Dia de Campo mostra tecnologias para trigo irrigado no Cerrado

Tecnologias em cultivares e manejo da cultura no Brasil Central estiveram entre os destaques do evento

22.09.2017 | 20:59 (UTC -3)
Breno Lobato

Aproximadamente 240  participantes do Dia de Campo sobre Trigo Irrigado realizado em uma propriedade rural localizada no Programa de Assentamento Dirigido do Distrito Federal (PAD-DF), puderam conhecer as principais tecnologias em cultivares e manejo da cultura no Brasil Central. O evento foi promovido pela Embrapa e pela Cooperativa Agropecuário do DF (Coopa-DF).

“Este foi um ano mais frio e conseguimos médias (de produtividade) diferenciadas. Estamos aqui para ver o que a cultura pode oferecer não apenas no grão, mas num ciclo sucessivo de culturas como a soja e o feijão”, disse o presidente da Coopa-DF, Leomar Cenci. O chefe geral da Embrapa Cerrados (Planaltina, DF), Cláudio Karia, ressaltou a importância do trabalho em parceria e a satisfação de levar tecnologias e conhecimento ao setor produtivo. Karia lembrou que a Expedição Safra-Brasília, ação conjunta entre Seagri-DF, Emater-DF e Embrapa, detectou, em 2016, desafios na produção de grãos no DF. “Compilamos os dados e isso resultou num rol de necessidades. Neste ano, estamos desenvolvendo ações para buscar inovações tecnológicas para que possamos enfrentar esses gargalos”, disse.
A importância da Coopa-DF no desenvolvimento do DF foi ressaltada pelo presidente da Emater-DF, José Guilherme Leal. “Vocês estão construindo a história com um evento como este, viabilizando a discussão dos avanços da tecnologia para a região, que tem um papel importantíssimo não só no Distrito Federal, mas para toda a agricultura tropical do Centro-Oeste”, apontou. Leal explicou que em função do que foi levantado pela Expedição Safra-Brasília, as instituições estão procurando tratar dos temas que os produtores apontaram como questões que poderiam ser trabalhadas em termos de avanços tecnológicos.

Cultivares

Na primeira estação técnica, o pesquisador Júlio Albrecht, da Embrapa Cerrados, falou sobre as características das cultivares de trigo BRS 394, BRS 264, BRS 254 e BRS 404, desenvolvidas para o Cerrado. “Os produtores estão optando pelo trigo por ser uma planta supressora de doenças de solo, que quebra o ciclo de pragas. Também deixa uma boa palhada no solo e eles têm observado maiores produtividades na soja e no feijão, sucessoras do trigo”, explicou.
Lançada em 2015, a BRS 394 é uma cultivar de trigo irrigado de classe pão que também tem sido usada na safrinha, em sistema de sequeiro, por produtores que tiveram problemas com cigarrinhas, fusarium e nematoides no milho em sucessão à lavoura de soja. Albrecht destacou a alta produtividade (pelo menos 120 sc/ha no sistema irrigado e expectativa de 60 sc/ha na safrinha), além da precocidade (115 dias), da moderada resistência ao acamamento e resistência à debulha, a maior tolerância à brusone e a excepcional qualidade industrial, com elevada força de glúten e estabilidade e rendimento médio de farinha de 62,5%.
Já a BRS 264 ainda é o material irrigado mais cultivado no Cerrado (80% da área tritícola) por ser altamente produtivo (média de 120 sc/ha) e superprecoce – o ciclo 15 dias mais curto permite economia de água e energia. “Este ano, as melhores lavouras do PAD-DF estão colhendo em torno de 133 sc/ha no irrigado e 60 sc/ha no sequeiro. O material é bastante responsivo às tecnologias (de manejo). Pela precocidade, também consegue ir muito bem na safrinha, principalmente se plantado na primeira quinzena de março”, explicou o pesquisador. Além disso, a cultivar consegue produzir pão mesmo com força de glúten inferior à exigida pelos moinhos e rende 10% a mais de farinha em relação à média de outros materiais.
Apesar de menos produtiva (média de 100 sc/ha) e do ciclo mais tardio que as demais cultivares, a BRS 254, indicada para o sistema irrigado, continua no mercado devido à excelente qualidade industrial, sendo classificada como trigo melhorador. “Este ano ela nos surpreendeu. Produtores obtiveram 115 sc/ha de média devido ao clima favorável e a um ajuste na densidade de sementes”, observou Albrecht, acrescentando que devido às elevadas estabilidade e força de glúten, moinhos do Paraná buscam a cultivar quando há problemas de safra naquela região.
Por fim, a cultivar de trigo sequeiro BRS 404, lançada em 2015, tem sido usada na safrinha, sendo mais tolerante à seca e mais tolerante à brusone que outros materiais de sequeiro. Classificado como trigo pão, tem média de produtividade elevada para o sistema sequeiro (60 sc/ha), forma boa palhada, quebra o ciclo de patógenos como o fusarium e tem elevada força de glúten.

