Como manejar a rizoctoniose em batateira

Focar no manejo preventivo é o melhor caminho para lidar com este problema

12.11.2020 | 20:59 (UTC -3)
Cultivar Hortaliças e Frutas

A batateira é acometida por diversas doenças causadas por diferentes fitopatógenos, sendo aquelas causadas por patógenos de solo as de maior importância na cultura e mais difíceis de serem manejadas. Essas doenças de solo podem ser limitantes e causar sérios prejuízos à cadeia produtiva, afetando de forma significativa a germinação, a emergência e o desenvolvimento vegetativo da cultura, consequentemente reduzindo a produtividade e a qualidade dos tubérculos colhidos. As doenças da batata são responsáveis por elevadas perdas na produção e podem ser causadas por fungos, oomicetos, bactérias, vírus e nematoides. Entre as doenças destaca-se, pelos danos que causa na produção, a rizoctoniose ou cancro de Rhizoctonia.

A rizoctoniose é causada pelo fungo Rhizoctonia solani e ocorre com frequência nas principais regiões produtoras de batata. Sua incidência e severidade podem ser favorecidas em regiões que apresentam as principais condições para o desenvolvimento da doença, como a presença de solo úmido e frio, solos mal drenados, com temperaturas que podem variar de 18°C a 25ºC, solos muito cultivados onde não se pratica a rotação de culturas com as espécies não hospedeiras do patógeno, acúmulo de matéria orgânica não decomposta e solos com cultivo intensificado com a cultura da batata ou outros hospedeiros do patógeno.

Tubérculo de batata (Solanum tuberosum L.) com presença de crosta negra
Tubérculo de batata (Solanum tuberosum L.) com presença de crosta negra

Agente causal da doença

A doença é causada por R. solani, que na sua forma perfeita corresponde ao basidiomiceto Thanatephorus cucumeris (Frank) Donk. Essa fase perfeita ocorre no fim do ciclo da batateira, formando uma trama de micélio branco-acinzentado nas hastes próximas ao solo. Este fungo pode ser classificado e caracterizado em diferentes subgrupos em função da capacidade de fusão de suas hifas (Grupos de Anastomose - GA). A rizoctoniose da batata é causada principalmente pelos grupos de anastomose 3 e 4 (GA-3 e GA-4), podendo causar podridão de sementes, tombamento de pré e de pós-emergência e, em algumas situações, podridão de raízes em culturas, como feijão (Phaseolus vulgaris), amendoim (Arachis hypogaea), tomate (Solanum lycopersicum), melão (Cucumis melo), melancia (Citrullus lanatus) e pimentão (Capsicum annuum Group).

O fungo Rhizoctonia solani possui a capacidade de sobrevivência por vários anos no solo sob a forma de escleródio, ou na forma de micélio, em restos culturais que estão presentes na área. Sua disseminação a longas distâncias ocorre principalmente através de batata-semente infectada pelo patógeno e máquinas agrícolas com restos de solo. A disseminação a curtas distâncias é ocasionada pela água utilizada na irrigação, por ferramentas e implementos agrícolas. A infecção por R. solani ocorre comumente a partir do solo, atingindo principalmente brotos e tubérculos. A fase de maior índice de suscetibilidade da doença ocorre na etapa do plantio até a fase de amontoa, equivalendo ao período de 25 dias a 40 dias após a semeadura. O ataque desse patógeno pode ser facilitado pelo tempo de emergência das brotações novas, pois o aumento desse tempo delonga a exposição de tecidos suscetíveis ao ataque desse patógeno.

Tubérculos de batata (Solanum tuberosum L.) apresentando malformação e rachaduras devido ao ataque da Rhizoctonia solani
Tubérculos de batata (Solanum tuberosum L.) apresentando malformação e rachaduras devido ao ataque da Rhizoctonia solani

Sintomas

Em muitas situações que apresentam a presença de R. solani no campo, é necessária uma confirmação laboratorial, onde, com auxílio de microscopia, as estruturas do patógeno podem ser visualizadas. Os sintomas mais comuns são retardamento da emergência, presença de lesões castanho-avermelhadas em hastes jovens, enrolamento de folhas, pigmentação púrpura nas folhas, emissão de tubérculos aéreos, tubérculos deformados e pequenos. Esses sintomas podem ser confundidos com os apresentados por outras doenças, dificultando a diagnose. O fungo R. solani pode atacar em qualquer órgão da planta de batata, incluindo a parte aérea, e ocorre principalmente em condições de alta umidade do ar. Ressalta-se que a infecção é mais severa em órgãos localizados próximos ao solo e órgãos subterrâneos, como brotos e tubérculos. Quando ocorre infecção das brotações, pode causar o retardamento da emergência devido à morte dos brotos e até mesmo a morte das plantas, levando a um menor estande, desenvolvimento irregular das plantas e resultando em redução da produção.

