O cultivo do trigo já começou na região central do Brasil, onde estão previstos cerca de 200 mil hectares, principalmente na Região Sudeste (SP e MG). A cultura é tema na participação da Embrapa durante a 17ª Tecnoshow Comigo, realizada de 9 a 13 de abril, em Rio Verde, GO.
A semeadura do trigo na região central do Brasil, conforme o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC), vai de fevereiro a maio. Levantamentos da CONAB e do IBGE apontam para uma área estimada em 200 mil hectares (ha) nos estados de Minas Gerais (85 mil ha), Goiás (10 mil ha), Distrito Federal (1 mil ha), Mato Grosso do Sul (20 mil ha), São Paulo (80 mil ha) e Bahia (5 mil ha). Estão previstos cultivos em dois sistemas de produção: sequeiro (próximo a 85% da área) e irrigado (próximo a 15%).
Em Minas Gerais, conforme a SEAPA/MG, a área de trigo tem se mantido pouco acima de 80 mil hectares desde 2015, porém a expectativa é de crescimento na produção em 7,8% neste ano em função de aumento na produtividade das lavouras. Em 2017, alguns municípios apresentaram o mês de maio mais chuvoso dos últimos 50 anos, o que favoreceu a ocorrência da brusone nas lavouras de trigo de sequeiro. “A brusone comprometeu o rendimento final do trigo no último ano, mas a expectativa de um ano com menos chuvas no mês de maio deverá favorecer a safra 2018”, avalia o pesquisador da Embrapa Trigo Vanoli Fronza.
São Paulo, que passou a ocupar o posto de terceiro maior produtor nacional de trigo, deverá manter a área de trigo acima de 80 mil hectares, com expectativa de aumento de 20% no volume de produção, com uma safra estimada em mais de 300 mil toneladas. Segundo a Sindustrigo, o potencial de produção somente em sistema de sequeiro é de 80 mil hectares.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Trigo, Jorge Chagas, o cultivo de sequeiro tem crescido a cada ano: “O trigo tem sido uma opção que não concorre com o milho safrinha, já que a janela de semeadura do trigo de sequeiro é mais tardia, o que permite investir em cultivares de soja com ciclos mais longos e com maior potencial de rendimento na região”. Ele lembra também que o trigo proporciona vários benefícios para a soja, como a quebra no ciclo de doenças, principalmente fungos de solo; e o controle de plantas expontâneas (tigueras) de soja, contribuindo para o vazio sanitário.
Doenças
A principal limitação ao crescimento do trigo no Brasil Central tem sido a brusone, doença causada por um fungo que ataca a espiga, resultando em queda no rendimento em função dos grãos deformados e de baixo peso específico.
As epidemias de brusone acontecem em anos mais chuvosos, quando a alta umidade (proporcionando tempo de molhamento das espigas superior a 10 horas), associada a temperaturas mínimas mais elevadas coincidem com a fase de espigamento do trigo, comenta o pesquisador da Embrapa Trigo Vanoli Fronza. Como ainda não existem cultivares resistentes à brusone e a eficácia dos tratamentos com fungicidas nem sempre se mostra satisfatória, principalmente pela dificuldade de fazer a pulverização no momento ideal, a melhor estratégia é ajustar a semeadura do trigo para evitar que o espigamento ocorra em períodos mais chuvosos. Por exemplo, no caso do trigo de sequeiro é possível realizar a semeadura em março, final da época das águas, com espigamento em maio, época da seca na região, deixando a espiga menos exposta à umidade que favorece o fungo da brusone.
No trigo irrigado, a semeadura no mês de maio tem apresentado melhores resultados. Em Minas Gerais, experimentos do pesquisador da Epamig, Maurício Coelho, mostram que a incidência de brusone nas espigas do trigo é favorecida por temperaturas mínimas maiores que 15°C, sendo o risco muito elevado nas semeaduras de trigo irrigado realizadas em março. “É preciso evitar semeaduras no cedo, antes de 10 de abril, que podem levar ao espigamento quando as condições climáticas ainda são mais favoráveis para a ocorrência de brusone ”, esclarece o pesquisador da Embrapa Cerrados Julio César Albrecht.
Outras doenças que o produtor deverá ficar em alerta são as manchas foliares, como a macha amarela e a mancha marron, que podem ocorrer durante o ciclo da cultura do trigo. Neste caso, os fungicidas indicados para o seu controle apresentam eficiência elevada, desde que aplicados no início do aparecimento dos sintomas foliares.
Cultivares
A Embrapa conta com um Núcleo Avançado de Pesquisa em Trigo Tropical, localizado em Uberaba, MG. Nesta região, todos os anos, são avaliadas mais de 1.000 linhagens em busca de base genética para cultivares mais produtivas, com melhor sanidade, menor uso de insumos (fertilizantes, redutor de crescimento, defensivos, etc), e mais adaptadas ao ambiente de cultivo do Cerrado, como tolerância à seca e à brusone.
Resultado deste trabalho foi a cultivar de trigo de sequeiro BRS 404, que apresenta ciclo precoce, com cerca de 120 dias até a maturação, elevada tolerância à seca e ao calor, classe comercial pão, com boa estabilidade na qualidade da farinha. Além disso, de acordo com o pesquisador da Embrapa Trigo Joaquim Soares Sobrinho, a cultivar apresenta um comportamento diferenciado em relação à brusone, pois, em condições de alta incidência da doença, a maioria dos grãos ainda consegue ter um bom desenvolvimento, resultando em rendimento satisfatório, mesmo quando grande quantidade das espigas apresentam sintomas da doença.
No trigo irrigado, a cultivar BRS 394 se destaca pelo alto potencial produtivo (acima de 7 toneladas por hectare em lavouras comerciais), com ciclo precoce, classe comercial melhorador e boa resistência à debulha.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Trigo, Márcio Só e Silva, também estão em uso na região as cultivares de trigo irrigado BRS 264 (80% da área no Cerrado), material altamente produtivo (média de 120 sc/ha) e superprecoce – o ciclo 15 dias mais curto permite economia de água e energia; e a cultivar BRS 254, com média de 100 sc/ha e ciclo mais tardio, com excelente qualidade industrial, sendo classificada como trigo melhorador.
Tecnoshow Comigo
A Embrapa apresenta as cultivares de trigo BRS 404 e BRS 394 na vitrine de tecnologias instalada na feira, junto com outras cultivares de mandioca, milho, algodão, arroz, feijão, amendoim, hortaliças e forragens.