dos anos 80, o volume médio das colheitas nos parreirais da região chegava a 18-20 t/ha/ano. Os dados atuais registram valores médios bem acima, entre 30 e 35 t/ha/ano, revela o dirigente da Embrapa.
Bons resultados não são privilégios apenas das atividades agrícolas sob irrigação. Em segmentos como a pecuária nas áreas dependentes de chuva, o potencial da produção animal deu um salto, assegura o dirigente.
A criação extensiva, com os animais soltos na vegetação nativa, requer uma área de 10 a 15 hectares para alimentar um animal ou grupo de animais que somem o peso de 450 kg. Em estudos com manejo de rebanhos, plantas forrageiras e pastejos cultivados, o centro de pesquisa fez reduzir a necessidade de área de criação desse mesmo volume de animais para apenas 1 ou 2 ha.
Para Natoniel, outra grande contribuição do programa de pesquisa da Embrapa está relacionada ao aproveitamento das águas de chuvas para o consumo humano e a produção agrícola. As experimentações com tecnologias desenvolvidas pela Unidade adquiriram nova dimensão ao serem apropriadas por organizações sociais e se tornarem base de políticas públicas para a convivência com o semiárido, como os programas 1 Milhão de Cisternas (P1MC) e o Uma Terra e Duas Águas (P1+2).
Ele destaca que a ação institucional do centro de pesquisa é marcada pela atuação cooperativa como variados segmentos de públicos, seja na área governamental – no Brasil e no exterior - quanto entre empreendedores privados e pequenos agricultores. As parcerias ampliam a competência técnica do seu corpo de funcionários.
Natoniel considera que o semiárido tem potencial para prosperar muitas atividades econômicas. Para ele, a presença de bacias leiteiras e o desenvolvimento de laticínios, a ovino-caprinocultura, piscicultura, a fruticultura e a olericultura irrigada, a vinicultura e o turismo podem se estabelecer como negócios para grandes, médios e pequenos empreendimentos.
Para ele, é preciso colocar o semiárido como prioridade nas políticas públicas de desenvolvimento científico e tecnológico, no Brasil. O retorno dado pela pesquisa realizada em instituições como a Embrapa Semiárido só reforça a necessidade de mais investimentos no setor para que sejam mínimos os efeitos das mudanças do clima sobre a região.
Fonte: Embrapa Semiárido – 87 3862 1711 /
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