Os brotos infectados também podem emergir e posteriormente apresentar cancros que irão comprometer o seu desenvolvimento, podendo ocasionar a morte desses brotos. A consecutiva emissão das novas brotações para balancear as mortas estimula o esgotamento de reservas dos tubérculos, levando à sua destruição e comprometendo a densidade de plantas de batata no campo. O fungo também pode atacar a planta já com seu desenvolvimento completo, causando cancros nos estolões e na base das ramas.

Ataques intensificados no tubérculo resultam na presença de uma crosta preta superficial aderida à casca, formada por escleródios de R. solani, que possuem coloração escura e formato variando de 1mm a 5mm de diâmetro. Normalmente não são eliminadas, mesmo após a lavagem dos tubérculos.

Os tubérculos infectados podem, ainda, apresentar sintomas de rachaduras, malformação e necrose.

Existem também os sintomas reflexos da doença, como o enrolamento de folhas e clorose, mais severos na parte apical da planta, sendo comumente confundidos com os sintomas do vírus do enrolamento das folhas (PLRV). Em alguns casos pode ocorrer a pigmentação de cor púrpura nas folhas devido ao acúmulo de antocianina, enfezamento geral da planta e produção de tubérculos aéreos.

O fungo R. solani pode atacar em qualquer órgão de batata
O fungo R. solani pode atacar em qualquer órgão de batata

Manejo integrado

Aconselha-se a realização do manejo de forma preventiva para obter o controle dessa doença, pois R. solani é um patógeno de solo e não existem variedades de batata resistentes ao seu ataque. Recomenda-se evitar o plantio em áreas com histórico recente da doença. Levando em consideração que o fungo sobrevive no solo após a safra e que possui a capacidade de atacar outros cultivos, o preparo do solo deve ser realizado com antecedência para que ocorra a decomposição da matéria orgânica, tendendo a uma degradação mais rápida dos restos culturais que podem conter o fungo. Devido à capacidade de disseminar o fungo através dos tubérculos doentes, recomenda-se a utilização de batata-semente sadia e tratada, evitando a disseminação do patógeno para novas áreas. Outra prática de grande importância para o controle é a rotação de culturas com soja, para evitar o acúmulo de biótipos patogênicos à batateira.

Deve-se evitar o plantio em solos argilosos ou excessivamente úmidos, e realizar o plantio da batata-semente de forma rasa, entre 5cm e 7cm, para favorecer a rápida germinação e emergência das plantas. A incorporação de adubos verdes pode ser uma alternativa, pois o aumento da matéria orgânica estimula o desenvolvimento de uma microflora benéfica que, ao competir por alimentos, pode diminuir a população do patógeno presente no solo.

Outro método de controle que vem sendo bastante utilizado é o controle biológico, em que o tratamento pode ser feito a partir de aplicações de formulações do fungo Trichoderma sp. em batata-semente ou no sulco do plantio. Esse manejo deve ser aplicado com outras práticas de controle para obter melhores resultados. Recomenda-se a eliminação e a destruição de restos culturais, tubérculos que apresentam sintomas ou sinais do patógeno, plantas daninhas, tubérculos remanescentes da última colheita e possíveis hospedeiros alternativos.

Devem-se realizar a sanitização e a desinfestação de todos os implementos (tratores, ferramentas, botas, tesouras, enxadas etc.) antes de executar os tratos culturais na área e evitar a utilização desses implementos que foram empregados em áreas infestadas. Realizar o manejo adequado da irrigação na área, para evitar o acúmulo de umidade no solo e consequentemente promover o ambiente propício para o fungo. Recomenda-se a realização da amontoa quando o caule estiver mais rígido, com cuidado para evitar causar ferimentos às hastes durante a realização de amontoa, como também nos tratos culturais.

O controle químico é realizado a partir da utilização de fungicidas. De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) existem 25 fungicidas registrados para o controle da doença. O produto deve ser aplicado conforme a recomendação do fabricante quanto a dose, volume momento de aplicação, intervalo, uso de equipamentos de proteção individual (EPI), armazenamento e descarte de embalagens. Porém, o controle químico desta doença nem sempre é viável tecnicamente e economicamente, em função das estruturas do patógenos se encontrarem protegidas no interior do solo. O uso de produtos para controle do patógeno irá depender das recomendações de um profissional capacitado. 

Francisca Hortência Couras Dias e Luciana Cordeiro do Nascimento, Universidade Federal da Paraíba

Cultivar Hortaliças e Frutas Outubro 2020

A cada nova edição, a Cultivar Hortaliças e Frutas divulga uma série de conteúdos técnicos produzidos por pesquisadores renomados de todo o Brasil, que abordam as principais dificuldades e desafios encontrados no campo pelos produtores rurais. Através de pesquisas focadas no controle das principais pragas e doenças do cultivo de hortaliças e frutas, a Revista auxilia o agricultor na busca por soluções de manejo que incrementem sua rentabilidade. 

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