Criador de Canchim de Grajaú/MA, utiliza homeopatia e práticas de bem-estar animal

05.02.2010 | 21:59 (UTC -3)

O freqüente vai e vem ao curral para vermifugações e borrifações, comum na maioria das propriedades pecuárias, é uma prática abolida há mais de dez anos na fazenda Ipê Amarelo, localizada em Grajaú/MA.

Insatisfeito com os prejuízos trazidos pelo estresse animal dessa intensa movimentação, que judia especialmente da vacada parida com bezerros bem novos ao pé, o engenheiro Léo Maniero Filho partiu em busca de um manejo alternativo para o seu plantel. E descobriu que com a homeopatia é possível controlar verminoses, carrapatos e mosca-dos-chifres praticamente sem tirar o gado do pasto. Afinal, os fatores homeopáticos são oferecidos no cocho, junto com o sal mineral. E mais: que esses medicamentos não deixam resíduos, evitando assim intoxicações e contaminação do meio ambiente, como acontece com o tratamento convencional. "Estamos obtendo bons resultados com o uso desses medicamentos", diz Maniero.

Segundo ele, há um controle eficiente das verminoses. Nos três primeiros anos da adoção do manejo homeopático, as análises das fezes dos animais ao microscópio, realizadas semestralmente em lotes estatísticos ao longo de toda a fazenda, indicavam média de 400 OPG. A taxa é considerada dentro da normalidade, já que o propósito da homeopatia não é extinguir as populações de vermes, mas mantê-las em níveis que não se traduzam em prejuízo econômico. "Atualmente não temos feito mais análises de controle, mas a boiada continua com o pelo liso e com desempenhos médios esperados", diz o pecuarista. Hoje, os lotes que chegam à Ipê Amarelo são vermifugados na entrada, apenas uma vez, e a partir de então passam a receber tratamento homeopático.

Também foi excluída do manejo sanitário a chamada vermifugação estratégica. O procedimento, que consiste em vermifugar o plantel por três ou quatro vezes durante os meses secos do ano, de modo que os pastos estejam praticamente isentos de ovos de vermes já no início da estação chuvosa, prevenindo assim a reinfestação do rebanho, mostrou-se ineficiente na propriedade.

A homeopatia mostra eficácia também sobre o controle das infestações por carrapato, que se não forem devidamente combatidas se tornam progressivamente mais agressivas. As rezes apresentam o micuim e, ao mesmo tempo, formas mais adultas - essas últimas já em pleno processo de mumificação. "Em todos esses anos, raramente foi necessário tratar alopaticamente algum lote infestado", explica o proprietário. Recentemente, uma pesquisa do Instituto Agronômico do Paraná, o IAPAR, mostrou redução de 50% na quantidade de carrapatos nos bovinos com o uso de um fator homeopático. No entanto, as mosca-dos-chifres ainda não são controladas satisfatoriamente. Aparentemente há um controle sobre a mosca. No entanto, em épocas em que há grande infestação, é freqüente a necessidade de intervenções alopáticas.

Quando o tratamento homeopático foi implantado na fazenda, os cálculos mostraram que era pouco significativa a economia direta proporcionada por este tratamento em relação às terapias convencionais. Embora o pecuarista não tenha atualizado as contas, ele acredita que essa diferença tenha se ampliado. É que o custo da aquisição dos fatores homeopáticos variou muito pouco durante esses anos, o que provavelmente não aconteceu com as medicações alopáticas. Seja como for, há um ganho, mesmo que indireto, que é a redução das idas dos animais ao curral. Como ele explica, reduzir a movimentação do gado na fazenda é importantíssimo para garantir o melhor desempenho animal. Além de manejo e nutrição adequados, o boi precisa de tranqüilidade para pastar. Por isso o movimento de pessoas e de equipamentos na área deve ser o menor possível. O melhor, também, é que seja sempre o mesmo vaqueiro a visitá-lo todos os dias. A agitação é prejudicial também em torno dos pastos das fêmeas. Quanto mais tranqüilas, melhor vão criar. "O bovino é francamente suscetível a estresses de toda natureza. Cabe ao fazendeiro entender isso e criar condições para que a genética na qual ele investiu possa ser exercida em toda a sua potencialidade", diz Maniero. "Ou seja, evitar que os animais sejam conduzidos ao curral duas ou três vezes ao mês, em manejos que invariavelmente demandam meio dia de trabalho devido às distâncias envolvidas, acaba por ter um peso econômico significativo".