Manejo da cultura
Os pesquisadores Jorge Chagas, da Embrapa Trigo (Passo Fundo, Rio Grande do Sul) e Ângelo Sussel (Embrapa Cerrados) apresentaram, na segunda estação, informações técnicas quanto ao manejo do trigo no Cerrado e ao manejo integrado de doenças da cultura no Cerrado. Chagas falou sobre as vantagens da semeadura em linha em relação à semeadura a lanço; a época de semeadura, a janela de plantio recomendada e materiais para semeadura tardia; recomendações quanto à densidade de semeadura de acordo com a cultivar para evitar o acamamento; de adubação de manutenção e com nitrogênio; instruções sobre a aplicação do regulador de crescimento; e o manejo de irrigação, indicando o uso do software Monitoramento de Irrigação, desenvolvido pela Embrapa Cerrados.
O pesquisador também destacou vantagens do trigo sequeiro BRS 404 e recomendações de manejo específicas para a cultivar. “É uma alternativa para o cultivo tardio da safrinha, no mês de março”, comentou.
Ângelo Sussel lembrou que o manejo integrado de doenças serve para qualquer cultura. Ele apontou os princípios que devem ser observados: a rotação de culturas; a eliminação de plantas com inóculo; a busca por cultivares resistentes disponíveis no mercado; o uso de sementes sadias e certificadas; o tratamento de sementes para prevenir doenças e proteger a planta no período de perfilhamento; a época de plantio, importante para evitar a incidência de brusone; a densidade de semeadura adequada para evitar o acamamento e doenças foliares; a nutrição equilibrada para melhor resposta de defesa a doenças; monitoramento semanal de doenças, desde o plantio até o espigamento; e o manejo de fungicidas, com a rotação de grupos químicos e a aplicação no momento correto.
Ele também citou as principais doenças do trigo no Cerrado (oídio, manchas foliares, ferrugem e brusone), bem como as medidas essenciais para preveni-las. “É importante fazer a rotação do grupo químico e não apenas das moléculas. Se o fungo já for resistente a uma molécula, será resistente a outra do mesmo grupo. Atentem-se para os outros grupos químicos para que não surjam raças diferentes do fungo (na lavoura)”, comentou.

Empresas
A terceira e a quarta estações foram apresentadas por representantes de empresas parceiras da Coopa-DF. João Victor Pagnussatti, da Alltech Crop Science, e Marlon Alves, da FMC, apresentaram os portfólios de produtos das empresas para o manejo de doenças e pragas no trigo e o tratamento de sementes.
O responsável técnico da cooperativa, Cláudio Malinski, salientou a importância do trigo no sistema de produção. Segundo Malinski, lavouras da região este ano devem ter média de produtividade em torno de 7,5 mil kg/ha (125 sc/ha), e o cultivo do trigo na safrinha (final de fevereiro e em março) deve trazer mais benefícios que o sorgo e o milho por ter maior liquidez e qualidade, o que torna a cultura altamente competitiva.
“Podemos nos tornar autossuficientes em trigo com cultivares mais resistentes e produtivas”, afirmou Malinski. “Os materiais devem ter altas produtividades, pois será cada vez mais caro produzir trigo irrigado em função do custo da eletricidade”, completou Deodato Junior, supervisor comercial da empresa Biotrigo.
Otoniel Resende, da Penergetic, apresentou uma trincheira de dois metros de profundidade expondo o perfil de solo repleto de raízes. Ele chamou a atenção para a importância dos componentes biológicos e físicos do solo, uma vez que os atributos químicos já estão dominados. “Temos que repensar a parte química do solo e considerar a atividade dos microrganismos. Existe a necessidade de adubação (química), mas ela deve ser mais racional, buscando critérios de ordem física e biológica para trazer a vida”, disse.

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