Embrapa Florestas mostra como controlar vespa-da-madeira no Tecnoeste

17.02.2009 | 20:59 (UTC -3)

A Embrapa será parceira da 8ª edição do Tecnoeste 2009 - Show Tecnológico Rural do Oeste Catarinense, que acontece nos dias 18, 19 e 20 de fevereiro, na área próxima ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologias Catarinense – Campus Concórdia/SC. Durante o Tecnoeste 2009, a Embrapa Florestas estará apresentando o projeto Florestas Energéticas e Manejo Integrado de Pragas visando o controle da vespa-da-madeira (Sirex noctilio), em Pinus.

Na oportunidade, a Embrapa será representada por três unidades da região Sul: Embrapa Florestas (Colombo/PR), Embrapa Suínos e Aves (Concórdia/SC) e Embrapa Uva e Vinho (Bento Gonçalves/RS), que apresentarão tecnologias voltadas para o aumento do sucesso na produtividade.

O projeto “Florestas Energéticas” é multi-institucional e conta com a participação de cerca de 70 empresas públicas e privadas de todo país lideradas pela Embrapa Florestas, Esalq/USP, Embrapa Meio Ambiente e Embrapa Agroindústria de Alimentos.

Florestas e Agroenergia

Um dos maiores desafios deste século é a produção de energia renovável e sustentável, tanto no aspecto econômico quanto ambiental. O eminente esgotamento das fontes de carbono fósseis, principalmente o petróleo, apontado por pesquisadores para um prazo máximo de cem anos, torna este desafio ainda mais urgente. A atual crise de energia é acentuada pela instabilidade dos preços dos combustíveis fósseis, que são regidos pelo comércio internacional e afetados por questões políticas mundiais. Além disso, a sociedade mundial tem pressionado para o uso de energia limpa.

Diante desta realidade, o Brasil tem ocupado papel de destaque no cenário mundial pelo seu potencial e competência para realizar a transição da matriz energética de uma forma mais segura e menos traumática para a qualidade de vida, com garantia de abastecimento energético. Este potencial está baseado em quatro pilares: biodiesel; etanol; espécies alternativas e resíduos; e florestas energéticas.

A biomassa florestal é fonte renovável e tem balanço nulo no efeito estufa quando usada para energia e é excelente fixadora de carbono quando empregada para outros fins.

O Brasil possui florestas plantadas com potencial de crescimento e produtividade e extensas áreas com florestas nativas que podem ser manejadas de forma sustentável. Tais fatos trazem perspectivas animadoras ao país em relação à produção de biomassa para energia, com vantagem competitiva no cenário mundial.

Os usos da energia gerada pela biomassa florestal são diversos: desde lenha para abastecimento de residências, propriedades rurais e pequenas indústrias até produção de bio-óleo, briquetes e carvão vegetal. Tais usos podem ser melhorados e potencializados e, para isso, o País precisa investir em pesquisa científica.

Com amplitude nacional e subdividido em cinco projetos componentes, interrelacionados, os grandes desafios do projeto são a produção de biomassa em escala, o desenvolvimento de tecnologias de conversão de biomassa em energia e o monitoramento ambiental, de forma sustentável. Seu objetivo é desenvolver, otimizar e viabilizar alternativas ao uso de fontes energéticas tradicionais não-renováveis por meio da biomassa de plantações florestais de forma sustentável.

Os projetos componentes são interrelacionados e se propõe a:

Estruturar, nas diversas regiões do País, populações de espécies florestais para oferta de germoplasma com tecnologias silviculturais apropriadas e necessárias à expansão de plantios de florestas para a produção de biomassa em quantidade e qualidade apropriadas para uso energético;

Desenvolver, otimizar e viabilizar alternativas de uso da biomassa florestal, como fonte renovável, para diversificar a matriz energética nacional de forma sustentável;

Obter produtos de alto valor agregado da biomassa florestal, destinados a geração de energia, por meio do aprimoramento de tecnologias ou ajustes de processos para a obtenção de um extrato enzimático rico de atividade celulolítica e seu efeito na hidrólise de uma matriz lignocelulosica pré-tratada, pirólise, acidólise e oxidação parcial utilizando a mesma matriz;

Efetuar estudos sobre a viabilidade, competitividade e sustentabilidade das cadeias produtivas de plantios florestais energéticos, bem como dos co-produtos resultantes na obtenção de biocombustíveis.

Manejo Integrado de Pragas visando o controle da vespa-da-madeira, Sirex noctilio, em Pinus

Os plantios de pinus, no Brasil, após um período bastante longo estiveram livre de pragas, tanto as nativas como as exóticas. Entretanto, com a introdução da vespa-da-madeira,

em 1988, esses plantios passaram a ter sua produtividade ameaçada, havendo um risco de perdas potenciais de até R$ 54 milhões/ano, nos 450.000ha, atualmente com a presença da praga, na região Sul. Entretanto face ao Programa Nacional de Controle a Vespa-da-Madeira, essas perdas são reduzidas em mais de 70%.

