Cultivo superprecoce de feijão contribui para produtividade e resistência a pragas

Pesquisadores e produtores anunciam bons resultados de produtividade da BRS FC 104 desenvolvida pela Embrapa

10.08.2020 | 20:59 (UTC -3)
Embrapa

O cultivo superprecoce de feijão é a mais importante inovação do melhoramento genético dessa cultura no Brasil. Pesquisadores e produtores comprovaram que a prática promove elevado potencial produtivo, baixo custo de cultivo, resistência a doenças, boa qualidade de grãos e bom desempenho nutricional. Dois anos depois do lançamento da primeira variedade superprecoce desenvolvida no País pela Embrapa Arroz e Feijão (GO), a BRS FC104, produtores começam a anunciar bons resultados de produtividade (média de 3.792 kg/ha) em um ciclo de 65 dias, bem menor do que o de 90 dias, necessário ao plantio do feijão convencional.

“A Embrapa acertou com essa cultivar,” comemora o produtor Kenes Pereira, de Santa Helena de Goiás, que utilizou o feijão carioca BRS FC104 e conseguiu colher 50 sacos por hectare, a um custo estimado de R$ 3 mil reais. Levando em conta o bom momento do preço do feijão no mercado no primeiro semestre de 2020, o lucro foi compensador.

Segundo o pesquisador da Embrapa Leonardo Melo, o resultado comprova as expectativas da Empresa, que há quatro décadas investe em pesquisas genéticas para gerar variedades melhoradas de feijoeiro-comum com redução no tempo de cultivo. “Os esforços nessa área resultaram na BRS FC104, em 2018, considerada uma das maiores conquistas do melhoramento genético de feijão no Brasil”, destaca.

Melo acrescenta que a precocidade permite rápido retorno do capital investido e maior flexibilidade no manejo dos sistemas de produção, economia de água e energia elétrica nos sistemas irrigados, além de atenuar problemas com pragas e estresse hídrico pelo planejamento antecipado. “Por isso, é uma característica cada vez mais valorizada no agronegócio do feijão”, pontua.

Destaque da variedade do feijão no mercado

Até o lançamento da BRS FC104, primeira cultivar superprecoce do mercado, todas as cultivares desenvolvidas eram de ciclo precoce ou semiprecoce. A superprecocidade representou um salto quantitativo e qualitativo na gestão da safra de feijão pelos benefícios competitivos que apresenta, como o elevado potencial produtivo (produtividade de 60 kg de grãos, em média, para cada dia de ciclo) e redução de cerca de 30% dos custos com eletricidade e água no cultivo. Possui ainda características que garantem a boa aceitação do mercado, como resistência a doenças, qualidade de grãos e valores nutricionais.

O pesquisador destaca também que devido ao ciclo reduzido, a tendência é que se faça menos pulverizações com defensivos. “No período em que ocorre o pico de ocorrência dos insetos e de doenças, o produtor já terá feito a colheita”, afirma. Esse fator aumenta a qualidade do produto, pois reduz a possibilidade de ocorrência de resíduos químicos, além de diminuir o impacto no meio ambiente.

Outra oportunidade oferecida pela superprecocidade é realizar o plantio em um momento no qual uma cultivar de ciclo normal traria risco de encontrar seca no fim da safra. Um exemplo é o plantio da safrinha no Mato Grosso, onde se utiliza como opção o feijão-caupi, mais tolerante à seca, quando se colhe a cultura de verão a partir do fim de fevereiro. “No caso do feijão superprecoce, em algumas regiões, é possível plantar o feijão comum até 15 de março, porque ele é colhido 30 dias mais cedo. Portanto, o risco de seca é menor”, diz Melo. 

O mesmo ocorre na safra de inverno, na qual não seria possível  prorrogar muito o plantio com uma cultivar de ciclo comum, devido à grande probabilidade de colheita na época da chuva e de desrespeitar o vazio sanitário. A cultivar superprecoce permite plantar até na segunda quinzena de julho, colhendo ainda na época adequada.

Novas variedades de feijão superprecoces a caminho

Os trabalhos estão caminhando para que, nos próximos três anos, seja lançado um feijão preto superprecoce, selecionado dentro do BRS FC104. Durante a pesquisa, ele apresentou uma planta de grãos pretos, que foi selecionada, e os grãos multiplicados. “Foi possível identificar oito linhagens de grãos pretos superprecoces. Agora, em 2020, vamos iniciar um ensaio de Valor de Cultivo de Uso (VCU) para avaliar esta semente em condições diversas, no Brasil inteiro”, revela Melo.

Em 2021, a Embrapa espera lançar uma nova cultivar precoce, a BRS FC310, na qual foi corrigido o problema do grão escuro. “Ela tem grão muito claro, além de potencial para ser a cultivar precoce mais utilizada na agricultura empresarial”, finaliza o pesquisador.

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