SENAR promove Fórum Internacional Inovação para o Campo
A Embrapa, a partir de duas de suas 47 unidades – Recursos Genéticos e Biotecnologia e Café (ambas localizadas em Brasília, DF) – patenteou uma técnica que promete aprimorar e agilizar o desenvolvimento de plantas transgênicas no Brasil. A patente foi depositada no INPI – Instituto Nacional da Propriedade Industrial no dia 9 de abril de 2012 com o nome de “Composições e métodos para modificar a expressão de genes de interesse” e é resultado de um trabalho inovador liderado pela pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Juliana Dantas de Almeida, com a participação do chefe-geral da Unidade, Mauro Carneiro; da chefe do Departamento de Pesquisa & Desenvolvimento da Embrapa, Mirian Eira; dos também pesquisadores da Embrapa - Leila Barros, Alan Andrade, Michelle Cotta e Felipe Rodrigues - e Luiz Filipe Pereira, do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar).
A técnica se baseia no estudo de uma parte do gene, denominada promotor, que é responsável pela definição de onde, quando e em que condições as características desejadas vão se manifestar na planta. O objetivo é selecionar os promotores de interesse e disponibilizá-los em um catálogo de promotores para as instituições de pesquisa brasileiras. “Essa técnica pode resultar em benefícios imediatos na geração de plantas transgênicas”, explica a líder dos estudos, Juliana Dantas.
Hoje, para desenvolver uma planta transgênica os cientistas normalmente utilizam promotores constitutivos. Isso significa que o gene que foi inserido no transgênico vai se manifestar em todas as partes da planta, em todas as etapas do desenvolvimento e independentemente das condições externas. Nessa situação, a planta gasta energia produzindo excessivamente uma proteína que não é necessária na planta inteira e o tempo todo. A nova tecnologia permite que o gene que foi inserido, se expresse apenas no endosperma do fruto da planta transformada. No caso de o objetivo a ser atingido ser a obtenção de uma planta resistente a alguma praga, em que uma proteína tóxica ao inseto-alvo pode atingir populações de insetos benéficos, essa estratégia é bastante pertinente. A broca do café, por exemplo, é uma doença causada por um pequeno besouro que se instala justamente no grão do café para se reproduzir, comprometendo a produção. Um gene de resistência à broca pode ser comandado por um promotor específico de fruto como esse cujo pedido de patente acabou de ser depositado, e a proteína estará presente somente no grão. Populações de outros insetos que se alimentam nas folhas não seriam atingidas.
O objetivo a médio prazo, como afirma a pesquisadora, é chegar a um banco de promotores da Embrapa à disposição da ciência, o que ela acredita que deve acontecer em um período de aproximadamente cinco anos. “Esse banco, o qual será formado por promotores isolados e patenteados pela Embrapa, a partir de suas unidades distribuídas em todo o Brasil, vai garantir à Empresa independência tecnológica e agilidade no desenvolvimento de produtos geneticamente modificados”, destaca Dantas, lembrando que o banco vai contar com promotores específicos para todas as partes das plantas (raiz, caule, fruto etc.) e também promotores que sejam induzidos por seca e aumento de temperatura, levando em consideração aplicações de interesse para a agricultura brasileira, como resistência a pragas, tolerância à seca, altas temperaturas, aumento do valor nutricional e melhoria em propriedades organolépticas (sabor, aroma, textura). Assim, o gene que for inserido, se expressará apenas quando e aonde for necessário
A primeira fase dos estudos, que culminou com o depósito da patente no INPI, começou em 2005 e teve como base o banco de dados do Genoma Café, que conta com mais de 200 mil sequências de DNA e 30 mil genes identificados como responsáveis pelos diversos mecanismos de crescimento e desenvolvimento da planta assim como genes de resposta a estresses bióticos e abióticos.
Segundo Dantas, as pesquisas foram iniciadas com a busca de promotores específicos de frutos, folhas e raízes e o resultado final, ou seja, o promotor que foi patenteado é um promotor específico para o grão do café, que é a parte utilizada pela indústria alimentícia para a produção da bebida. “Por isso, é um resultado bastante promissor para grupos que desenvolvem pesquisas em prol da melhoria da qualidade do café no Brasil”, ressalta.
Levando-se em consideração a importância desse produto para o país, que é o maior produtor mundial com 36% do mercado global e o segundo maior consumidor, atrás apenas dos EUA, a notícia é realmente animadora, pois pode auxiliar o desenvolvimento de plantas transgênicas de café com frutos de melhor qualidade e preços mais competitivos.
Mas o objetivo da equipe é estender a metodologia para outras culturas agrícolas. Por isso, um projeto envolvendo a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, a Embrapa Milho e Sorgo e a Embrapa Agroenergia já foi proposto e espera aprovação do comitê gestor da Embrapa.
Esse projeto prevê o desenvolvimento de estudos com promotores de café; soja; cana-de-açúcar e milheto. Os promotores serão testados em diversas espécies de diferentes famílias em relação à especificidade de tecido (folha, raiz e fruto/semente) e tolerância à seca e senescência, que é o processo de envelhecimento da planta. “A senescência é importante para entender os mecanismos de resposta das plantas em situação de estresse”, explica a pesquisadora. Na opinião da pesquisadora, transgênicos e orgânicos deveriam andar de mãos dadas. Plantas transgênicas mais adaptadas às condições ambientais poupam a utilização de agrotóxicos e insumos, dispensam o desmatamento de áreas ecologicamente importantes e acabam por gerar alimentos mais baratos e mais saudáveis tanto do ponto de vista ambiental quanto populacional.
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