Comercialização do trigo preocupa produtores no início da colheita

Safra gaúcha 2016 apresenta bom potencial depois de enfrentar dois anos de frustração devido ao clima

10.10.2016 | 20:59 (UTC -3)
Rejane Costa

A colheita da safra 2016 do trigo gaúcho inicia nesta segunda-feira, 10 de outubro, com uma grande apreensão entre os produtores. O motivo é o excesso do cereal no mercado mundial, proveniente principalmente de países tradicionais em exportação de trigo como a Argentina, que deve colher 14 milhões de toneladas. O Rio Grande do Sul deve colher cerca de 2,2 milhões de toneladas, segundo projeções da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Depois de enfrentar frustração de safra em 2014 e 2015, o Estado deve registrar neste ano uma produção normal, sem grandes volumes, já que a falta de chuva durante o inverno em algumas regiões pode ter reduzido a produtividade, mas não comprometeu a qualidade do trigo.

Segundo o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS), Paulo Pires, existe um bom potencial para o trigo e a expectativa é de um excedente entre 1,2 milhão e 1,5 milhão de toneladas. “É um volume bem considerável para ser exportado a outros Estados, principalmente do Norte e Nordeste, ou mesmo outros países. Vale ressaltar que o Rio Grande do Sul tem uma característica única em termos de Brasil ao ser autossuficiente em trigo, enquanto o país consome o dobro do que produz e precisa importar”, explica.

Pires destaca que apesar do trigo ser uma cultura tão importante, com boa produtividade e tendo como ponto forte a qualidade, segundo atestam as áreas técnicas das cooperativas, já existe mesmo antes de começar a safra, uma dificuldade de vender o produto. Conforme o dirigente, o que preocupa é a fluidez do mercado e hoje uma cooperativa não pode se dar ao luxo de comprar por um preço e depois o valor cair. "Por isso acredito que as cooperativas terão cautela e irão comercializar dentro do quadro que podem. Muitas estão com um preço que não reflete, por exemplo, a normalidade de uma comercialização e a tendência é de baixa”, explica.

A Câmara Setorial Nacional do Trigo está tratando de mecanismos de comercialização com a participação da FecoAgro/RS e das Organizações das Cooperativas gaúchas e do Paraná (Ocepar). Entre as demandas encaminhadas estão principalmente o Prêmio de Equalização Pago ao Produtor (Pepro) que é um programa para subsidiar a diferença entre o preço mínimo e o preço que está sendo praticado no mercado do trigo pão tipo 1 que está sendo colhido no Estado e o excedente poderia ser mandado para os Moinhos do Nordeste, e a questão de Aquisições do Governo Federal (AGF) que é para uma composição do estoque regulador da Conab. “Pode surgir algo no caminho, mas hoje para garantir o preço mínimo, já que a tendência é de uma comercialização abaixo do seu valor, nós propomos ao governo programas de comercialização específicos para as culturas de inverno, para o trigo”, afirma Pires.

Atualmente, o valor de mercado da saca de 60 quilos do cereal está abaixo do preço mínimo definido pelo governo federal, estipulado em R$ 38,65. Conforme o presidente da FecoAgro/RS, a alternativa de uso do trigo para ração, em substituição ao milho, esfriou um pouco. “O que nos resta é brigar por um mercado competitivo, com excedentes, principalmente da Argentina. Esse é o grande desafio para o produtor”, salienta.


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