UPL inaugura centro de pesquisa e desenvolvimento
A UPL anunciou a abertura de um novo centro de Pesquisa e Desenvolvimento na Carolina do Norte, nos Estados Unidos
Plantas daninhas competem com os cultivos por água, luz e nutrientes, comprometendo a produtividade esperada. Além disso, a ocorrência de plantas daninhas resistentes a herbicidas preocupa produtores e pesquisadores pela limitação das possibilidades de controle. No Brasil já são relatadas mais de 50 espécies prejudiciais ao cultivo da soja, dentre elas a buva (Conyza canadensis, C. bonariensis, C. sumatrensis), o picão-preto (Bidens pilosa) e o caruru (Amaranthus palmeri, A. hybridus, A. retroflexus e A. viridis), com resistência a diferentes modos de ação de herbicidas. Nos EUA o número de casos de plantas daninhas resistentes a herbicidas é ainda maior, com mais de 160 casos até o momento.
Em 2016, visando melhorar o controle de plantas daninhas em soja e algodão, foram lançadas nos Estados Unidos cultivares resistentes ao herbicida dicamba, auxina sintética do grupo do ácido benzoico, especializado em dicotiledôneas de difícil controle. Por se encaixar como uma alternativa no controle de plantas daninhas na cultura da soja e do algodão também no Brasil, espera-se que essa tecnologia tenha expansão de uso por aqui nos próximos anos.
Desenvolvido há mais de 50 anos, o herbicida dicamba já foi muito utilizado no Brasil. Era recomendando para o controle de dicotiledôneas em culturas como cana-de-açúcar e milho em décadas passadas. No entanto, teve seu uso restrito por problemas de alta volatilização e deriva em culturas sensíveis. Hoje, novas formulações apresentam menor volatilidade, mas ainda carecem de cuidados relativos à aplicação, que vão desde o preparo da calda, da aplicação propriamente dita e da limpeza do circuito hidráulico dos pulverizadores após o uso.
No final de 2017, vários relatos de deriva foram notificados nos EUA. Sendo cerca de 2.700 casos relacionados ao herbicida dicamba, afetando mais de 1,4 milhão hectares de área de soja, de acordo com o órgão regulador norte-americano.
A volatilização, a deriva, as contaminações no tanque, a inversão térmica e o mau uso foram as principais suspeitas levantadas por pesquisadores e autoridades do país à época.
Desde então, houve vários estudos relativos à volatilização e à deriva do herbicida, incluindo pesquisas sobre as condições meteorológicas durante a aplicação, o tamanho de gotas e os modelos de pontas de pulverização, as misturas de produtos e a limpeza de tanques e de sistemas de pulverização. Empresas e pesquisadores vêm aprimorando recomendações para práticas de aplicação do herbicida antes da nova adoção em escala expandida.
As aplicações de produtos fitossanitários devem respeitar certas condições meteorológicas. De maneira geral, é recomendado que se evitem aplicações com velocidade de ventos maiores que 10km/h, umidade relativa abaixo de 55% e temperaturas acima de 30°C, para reduzir os riscos de deriva. Porém, nas principais áreas e épocas de cultivo de soja e algodão no Brasil, condições meteorológicas fora das recomendadas são frequentes, exigindo tecnologias que permitam flexibilizar o trabalho para pouco além dos limites gerais.
É importante lembrar que deriva e volatilização são fenômenos diferentes. O termo volatilização indica o movimento da molécula na forma de vapor para fora do alvo. Algumas formulações apresentam maior volatilidade, pois a pressão de vapor do ingrediente ativo é maior. Os herbicidas clomazona, trifluralina e dicamba são conhecidos pela alta volatilidade. O termo deriva, no entanto, refere-se ao movimento das gotas formadas pelas pontas de pulverização para fora do alvo, sendo que quanto menores as gotas, maior é a suscetibilidade à deriva. Embora existam alguns fatores que podem compor o “risco potencial de deriva”, a porcentagem do volume aplicado com gotas menores que 100 micrômetros é um dos índices mais populares internacionalmente utilizados para qualificar a suscetibilidade à deriva.
Sendo assim, os investimentos em melhoria das formulações para a redução da volatilização são muito importantes para aplicações com menor umidade do ar, conforme verificado em diversos estudos.