Outro diferencial na Ipê Amarelo é um conjunto de ações em prol do bem estar animal. O manejo de matrizes é diferenciado, com a separação das fêmeas que vão à monta e cuidados nutricionais específicos. Novilhas e primíparas recebem mineralização específica porque, além de estarem com sua carcaça ainda em desenvolvimento, têm que aleitar o bezerro que tem ao pé e formar a outra cria que leva no ventre. Como a demanda nutricional é muito intensa, o desempenho dessa cria tende a ser bem inferior se a mineralização não for adequada. Outra razão é a questão da dominância. Novilha tem medo de ir ao cocho de minerais em companhia da vaca multípara porque sabe que vai ser chifrada. Por isso, ao esperar que esta se afaste, se estressa e tem seu desempenho reduzido.

O sistema de desmama adotado é o racional, também conhecido como desmama sem estresse. Ao ser separada de sua mãe, no curral, a cria é mantida na companhia de outras vacas paridas, as tias ou madrinhas, com as quais já convivia no pasto. Isso para que não se sinta tão desprotegido. Mãe e filho serão colocados em pastos vizinhos, separados por uma cerca de arame liso. O bezerro pode até mamar através da cerca, mas essa barreira física permite o desmame completo num prazo máximo de 15 dias. Maniero conta que, quando o sistema foi implantado, foram pesados alguns lotes no dia da separação e 15 dias depois. O objetivo era que os vaqueiros se conscientizassem de que o trabalho adicional proporciona ganho de peso, e não perda, como usualmente ocorre na desmama.

Outro cuidado com as crias nesse período é a administração, via oral, de uma dose única de solução de sulfato de zinco heptahidratado. Segundo pesquisadores da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), os bezerros desmamados são predispostos a uma deficiência de zinco, que reduz o apetite e os torna mais susceptíveis a doenças. Estudos da instituição mostram que os animais que receberam o mineral apresentam um ganho de peso 14% maior aos 120 dias pós-desmama.

Há ainda outras medidas para a redução do estresse animal, como a substituição do ferrão pontiagudo, muito usado nas fazendas da região, por uma varinha sem ponta, que não fere o gado, e o fim da gritaria com o rebanho durante o manejo. É claro que isso depende da conscientização da equipe, mas aqui na fazenda todos estão comprometidos. Tanto que essa nova maneira de lidar com o rebanho é logo seguida pelos novos vaqueiros. Segundo Maniero, de todos os novos conceitos de manejo, o mais difícil de ser implementado é a eliminação dos cães da fazenda. "Boi não tolera cachorro. Então, para não entristecer os filhos dos vaqueiros, seus animais de estimação foram mantidos na propriedade, mas longe do manejo do gado. Em contrapartida, não serão permitidos novos cães", diz.

A Ipê Amarelo iniciou suas atividades de cria há cerca de 5 anos. Atualmente tem um rebanho de matrizes com aproximadamente 3000 cabeças, mas há previsão de ampliação para 4000 vacas. O destaque fica por conta dos 322 animais Canchim puros de origem, entre eles 83 touros usados na produção de tourinhos Canchim que cobrirão a campo a vacada comercial da fazenda. A raça, caracterizada pela rusticidade e precocidade, foi criada pela Embrapa na década de 40. É composta por 5/8 de sangue Charolês, de origem européia, e 3/8 de sangue zebuíno. Seus reprodutores produzem bezerros que poderão ser abatidos em média 15% mais pesados do que os da raça Nelore criados no mesmo sistema de produção.

Sabendo de tudo isso, há mais de 20 anos o pecuarista começou a formar seu plantel de Canchim. "O padrão de desempenho desse gado é extremamente favorável, o que pode ser comprovado pela qualidade das carcaças, pela precocidade das boiadas terminadas em sua pastagem e pelo nível dos bezerros ali produzidos. Para se ter uma ideia, a cabeceira da boiada feita no inverno é desmamada com mais de 250 kg e termina acima de 20 arrobas aos 30, 32 meses. A de fundo, no mesmo prazo, com 18@. "O meio sangue Canchim termina seis meses mais cedo que o puro nelore, para o mesmo peso", diz ele. Esses resultados, diga-se de passagem, são obtidos exclusivamente a pasto, com sais proteinados de baixo consumo, além do creep feeding na cria, numa região marcada pelo clima tropical quente e semi-úmido, com chuvas no inverno e verão seco. As temperaturas por ali são muito altas e a estiagem dura sete meses.

Cida de Oliveira

Associação Brasileira de Criadores de Canchim (ABCCAN)

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