Como utilizar de forma eficiente os fertilizantes em solos argilosos
Pesquisador da Fundação MT esclarece como o produtor pode melhorar a performance da adubação nas regiões com esse perfil de áreas
06.04.2022 | 08:24 (UTC -3)
Kassiana Bonissoni
Muitos desafios moldam o cultivo em qualquer lugar do planeta hoje. No Brasil, isso é ainda mais acentuado pelo status que o País alcançou nos últimos anos como um dos principais fornecedores de alimentos do mundo. Para isso, eficiência é uma palavra primordial em várias etapas da agricultura. Como é o caso da utilização dos nutrientes em solos argilosos, que demandam atenção e cuidado para alcançar os melhores resultados.
O pesquisador da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso, Fundação MT, engenheiro agrônomo e mestre em Ciência do Solo, Felipe Bertol, relata que, atualmente, solos argilosos são as principais áreas que podem ter redução de adubação de forma segura. Essa que é uma das práticas adotadas frente à instabilidade e aumento de preços dos produtos. “Será possível nestas áreas cultivadas há um bom tempo, com sucessivas adubações, com acidez corrigida, bons históricos produtivos e níveis dos principais nutrientes (principalmente fósforo e potássio) retirar montantes de fertilizantes para realocação em áreas mais críticas e frágeis, onde é visível a dependência da adubação mineral”, aponta.
O que são solos argilosos
Para entender, é preciso saber primeiro o que são esses solos. Segundo o triângulo textural mencionado pela Embrapa, é um esquema utilizado para classificação da textura do solo; argilosos são aqueles que possuem em sua análise teor de argila entre 36 e 60%. De modo geral, sem influência da agricultura, são aqueles com alta capacidade de retenção de água e nutrientes, bons teores de matéria orgânica e resistência à mudança de pH. “Quando derivado de argilominerais não expansivos, os solos argilosos são fisicamente muito bons para a agricultura, visto que possuem bom suporte ao tráfego de máquinas e estão localizados em áreas planas a onduladas. Contudo, quando realizada a abertura de áreas há a necessidade de uma correção química, em razão da elevada acidez e a baixa disponibilidade de nutrientes, principalmente o fósforo”, explica o pesquisador.
Por outro lado, após um investimento inicial e sucessivos anos de cultivo e aporte de nutrientes, estes solos são mais resilientes do que os arenosos, suportando por mais tempo estratégias de redução de adubação.
Como ser mais eficiente
Os principais critérios para a recomendação de uma adubação consideram a dinâmica do nutriente no solo, quantidade disponível dele e a expectativa de produtividade. Como ferramentas adicionais de ajuste de doses, Bertol aponta: a experiência do agricultor, conhecimento e caracterização das áreas, dinâmica das diferentes culturas do sistema produtivo, além dos históricos de adubações e produtividades.
“Os solos argilosos são caracterizados por possuírem maior quantidade de sítios de trocas de cargas, consequentemente, têm maior retenção de nutrientes. Isto impacta diretamente na disponibilidade de nutrientes imóveis, como é o caso do fósforo e do potássio”, explica o pesquisador. A definição de disponibilidade e consequentemente probabilidade de resposta do fósforo está condicionada à textura do solo, ou seja, um mesmo valor na análise pode significar níveis de disponibilidade diferentes de acordo com a textura.
“Por exemplo, o valor de fósforo de 7 mg/dm³ em uma análise é classificado como BAIXO em solos com menos de 35% de argila (arenoso a misto), MÉDIO naqueles com 36 a 60% de argila (argiloso) e MUITO ALTO nos solos com mais de 60% de argila (muito argiloso)”, detalha Bertol. Assim, em solos argilosos (36-60% de argila), a probabilidade de resposta à adubação nesta situação é menor do que nos de textura média-arenosa (menor 35%).
Já para o potássio, o principal critério é a capacidade de troca de cátions (CTC); o nitrogênio em alguns manuais, a matéria orgânica do solo; e o enxofre e micronutrientes, as quantidades interpretadas na análise. “Um ponto de partida para conhecimento das interpretações e critérios para definição de dose dos nutrientes, podem ser acessados nos manuais, mas é importante frisar que são ferramentas que auxiliam na tomada de decisão e devem ser adaptadas conforme as situações”, frisa o especialista da Fundação MT.
Repor para ganhar
Se bem e corretamente feita a reposição dos nutrientes exportados pela produtividade de grãos nos solos argilosos, desde que não haja um fator limitante, o único ganho mensurável ao agricultor será o financeiro. “A estratégia parte do princípio que mantemos os níveis dos nutrientes em patamares em que a resposta da adubação não é significativa. Desta forma, adubar mais não fará diferença, aumentando o custo e estocando este nutriente no solo”, relata Bertol.
A estocagem de nutrientes como fósforo e potássio no solo não necessariamente é ruim, visto que eles podem ser utilizados em momentos de crise, como o atual. Mas, o pesquisador diz que é importante ponderar que não haja perdas por escoamento superficial e demais processos erosivos. “Ou seja, no fim das contas, fazer a adubação de reposição é somente manter o que já foi construído”, salienta.
Pesquisas em andamento
Os protocolos da Fundação MT têm objetivos diversos no âmbito de Solos e Sistema de Produção, sendo os principais focos os sistemas de produção e rotação de culturas, manejo da adubação, tecnologias de fertilizantes e manejo de corretivos de acidez do solo. O mais antigo é o de Rotação de Culturas na Soja, ou mais conhecido como RCS, e tem 14 anos de condução no Centro de Aprendizagem e Difusão (CAD) – Sul, em Itiquira-MT. “Temos também áreas com 11 anos de esgotamento (sem aplicação de qualquer fertilizante) e os históricos muito bem documentados. Também, há respostas em doses e modos de aplicação de fósforo em protocolo de 12 anos. Estes estão inseridos no cenário do sul do estado de MT que é predominantemente sistema soja/milho”, detalha Bertol.
Já no CAD-Médio Norte, em Nova Mutum, a instituição desenvolve o protocolo Manejo da Adubação do Sistema Soja/Milho Safrinha, em que são testadas doses de fósforo e potássio aplicados na soja e três níveis de adubação no milho. Sua instalação aconteceu na safra 2013/2014. E contemplando o sistema produtivo soja/algodão, no CAD-Oeste, em Sapezal, estão instalados experimentos com doses e épocas de aplicação de potássio em um período de seis anos.
Tema do Encontro Técnico Soja
Este assunto será um dos temas em destaque durante o XXII Encontro Técnico Soja da Fundação MT, este mês, de 26 a 29, no Hotel Gran Odara, em Cuiabá. Na ocasião, os pesquisadores abordarão alguns critérios para utilização eficiente dos nutrientes em solos argilosos. “Esse assunto tentará contemplar o comportamento destes solos a longo prazo na ausência total de adubação, assim como os principais pilares para uma redução segura da adubação: histórico de produtividades e de adubações, e análise de solo”, finaliza Bertol.
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