Os principais danos provocados por este inseto são: perfurações na madeira, realizadas por larvas e adultos; deterioração da madeira, devido à ação do fungo simbionte Amylostereum areolatum e a ocorrência de partes debilitadas nos locais onde são realizadas as posturas, sendo também esta uma porta de entrada de patógenos secundários, que comprometem a qualidade da madeira, limitando o seu uso, ou tornando-a imprópria para o mercado.

O estabelecimento e dispersão da praga no sul do país, foi facilitado pela presença abundante de hospedeiros do gênero Pinus, pelas condições precárias do manejo florestal (principalmente desbastes atrasados) e pela ausência de inimigos naturiais.

Devido às condições favoráveis de estresse dos plantios e por ter sido a primeira praga exótica de importância, a introdução da vespa-da-madeira significou uma mudança de paradigma na silvicultura de Pinus spp. no Brasil. A vespa-da-madeira é uma praga secundária na região de origem (Europa e Ásia), que tornou-se importante nos países onde foi introduzida. Isto indicava que era fundamental a criação de mecanismos de resistência ambiental, para minimizar os seus efeitos daninhos. Desta forma, logo após a identificação, feita pela Embrapa Florestas, estabeleceu-se uma parceria entre órgãos públicos e privados para a criação de um programa de P&D visando a geração, adaptação e difusão de tecnologias, para o monitoramento e controle da praga.

Com o apoio das três associações de reflorestadores da região Sul, integrados na Associação Sulbrasileira de Reflorestadores, do Ministério da Agricultura, do Instituto Brasileiro de Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), das Secretarias da Agricultura e da Embrapa Florestas, foram traçadas as primeiras ações de combate à praga. Estipulou-se também, normas para o transporte de madeira de área atacadas para áreas indenes.

Em 1989, foi instituído o Programa Nacional de Controle à Vespa-da-Madeira (PNCVM), através da Portaria 031/89 do MAPA e o Fundo Nacional de Controle a Vespa-da-Madeira (FUNCEMA), com a devida aprovação das ações de pesquisa e desenvolvimento propostas pela Embrapa Florestas.

O programa de Manejo Integrado de Sirex noctilio, desenvolvido pela Embrapa Florestas, foi o primeiro programa de MIP, que com o emprego de diferentes técnicas de monitoramento e controle, foi utilizado para o controle de uma praga florestal no Brasil. Estas técnicas face ao seu caráter inovador contribuíram de forma marcante também na capacitação, tanto dos engenheiros e técnico florestais e agropecuários, como também, para os demais trabalhadores rurais.

As estratégias de manejo integrado de pragas para o controle da vespa-da-madeira envolvem: 1) mapeamento de todas as áreas de Pinus spp., na região sul do Brasil; 2) monitoramento, através de árvores-armadilha, para detecção precoce da praga em regiões próximas ao seu limite de dispersão e, em áreas de fronteira. Esta medida foi essencial para o sucesso do programa de controle biológico que está associado diretamente à detecção precoce da praga; 3) a melhoria das condições de manejo florestal, principalmente os desbastes, visto que, árvores dominadas, bifurcadas ou danificadas por fatores bióticos ou abióticos, são mais susceptíveis. Face ao caráter oportunista da praga, a prevenção de danos economicamente importantes é um problema de manejo, que pode ser minimizado pela vigilância dos plantios e pela adoção de tratos silviculturais, para manter o vigor das árvores; 4) controle biológico com a introdução do nematóide Deladenus siricidicola e de um parasitóide, a vespa Ibalia leucospoides. A introdução desses agentes de controle biológico, permitiu que fossem atingidas porcentagens altas de parasitismo, chegando-se, em alguns locais, a indices próximos a 100%; 5) monitoramento das estratégias de controle e mapeamento das áreas de ocorrência da praga. Estas atividades são realizadas anualmente pelas empresas, Secretarias da Agricultura, Ministério da Agricultura e Embrapa Florestas, a fim de se avaliar o programa em suas várias etapas ; 6) estabelecimento de medidas quarentenárias para evitar a dispersão da praga para áreas indenes, através de portaria que restringiu a movimentação de madeira atacada e de seus produtos e, 7) estabelecimento de um intensivo programa de transferência de tecnologia, principalmente, treinamentos para o monitoramento e controle da praga, elaboração de publicações, folder e vídeos e divulgação na imprensa.

Paradoxalmente, a presença desta praga no Brasil, proporcionou uma melhoria substancial na silvicultura de pinus, devido à conscientização da importância do manejo florestal no controle da praga. Desta forma, o Manejo Integrado de Pragas (MIP) passou a ser uma ação prevista e obrigatória nos programas de Manejo Florestal. Pode-se afirmar que a vespa-da-madeira trouxe um benefício à silvicultura nacional, tornando-se a responsável por esta mudança de mentalidade do produtor florestal.

Katia Pichelli

Embrapa Florestas

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