Onda de frio tardia pode trazer impactos para a agricultura
Pesquisadores da Epamig avaliam efeitos em plantios no Sul de Minas Gerais
Nos últimos quatro anos o Cerrado do Oeste da Bahia vem registrando infestações elevadas de tripes nas culturas da soja e do algodão, sendo a espécie Frankliniella schultzei Trybom (Thysanoptera: Thripidae) a mais abundante em coletas realizadas na região pela empresa Corteva Agriscience e por consultorias agronômicas.
A infestação do inseto na soja tem início nos primeiros estádios vegetativos da planta (V2 e V3), estendendo-se durante o período de florescimento-frutificação, e sendo encontrado em folíolos, flores e vagens novas. Nos folíolos o inseto produz estrias e causa prateamento na face inferior, aparentemente sem comprometer o desenvolvimento da folha ou causar desfolha. Nas flores são encontradas populações elevadas do inseto, com alguns produtores associando esta presença a uma maior quantidade de flores abortadas e menor número de vagens nas plantas, especialmente no ponteiro (cachopas), o que precisa ser estudado. Até o momento não houve relato de lavouras com plantas apresentando os sintomas característicos da queima-do-broto da soja (Vobs), uma doença viral com ocorrência no Brasil cujos agentes transmissores são tripes do gênero Frankliniella (Almeida & Corso, 1990; Almeida et al., 1995). De modo geral os produtores não realizam o controle do inseto na soja, porém alguns estão realizando pulverizações de inseticida no florescimento para reduzir as infestações nas flores.
Os danos causados por tripes no algodoeiro vêm aumentando anualmente. Na safra 2016/17 o ataque ocorreu nas flores, durante a fase de florescimento pleno da cultura. Já nas safras 2017/18 e 2018/19 a infestação se iniciou logo após a emergência das plantas, causando danos severos nas folhas do ponteiro (má-formação, lesões necróticas, prateamento da face inferior, rasgadura do limbo e encarquilhamento) e paralisia de crescimento da planta. Na fase reprodutiva foram observadas infestações elevadas nas flores, raspagens em botões-florais e maçãs novas, além da suspeita de estar associada ao aumento no abortamento de botões florais e capulhos com abertura parcial. Os cultivos irrigados, semeados em janeiro/fevereiro, foram os mais infestados, em consequência da intensa migração de tripes vindos dos cultivos adjacentes, em especial dos talhões de soja cujas populações de tripes não são manejadas. Assim como na soja, não houve evidência de transmissão de viroses no algodoeiro. Todas as principais cultivares de algodão apresentaram infestações elevadas da praga.
O controle de tripes no algodoeiro mostra-se difícil e oneroso, com rápida recomposição da população da praga após as pulverizações foliares e a intensa migração do inseto vindo da soja. Em muitas áreas foram realizadas até oito pulverizações foliares específicas para o controle de tripes, encarecendo o custo de produção. Estudos realizados pelo Laboratório de Entomologia Agrícola da Universidade do Estado da Bahia (Barreiras/BA), em parceria com a empresa Círculo Verde Assessoria Agronômica e Pesquisa (Luís Eduardo Magalhães/BA), nas safras 2018/19 e 2019/20, obtiveram bons resultados de controle da praga no algodoeiro, cultivado em estufa e campo, utilizando-se inseticidas neonicotinoides no tratamento de sementes (imidacloprido e tiametoxam) e produtos em aplicação foliar pertencente a diversos grupos químicos como tiametoxam, tiacloprido, acetamiprido, imidaclorpido, espinetoram, carbosulfano, profenofós, acefato, imidacloprido + beta-ciflutrina e acetamiprido + bifentrina. Além do controle de ninfas houve redução nos danos (lesões) e no encarquilhamento das folhas do ponteiro. Os estudos também apontam para a necessidade de se monitorar as infestações do inseto a partir das folhas cotiledonares. Em situação de alta infestação da praga é aconselhado iniciar as pulverizações antes do surgimento das primeiras folhas verdadeiras, em complemento ao tratamento de sementes, além de reduzir o intervalo entre as aplicações foliares na fase inicial do algodoeiro como medida para evitar danos severos no ponteiro e o consequente atraso no desenvolvimento da planta.
Marco Antonio Tamai, Universidade do Estado da Bahia; Geraldo F. Pereira, Equipe Consultoria; Mônica Cagnin Martins, Círculo Verde Assessoria Agronômica e Pesquisa
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura