Nucoffee revela cafés especiais produzidos com nova técnica de fermentação
Programa Nucoffee Artisans, feito em parceria com a UFLA, estabeleceu novo tipo de café especial no Brasil
O cultivo do trigo é de extrema importância para a sustentabilidade de pequenas e médias propriedades da região Sul do Brasil. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), na safra de 2019 no estado do Rio Grande do Sul, foram aproximadamente 2.207,7 mil toneladas obtidas, número 17,9% superior à temporada anterior. A produtividade média ficou em 3.000kg/ha, e a área plantada foi de 735,9 mil hectares.
Dentre os fatores que podem atingir o ciclo da cultura do trigo e afetar sua produtividade e qualidade, a giberela encontra-se como uma das principais doenças fúngicas que atacam a cultura na região Sul do País, devido ao patógeno encontrar-se presente na área, bem como a ocorrência de variações nas condições ambientais, principalmente de temperatura (15°C a 25ºC), umidade relativa do ar (acima de 40%) e a frequência de chuvas, o que favorece o desenvolvimento da doença durante a safra de inverno.
Evidenciando alternativas de controle químico da doença de giberela realizou-se um trabalho, a fim de analisar o efeito de diferentes doses e épocas de aplicação de um mesmo fungicida, com base em um programa de controle no período de espigamento e antese, em função do índice de controle da doença de giberela sobre os componentes de rendimento da cultura do trigo e ainda verificar a produtividade obtida em função dos tratamentos realizados.
O trabalho foi realizado em campo experimental no município de Entre-Ijuís (Noroeste do Rio Grande do Sul) na safra de inverno 2019/2019, com a cultivar “TBIO Sossego”, no dia 12 de junho.
O trabalho contou com 40 parcelas divididas entre dez tratamentos, sendo o tratamento 1 a testemunha sem nenhuma aplicação de fungicida e os demais tratamentos com aplicações de um mesmo fungicida (metconazol + piraclostrobina) na dosagem de 0,75L/ha, com aumento de dose no tratamento 10 para 1L/ha. As épocas de aplicações foram: tratamento 2 (aplicação em 5% de espigamento), tratamento 3 (aplicações em 5% de espigamento; 5% de antese e 5% de antese + 15 dias), tratamento 4 (aplicações em 5% de espigamento e 5% de antese), tratamento 5 (aplicações em 5% de antese e 5% de antese + 15 dias), tratamento 6 (aplicações em 5% de antese e 5% de antese + sete dias), tratamento 7 (aplicações em 5% de espigamento + sete dias e 5% de antese), tratamento 8 (aplicações em 5% de espigamento + sete dias; 5% de antese e 5% de antese + sete dias), tratamento 9 (aplicações em 5% de antese; 5% de antese + sete dias e 5% de antese + 15 dias) e tratamento 10 (aplicações em 5% de espigamento; 5% de antese e 5% de antese + 15 dias). As análises de incidência de giberela e de colheita foram realizadas no Laboratório de Fitopatologia da URI Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul.
A chuva acima do normal, que ocorreu na safra de 2019, pode ter sido o fator determinante para a alta intensidade da doença no experimento. Esse fato foi associado com o estádio de antese, que permitiu uma incidência suficiente para discriminar os tratamentos, quanto à eficácia de controle e produtividade.
A giberela no trigo foi detectada primeiramente no tratamento 1 (parcela testemunha sem nenhuma aplicação de fungicida), que apresentou aproximadamente 80% de incidência da doença na cultura, sendo estatisticamente maior que os demais tratamentos (Gráfico 1). Essa porcentagem de giberela mostra que os tratamentos foram expostos a uma quantidade significativa da doença no campo, devido às condições ambientais durante o período de pré-antese, antese e pós-antese, e estiveram favoráveis ao desenvolvimento da doença na lavoura.
A alta incidência da doença também pode estar correlacionada com a cultura no inverno anterior (azevém). Por ser um fungo saprofítico, o mesmo sobrevive em restos culturais de diferentes culturas (Reis et al., 1995). Contudo, Almeida (2006) estudando formas de manejo em plantio direto observou que em anos de epidemia de giberela, o fator preponderante para ocorrer maior incidência da doença foi a condição climática no momento do espigamento das plantas e não a quantidade ou a origem de palhada da cultura antecessora.
A giberela infecta as espigas em condições de alta umidade favorecidas por períodos longos de molhamento, ou seja, superiores a 30 horas (Del Ponte, 2007). Bem como as temperaturas entre 20°C e 30ºC aliadas a este fator favorecem a infecção do fungo (Del Ponte et al., 2004), e isso está em consonância com a precipitação pluvial e a temperatura no período relacionado ao espigamento e à antese no local do experimento realizado nesta pesquisa.
Em estudos de De Luna et al. (2002), os autores concluíram que o aumento de liberação de esporos ocorre durante e até seis dias após a chuva, embora sejam liberados na sua ausência. A chuva dispararia a maturidade final de ascósporos e peritécios antes da liberação. Segundo estudos de Paulitz (1996), chuvas leves temporariamente retiraram os esporos do ar, enquanto que chuva contínua de grande intensidade promoveu o mesmo efeito por um período mais prolongado. Portanto, considera-se o período de chuva durante a antese, um fator altamente contribuinte para a infecção do patógeno.
Durante este estudo, a ocorrência de precipitações três dias anteriores e posteriores aos períodos de aplicação dos tratamentos indica condição de molhamento favorável ao patógeno (Figura 1). Além da condição de molhamento, a temperatura favoreceu a enfermidade.
Nos meses de setembro e outubro as temperaturas médias ficaram em 16,4°C e 20,8°C, mantendo-se em faixas adequadas para o desenvolvimento e, portanto, à ocorrência da epidemia de giberela na cultura, causando instabilidades da safra de trigo. Em setembro, o volume total de precipitação foi de 82,6mm. Já em outubro o volume foi mais elevado, fechando o total de 305,8mm. Em geral, períodos de três dias contínuos de chuva e temperaturas médias acima de 17ºC predispõem a infecção. Esses fatores foram predominantes para a incidência da doença na área avaliada.
Dentre os demais tratamentos observou-se que o T2 (5% antese) e o T5 (5% de antese; 5% de antese + 15 dias) apresentaram ser estatisticamente semelhantes, mostrando-se os piores tratamentos de épocas de aplicação de fungicida do experimento. Apesar de em ambos os tratamentos terem sido efetuadas as aplicações em 5% de antese, no T2 não ocorreu a próxima aplicação e no caso do T5 ocorreu, porém foi tardia, não sendo suficiente para o controle da doença. De acordo com Reis et al. (1996), o melhor controle é observado quando se realiza aplicação de fungicida no momento em que o trigo apresenta maior proporção de espigas com anteras expostas, ou seja, aproximadamente aos oito dias desde o começo do espigamento.
Reis (1988) analisou a desuniformidade da antese do trigo, em que observou que a duração da mesma pode ser de quatro dias em uma espiga, de 12 dias em uma planta e de até 25 dias em uma lavoura. A desuniformidade da floração pode ser um dos motivos do baixo nível de controle obtidos referentes às épocas de aplicações dos fungicidas no campo. Uma eficiência maior talvez possa ser obtida utilizando-se cultivares com floração uniforme.
Quando se compara os resultados obtidos nos tratamentos T4 (5% de espigamento; 5% de antese) e T10 (5% de espigamento; 5% de antese; 5% de antese + 15 dias), observa-se que também apresentaram porcentagens estaticamente semelhantes. Sendo que, em ambos os tratamentos ocorreram aplicações em 5% da antese, porém no T4 houve uma aplicação anterior à antese, no espigamento. Já no T10 não ocorreu essa aplicação e sim uma aplicação posterior, sendo 15 dias após 5% da antese. O fator dose no T10 não contribuiu para o aumento de eficácia.
Ao analisar as condições climáticas do período das aplicações dos tratamentos T4 e T10, verificou-se que foram favoráveis à infecção, podendo ter causado um aumento da densidade de inóculo no ar, principalmente pela frequência de chuvas ocorridas nos quatro dias anteriores à aplicação do tratamento. Devido a isso, a incidência da doença obteve as melhores condições para progressão. Portanto, ambos os tratamentos se mostraram ineficientes estatisticamente para o controle da doença. Não foi responsiva a aplicação anterior à antese (espigamento) nas condições climáticas apresentadas. Da mesma forma que Milus & Parsons (1994) verificaram em seus estudos que os fungicidas quando aplicados antes da antese não têm efeito sobre a doença.