A concentração de herbicidas auxínicos suspensos no ar diminui quando a umidade relativa é elevada. Pesquisadores norte-americanos observaram redução na concentração de até 5,7 vezes quando a umidade relativa passou de 20% para 50% em um período de dois dias após a aplicação.
O aumento da temperatura no ambiente também influencia a volatilidade de herbicidas auxínicos. Pesquisadores da Universidade do Tennesee verificaram que baixas temperaturas (abaixo de 15°C) praticamente zeraram a volatilidade do dicamba no ar.
A velocidade do vento afeta diretamente o arraste das gotas de pulverização, influenciando o alcance da volatilização do herbicida. Por isso, os limites de vento ficam mais rigorosos para a seleção e utilização do momento e da tecnologia de aplicação, sendo aconselhável não aplicar sob o risco de inversões térmicas ou rajadas de vento durante a pulverização.
Ainda com a ausência de vento, partículas dos herbicidas ficam concentradas e em suspensão no ar e uma rajada de vento ou inversão térmica podem mover essa massa suspensa no ar para uma área sensível ao herbicida, causando sérios prejuízos. Isso reforça a importância do cuidado com as formulações, com preparação das caldas e com as aplicações.
A aplicação de produtos voláteis e que requerem redução da deriva pode ser praticada de maneira mais segura com gotas de pulverização classificadas como extremamente grossas ou ultragrossas. Para um mesmo volume de aplicação, no geral, quando se aumenta o tamanho de gotas, a cobertura será menor. Desta forma, para atingir uma cobertura suficiente para controle do alvo, com segurança, têm sido considerados volumes maiores de 100L/ha para as aplicações dos herbicidas auxínicos.
Nos EUA são exigidos volumes de aplicação de mínimo de 140L/ha. Pesquisadores da Universidade do Arkansas observaram que aplicações de dicamba apresentaram resultados de controle melhores com volumes maiores que 180L/ha. Dados a experiência e os estudos sobre o assunto, é recomendável a adequação operacional para uso de volumes de aplicações que resultem em cobertura de pulverização suficiente para controle das plantas daninhas. Este volume vai depender de fatores como tamanho da gota selecionado, que deve ser, por segurança, pelo menos extremamente grossa; do estágio de desenvolvimento das plantas daninhas e da cultura; das condições meteorológicas; do ajuste do equipamento e do uso de adjuvantes.
A verificação da cobertura dos alvos é de extrema importância, permitindo, antes mesmo das aplicações, conferir eventuais falhas na cobertura necessária e a realização dos ajustes necessários à calibração dos pulverizadores.
Por vezes negligenciadas, as pontas de pulverização são os componentes mais importantes dos pulverizadores, pois são responsáveis pela formação das gotas e a sua distribuição sobre os alvos. Sendo assim, uma vez conhecido o alvo e definido o produto, acertar no modelo de ponta de pulverização e na pressão de trabalho é fundamental para alcançar o objetivo da aplicação. A combinação de modelo de ponta e pressão de trabalho resulta em tamanho e uniformidade de gotas influenciando extremamente na cobertura do alvo e na deriva.
Inúmeros modelos de pontas de pulverização estão disponíveis com grande variação de tamanhos de gotas e finalidades de uso. Lembrando que, dentro da faixa recomendada pelo fabricante da ponta selecionada, quanto menor a pressão, maior o tamanho da gota produzida.
No entanto, além da preocupação com a deriva, a escolha da ponta de pulverização e o tamanho de gota produzido, deve-se atentar para a eficácia de controle do alvo em questão. Estudando a eficácia do dicamba em relação ao tamanho de gota, o pesquisador Thomas Butts da Universidade do Arkansas e colaboradores, observaram que o tamanho de gota de 395 micrômetros de diâmetro mediano volumétrico (DMV) apresentou o melhor controle de plantas daninhas, porém com significativo aumento de deriva. Já para a ponta que produziu um DMV próximo a 620 micrômetros, os pesquisadores observaram controle maior que 90% das plantas daninhas, com expressiva redução de deriva. Conforme dados do Núcleo de Estudo e Desenvolvimento da Tecnologia de Aplicação - NEDTA, da Unesp de Jaboticabal, há diversos modelos de pontas de pulverização no Brasil capazes de produzir gotas de DMV até maiores do que os modelos estudados no Arkansas. Assim, as recomendações brasileiras podem se valer de pontas de pulverização com produção de gotas mais seguras em relação ao tamanho, mais comumente verificadas nos modelos com indução de ar.
