Embrapa ampliará apoio a adidos agrícolas

A experiência da instituição e seus pesquisadores pode contribuir com a coordenação e o fornecimento de informação qualificada em negociações e fóruns

17.09.2020 | 20:59 (UTC -3)
Katia Marsicano​

O potencial da Embrapa em apoiar estratégias internacionais de articulação do agro fora do Brasil foi um dos principais pontos defendidos por Celso Moretti, presidente da empresa, nesta segunda-feira, 14 de setembro, durante o segundo encontro de adidos agrícolas brasileiros. Segundo ele, a experiência da instituição e seus pesquisadores ao longo de quase cinco décadas pode contribuir com a coordenação e o fornecimento de informação qualificada em negociações e fóruns, além de favorecer a aproximação em cenários de cooperação estrangeira. “A Embrapa tem expertise para isso”, disse.

Acompanhado virtualmente por mais de vinte adidos e representantes da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) no exterior, Moretti falou sobre a agenda internacional da Embrapa, o relacionamento com 43 países, 120 instituições de pesquisa e os 154 projetos atualmente desenvolvidos em cooperação. Presentes ao encontro:  ministros Tereza Cristina, da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e Ernesto Araújo, das Relações Exteriores (MRE),  deputado Alceu Moreira, presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e Sérgio Segovia, presidente da Apex-Brasil.

“Temos trabalhado com foco nas relações estratégicas internacionais, nas políticas globais, na cooperação científica e técnica, voltada à inovação e aos negócios”, explicou Moretti. Ele ressaltou a conexão com os ministérios da Agricultura, Relações Exteriores, Ciência e Tecnologia, além das agências de fomento e fundações de apoio à pesquisa: “Interna e externamente, estamos em constante articulação, por meio da Diretoria Executiva da Empresa e da nossa gerência de relações internacionais, e recebemos inúmeras representações de embaixadas e delegações internacionais interessadas na aproximação e no intercâmbio com a pesquisa agropecuária brasileira”.

O presidente reafirmou a prioridade no fortalecimento da participação de pesquisadores em comitês, grupos de trabalho e fóruns internacionais, como a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), a Convenção Sobre Diversidade Biológica (CDB) e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). “Também buscamos o alinhamento de projetos internacionais em temas estratégicos da Embrapa, a exemplo da cooperação científica firmada com o Centro Internacional de Agricultura Biossalina (ICBA), dos Emirados Árabes, com o qual temos o interesse comum em desenvolver tecnologias para o aproveitamento de águas ricas em sais”, comentou Celso Moretti.

Sobre os mecanismos de cooperação científica, referiu-se ao esforço desenvolvido nos laboratórios virtuais (Labex) dos Estados Unidos e Europa, coordenados por pesquisadores, responsáveis por articular e participar de chamadas conjuntas de projetos com instituições de pesquisa estrangeiras, e apoiar cientistas visitantes que atuam em estudos em cooperação. Moretti ressaltou que existe a intenção de retornar com a presença da Embrapa em território africano, porém não mais como ajuda humanitária, mas buscando fortalecer a realização de negócios. Na sua opinião, a África representa uma oportunidade para captação de recursos na agenda internacional da Empresa, que, por sua vez, tem a traído a atenção de governos de vários países, atualmente interessados em reestruturar o sistema de pesquisa agropecuária no país, inspirados no modelo brasileiro.

Foco no continente africano

Para o presidente da Embrapa, existe um grande potencial relacionado à internacionalização das empresas brasileiras. Assim, tem defendido o continente africano como estratégico, por ser o meio do caminho para a China, potencial mercado e parceiro para o Brasil. “Além disso, 60% das terras agricultáveis do mundo estão na África; são 400 milhões de hectares de savana, e o Brasil é o único país do mundo que detém tecnologia para desenvolvimento da agricultura tropical”, justificando a importância de incentivar o setor privado brasileiro a ocupar espaços no cenário comercial do continente. “A Embrapa é um ponto chave para apoiar esse processo”.

Durante a apresentação, Celso Moretti recordou a trajetória da agricultura brasileira nos últimos 50 anos, com a transformação do Brasil de país dependente da importação de alimentos em protagonista mundial de produtividade, de forma sustentável e competitiva. Como um dos resultados de maior impacto na pesquisa, citou a importância da fixação biológica de nitrogênio na cultura da soja, que garantiu uma economia de 22 bilhões de reais na safra de 2019, cultivada em 35 milhões de hectares que não precisaram de adubo nitrogenado. “O Brasil desenvolveu a tecnologia que permite essa substituição que, além do ganho econômico, representa significativa redução na emissão de gases de efeito estufa, algo em torno de 100 milhões de toneladas a menos na atmosfera”, afirmou.

Aos adidos agrícolas brasileiros que acompanharam ao evento, o presidente deu o recado: “Demandem a Embrapa, demandem informações”. Segundo ele, a Empresa trabalha para prover soluções para os problemas da agricultura e que é importante lançar mão desse conhecimento para disseminar possibilidades de acordos, parcerias, cooperações e a abertura de novos mercados para o setor privado nacional.

O presidente da Embrapa destacou ainda o alinhamento da Embrapa com a Apex-Brasil e citou os acordos assinados em julho deste ano com o objetivo de contribuir com o fortalecimento da agropecuária brasileira. “Há um esforço conjunto para aumentar a competitividade do setor e sua capacidade de inserção nas cadeias globais de valor, ampliar a promoção internacional e também a captação de investimentos estrangeiros”, disse. Celso Moretti participou de missões coordenadas pela Apex-Brasil que geraram novas oportunidades para a ciência brasileira.

Reforço na atuação internacional

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, disse que a agropecuária brasileira precisa ser tratada de forma integrada e o ministério está trabalhando para reforçar o foco em abastecimento, comércio internacional, questões fundiárias e no fomento florestal, em benefício dos pequenos, médios e grandes produtores. “E para isso tem sido fundamental a aproximação com o Ministério das Relações Exteriores e a Apex. É necessário lidar com a diplomacia do agronegócio”, disse ela. Sobre a atuação dos adidos no exterior, chamou a atenção para a importância de trazerem soluções. A ministra anunciou a criação de mais três cargos de adidos a partir deste ano na França (Paris), na Alemanha (Berlim) e na Austrália (Camberra), países escolhidos por sediarem a Organização Mundial da Saúde Animal e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.

Referindo-se ao potencial do agro brasileiro, Tereza Cristina disse que o País tem capacidade de expandir a oferta de alimentos de forma sustentável e deverá ser capaz de atender a demanda global produzindo 40% a mais até 2050. “Isso, investindo em produtividade, para produzir mais com menos terra, combinando pesquisa, tecnologia e políticas de incentivo”. Ela chamou a atenção para o sucesso da pesquisa da Embrapa relacionada ao trigo em território cearense: “Com alta tecnologia, superando as lavouras do sul, precisamos estar antenados com as novas tecnologias para vários produtos”, concluiu.

Durante o segundo encontro de adidos agrícolas, foram assinados dois acordos de cooperação entre o Ministério da Agricultura e a Apex-Brasil, voltados ao fortalecimento e unificação da agenda de promoção internacional, a inserção de novas empresas no mercado internacional, atração de investimentos estrangeiros e incentivo ao empreendedorismo.


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