As variáveis dos tratamentos T3 (5% de espigamento; 5% de antese; 5% de antese + 15 dias) e T7 (5% de espigamento + sete dias; 5% de antese) apresentaram os valores de porcentagem de giberela estatisticamente semelhantes. Sendo realizadas aplicações em ambos os tratamentos no período anterior à antese, porém, no T3 a aplicação foi realizada em 5% do espigamento e no T7 a aplicação foi realizada após sete dias do 5% do espigamento. Da mesma forma que os períodos de antese, coincidiram com os períodos de molhamento e condições de temperatura elevadas. Entende-se que estes fatores aliados podem ter favorecido a infecção do patógeno, refletindo em alta incidência e severidade da doença. Sugerindo então o motivo da baixa eficiência de ambos os tratamentos no controle da doença.
Ao comparar os tratamentos T3 (5% de espigamento; 5% de antese; 5% de antese + 15 dias) e T10 (5% de espigamento; 5% de antese; 5% de antese + 15 dias), os momentos de aplicação foram os mesmos, porém no T10 a dose de fungicida utilizada foi de 1L/ha, já no T3 utilizou-se 0,75L/ha de dose do mesmo produto. Contudo, os resultados mostram que o tratamento com dose menor apresentou significativamente uma porcentagem inferior de giberela comparado ao tratamento com dose mais elevada. Com isso, entende-se que não há necessidade de aumento de dose do fungicida sob esse mesmo posicionamento de controle.
Nos tratamentos T6 (5% de antese; 5% de antese + sete dias) e T8 (5% de espigamento + sete dias; 5% de antese; 5% de antese + sete dias) os valores de porcentagem de giberela apresentaram-se estatisticamente semelhantes. Em ambos foi realizada a aplicação em 5% de antese e outra após sete dias, mostrando que a aplicação que foi realizada no T8 anterior a 5% da antese, não se diferenciou estatisticamente do outro tratamento, sendo no caso, então, desnecessária essa aplicação anterior para o controle da doença. Reis (1988) relata que duas aplicações durante a antese poderiam ter melhor efeito. Portanto, nos resultados desta aplicação verificou-se que duas aplicações durante a antese mostraram ser o segundo melhor tratamento do experimento.
O tratamento 10 (5% de espigamento; 5% de antese; 5% de antese + 15 dias) mostrou que mesmo com o aumento de dose do fungicida (1L/ha), não foi possível compensar a falha de posicionamento. Com isso, o momento da aplicação ainda é mais importante que o aumento de dose.
Assim, ao observar as condições meteorológicas, verifica-se que nos dias 17/9/2019 e 2/10/2019 as precipitações coincidiram com as aplicações dos tratamentos, porém as aplicações ocorreram anteriormente à chuva, o que indica que a proteção do fungicida anterior ao período de molhamento mostrou-se conveniente nos tratamentos T6, T8 e T9 (5% de antese; 5% de antese + sete dias; 5% de antese + 15 dias).
As menores incidências de giberela foram detectadas nas espiguetas do tratamento 9 (5% de antese; 5% de antese + sete dias; 5% de antese + 15 dias), com quase 10%, resultando na maior eficácia encontrada. Este foi, estatisticamente, o melhor tratamento do estudo, refletindo também na maior produtividade (Gráfico 2).
Fazendo um paralelo entre aplicação, estádio da planta e clima, foi possível observar que o início da antese ocorreu em ambiente seco (1ª aplicação). Logo após a 2ª aplicação, ocorreram oito dias com chuvas e dias nublados e depois tempo seco novamente, na 3ª aplicação.
Em suma, a análise mostra que a 2ª aplicação, antes do início das chuvas nas anteras, foi fator determinante para impedir o aumento da incidência de giberela. Esta foi a única diferença para o tratamento T5, porém este com quase 30% a menos de controle. Possivelmente, neste tratamento 9, a proteção das espiguetas foi máxima, mostrando que o período ideal de aplicação deve ser estendido, à medida que as anteras são emitidas, especialmente se houver precipitação nesta fase.
Jaíne Iung da Silva, Eduarda Casarin Kronhardt, Eduardo Argenta Steinhaus, Luiz E. Braga e Marcelo Gripa Madalosso, Universidade Regional Integrada, Campus Santo Ângelo – Grupo de Proteção de Plantas
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