As misturas no tanque do pulverizador entre produtos fitossanitários e adjuvantes podem diminuir ou aumentar significativamente o tamanho de gotas produzido e a volatilização.
Nas misturas de produtos no tanque, a adição de adjuvantes pode ser útil conforme o objetivo desejado. Os adjuvantes podem ser classificados segundo a sua função, tais como umectantes, condicionadores de calda (pH, sequestrantes, estabilizadores), redutores de espuma, redutores de evaporação, redutores de deriva, espalhantes, adesivos, penetrantes e ativadores. Na mistura entre herbicidas associados a adjuvantes pode-se ajustar e estabilizar calda quanto à acidez (que interfere na volatilização), ao tamanho e à uniformidade de gotas de pulverização, entre outros efeitos nas características físico-químicas da mistura.
A redução do pH da calda para valor menor que 5 aumenta consideravelmente a volatilidade do dicamba. Produtos como o adjuvante sulfato de amônia e glifosato de sal potássico são exemplos de potenciais redutores de pH e apresentam riscos de aumento da volatilidade quando associados ao dicamba de acordo com pesquisadores da Universidade do Tennessee. Os pesquisadores observaram que a mistura de dicamba com o glifosato aumentou em até nove vezes a presença do herbicida no ar, ocorrendo redução somente sob temperaturas inferiores a 15°C. Recomenda-se, portanto, evitar misturas entre produtos fitossanitários ou com adjuvantes, ou ambos, que possam reduzir o pH de caldas com dicamba, sobretudo em situações de menor umidade relativa e de maior temperatura.
O ideal antes e após a aplicação de produtos fitossanitários é sempre lavar o tanque e o sistema de pulverização, incluindo mangueiras, filtros e pontas de pulverização. Resíduos de produtos e sujeiras acumulados no tanque do pulverizador representam grande risco de intoxicação às culturas a serem pulverizadas. As pulverizações com herbicidas auxínicos por sua vez, requerem cuidados extras.
Por se tratar de um herbicida mimetizador do hormônio vegetal auxina, baixas concentrações desse hormônio podem causar grandes efeitos. Desse modo, resíduos remanescentes no tanque ou em outros pontos do pulverizador que resultem em concentrações muito baixas dos herbicidas auxínicos na calda podem causar graves danos em plantas cultivadas que sejam sensíveis a esses herbicidas. A limpeza correta do tanque, bem como do sistema de pulverização, é uma etapa crucial para evitar danos aos cultivos, em aplicações subsequentes. Diversos estudos compararam a limpeza de tanques e sistemas de pulverização com dicamba utilizando diversos produtos de limpeza e água. O processo de tríplice lavagem do tanque com produtos de limpeza ou apenas com água foi o suficiente para remover as quantidades de dicamba que possam causar danos em aplicações seguintes. É importante realizar, portanto, as lavagens do tanque com água ou outro produto com no mínimo 10% da capacidade do tanque por três vezes, para segurança de um cultivo sensível em aplicações posteriores à aplicação de um herbicida auxínico.
Os problemas de volatilização e deriva com herbicidas auxínicos nos EUA evidenciaram a importância do correto uso da tecnologia de aplicação. Hoje, o Brasil tem a oportunidade de evitar, antes mesmo do lançamento das novas cultivares, os problemas observados nos EUA. Pesquisadores e empresas têm trabalhado para isso.
As indicações deste artigo destacam a redução dos riscos e os benefícios que a adoção de boas práticas agrícolas trazem. Difundir o conhecimento sobre a tecnologia de aplicação é passo fundamental para responder questões básicas do tratamento fitossanitário: quando e como aplicar?; qual a quantidade necessária de produto para promover o controle do alvo?; e como minimizar os riscos de contaminação? Com este foco, maiores serão as chances de atingir o alvo e obter resultados seguros e econômicos no tratamento realizado.
Pedro Henrique Urach Ferreira e Marcelo da Costa Ferreira, NEDTA/FCAV/Unesp - Jaboticabal
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