Demanda chinesa impulsiona soja brasileira, avalia Grão Direto

Guerra tarifária, clima nos EUA e gargalos logísticos moldam cenário de curto prazo no agro

15.04.2025 | 15:11 (UTC -3)
Ana Paula Cherin, edição Revista Cultivar

A intensificação da guerra tarifária entre Estados Unidos e China impulsionou as exportações brasileiras de soja, que fecharam a semana com alta de mais de 6% nas cotações, acompanhadas pelo milho, que também registrou forte valorização na Bolsa de Chicago. O aumento na demanda chinesa, as condições climáticas adversas nos EUA e os gargalos logísticos nos portos brasileiros são os principais fatores que têm movimentado o mercado e definido o ritmo da comercialização no Brasil. As informações são da Análise do Especialista Grão Direto desta semana. Confira: 

Como o mercado de soja se comportou? 

Guerra tarifária: a intensificação da guerra tarifária redirecionou a demanda global para o Brasil. Isso elevou a competitividade da soja brasileira e impulsionou as cotações em mais de 6% na semana.

Relatório USDA: o relatório de oferta e demanda não trouxe novidades para a produção de soja, mas apontou para um aumento de 0,79% nos estoques finais do grão no Brasil, porém, sem impactos relevantes.

Argentina: a maior esmagadora da Argentina parou suas atividades na última semana sobre rumores de endividamento, enquanto chuvas persistentes atrasaram a colheita do grão.

Em Chicago, o contrato de soja para maio de 2025 encerrou a US$ 10,44 por bushel, com forte alta de 6,86% na semana. O contrato para março de 2026 também avançou, fechando a US$ 10,39 por bushel (+3,38%). O dólar subiu 0,51%, encerrando a semana cotado a R$ 5,87. No mercado físico, a soja acompanhou o cenário externo e teve tendência de alta, com valorização em diversas regiões ao longo da semana.

O que esperar do mercado de soja? 

Demanda chinesa: esta foi a semana com o maior número de navios de soja comprados pela China na história. Até a noite de quinta-feira (horário de Pequim), 52 navios haviam sido fechados — apenas 3 ou 4 originados da Argentina, e o restante, todos do Brasil, referentes à safra atual. Do lado do produtor, muitos estão aproveitando o momento para vender e fazer caixa, diante de juros elevados, crédito restrito e vencimentos próximos. Para quem ainda tem soja disponível, o mercado sinaliza uma janela oportuna de comercialização.

Safra americana: modelos climáticos apontam para a formação de um La Niña, fenômeno que costuma trazer uma primavera mais fria e chuvosa nos EUA, especialmente no Meio-Oeste, região central da produção de milho e soja. Esse cenário pode atrasar o início do plantio e aumentar os riscos para a safra norte-americana, o que já tem refletido em pressão altista nos contratos futuros em Chicago.

Logística: o crescimento nas compras chinesas de soja brasileira, impulsionado pelas tarifas aplicadas por Trump, levanta preocupações sobre a capacidade logística dos portos nacionais. Com cerca de 50 navios negociados na última semana, o sistema portuário, que já operava com 91,30% de sua capacidade (acima do limite seguro de 85%), pode enfrentar estrangulamento operacional. Internamente, a queda do preço do petróleo deve aliviar o custo do transporte rodoviário nas próximas semanas, mas os gargalos portuários seguem como risco relevante para o escoamento.

Após uma semana de forte volatilidade, a tendência para os próximos dias é de um mercado mais estável, com possíveis correções nos preços após os ganhos recentes. Ainda assim, o cenário deve seguir favorável à comercialização, com boas oportunidades para o produtor que busca fechar negócios.

Como o mercado de milho se comportou? 

Relatório USDA: não foram apontadas variações significativas sobre o milho no Brasil, porém, no cenário global, a expectativa de produção foi elevada em quase 1%, as exportações em mais de 2% e os estoques finais recuaram 1,29%..

Tarifas europeias: o mercado reagiu à decisão da União Europeia de impor tarifas de 25% sobre o milho dos EUA a partir de 15 de abril. A medida pode reduzir o fluxo americano para a Europa e favorecer o milho brasileiro nas exportações.

Condições climáticas: após atraso de plantio em algumas regiões diante de chuvas irregulares, previsão de boas condições chuvosas na região do Matopiba foram apontadas pelo Inmet para os próximos dias.

Em Chicago, o milho encerrou a semana cotado a US$ 4,89 por bushel, com forte alta de 6,3%. No Brasil, na B3, o contrato de milho para maio de 2025 também registrou valorização, encerrando a R$ 79,33 por saca (+3,85%). No entanto, no mercado físico, os preços do milho recuaram, contrariando o movimento dos contratos futuros, diante de uma demanda interna ainda enfraquecida.

O que esperar do mercado de milho?

Mercado interno: segundo o Imea, até a primeira semana de abril, cerca de 42% do milho da nova safra já havia sido comercializado, representando um avanço importante em relação ao mesmo período do ano passado. A produção total está estimada em pouco mais de 47 milhões de toneladas, levemente abaixo da safra anterior, com produtividade média estável, porém ainda inferior à da última temporada. Neste ano, o mercado interno se destaca como destino preferencial, impulsionado pela alta demanda das usinas de etanol e preços mais atrativos, reduzindo o interesse dos produtores pela exportação e pela retenção do grão. Isso deixa a cargo do mercado interno definir a direção dos preços.

Condições climáticas: os modelos climáticos apontam uma forte transição para o fenômeno La Niña, o que exige atenção redobrada para o milho safrinha. Até meados de abril, a expectativa ainda é de chuvas razoáveis no Centro-Oeste, mas a partir de maio cresce o risco de redução das precipitações e queda nas temperaturas, principalmente no sul de Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná. Nessas regiões, as lavouras estarão em fase crítica de desenvolvimento, e a falta de água pode comprometer a produtividade.

Com o mercado interno sustentando a demanda, a última semana foi marcada por valorização na bolsa, mas com recuos no mercado físico, que seguiu desaquecido. Para esta semana, a expectativa é de manutenção dessa tendência de ajuste, com o físico ainda sob pressão, refletindo os efeitos da volatilidade da semana anterior.

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