Coinoculação no feijoeiro comum consegue atingir 114% de lucratividade

Inoculante é o produto que contém a bactéria a ser utilizada. No caso do Rhizobium, a aplicação é feita na semente, antes de realizar o plantio

02.08.2018 | 20:59 (UTC -3)
Henrique de Oliveira​

Desenvolvido pela Embrapa Arroz e Feijão, sob a liderança do pesquisador Enderson Ferreira, o projeto “Avaliação do desempenho agronômico do feijoeiro-comum inoculado com Rhizobium tropici e coinoculado com Azospirillum brasiliense” conseguiu atingir índices de produtividade surpreendentes em seus estudos. Acima de 3.200 kg/ha, revelando ser possível, em situações favoráveis, substituir totalmente a aplicação de nitrogênio nessa cultura pela utilização desses dois microrganismos. Somando-se a este fato os aumentos de produção (11%, em relação ao uso de fertilizante nitrogenado, e 26%, sobre a inoculação somente com Rhizobium), a coinoculação se mostra uma escolha lucrativa para todos os produtores de feijão, sejam pequenos, médios ou grandes.

Inoculante é o produto que contém a bactéria a ser utilizada. No caso do Rhizobium, a aplicação é feita na semente, antes de realizar o plantio (veja vídeo com toda a explicação do uso desse micro-organismo no feijoeiro-comum). Ele está acessível a qualquer produtor em lojas de produtos agropecuários.

Já aplicação do Azospirillum é feita via pulverização, em momentos específicos da lavoura. Em termos técnicos, seria quando a planta se encontra no estádio fenológico V2 (Folhas primárias, par de folhas primárias abertas) e V3 (Primeira folha trifoliolada, com folíolos abertos).

Inoculante é o produto que contém a bactéria a ser utilizada. No caso do Rhizobium, a aplicação é feita na semente, antes de realizar o plantio (veja vídeo com toda a explicação do uso desse micro-organismo no feijoeiro-comum). Ele está acessível a qualquer produtor em lojas de produtos agropecuários.

Já aplicação do Azospirillum é feita via pulverização, em momentos específicos da lavoura. Em termos técnicos, seria quando a planta se encontra no estádio fenológico V2 (Folhas primárias, par de folhas primárias abertas) e V3 (Primeira folha trifoliolada, com folíolos abertos).

A utilização da semente coinoculada com duas doses de Rhizobium tropici e posterior pulverização de três doses de Azospirillum brasilense, dosagem que apresentou melhor resultado em sete experimentos de campo, trouxe incremento na produtividade, com excelente ganho financeiro e ambiental, por não se utilizar a ureia. A avaliação econômica dos dados da pesquisa, realizada pela analista Osmira Silva e pelo pesquisador Alcido Elenor Wander, ambos da área de socioeconomia da Embrapa Arroz e Feijão, foi feita nos Estados de Goiás, em áreas de agricultura empresarial e familiar, e Minas Gerais, apenas empresarial. Pelo que se apurou, a taxa de retorno, que permite calcular o lucro obtido, apresentou um ganho de 13% para o pequeno produtor, em relação à não adoção da coinoculação. Isso significa que cada R$ 1 mil investidos na lavoura retornou ao agricultor familiar o valor de R$ 1.130,00. Na agricultura empresarial o rendimento é ainda maior: 90% (em Goiás) e 114% (em Minas Gerais). Traduzindo, para cada R$ 1 mil empregados, os produtores goianos tiveram retorno de R$ 1.900,00 e os mineiros R$ 2.140,00.

Os ganhos ambientais estimados são, também, bastante expressivos. Compartilhando a preocupação mundial sobre mudanças climáticas globais, o governo brasileiro traçou o objetivo na redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE), entre 36,1% e 38,9% dos níveis projetados para 2020. Dentro das culturas de grãos, onde encontra-se o feijão, espera-se que o aumento da área cultivada com o uso de Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) seja responsável por grande parte desta projeção de melhora ambiental. Segundo estudos da Embrapa, se o uso de fertilizante nitrogenado fosse substituído pela coinoculação, na área total cultivada com feijoeiro, isso poderia resultar na mitigação de aproximadamente 700 mil toneladas de CO2, contribuindo para que se cumpra 52% da meta estabelecida pelo governo brasileiro.

Segundo estimativas da Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA), utiliza-se no Brasil, anualmente, 25 Kg de nitrogênio por hectare (ha). Como a área média plantada no país é de cerca de 3 milhões de ha, temos 75 mil toneladas de N/ano. Considerando-se a adoção da ureia (custo: R$1.200,00/ton) e que são necessárias 167 mil toneladas para atender essa aplicação estimada de N, o custo final supera de R$ 210 milhões/ano para os produtores brasileiros.

Considerado básico na mesa do brasileiro, o feijão é um dos alimentos essenciais e a principal fonte de proteína vegetal (28% de toda proteína ingerida pela população brasileira), para milhões de consumidores de famílias de baixa renda, segundo estudos da pesquisadora Mariângela Hungria, da Embrapa Soja. Graças à sua ampla adaptação à diversidade de solos e climas, o feijoeiro-comum faz parte da maioria dos sistemas produtivos dos pequenos e médios agricultores, que têm sua produção destinada ao consumo familiar e à geração de renda; e, também, dos considerados grandes, com sistemas tecnificados e de alto rendimento, conduzidos na 3ª safra, em agricultura empresarial. A coinoculação pode ser adotada por todos eles, visto ter apresentado resultados positivos sobre todos os aspectos, em qualquer escala de produção.

A pesquisa 

O N é um dos elementos presentes em maior concentração nos vegetais e um dos principais nutrientes para o desenvolvimento das plantas. Ele exerce funções essenciais, colabora com o aumento na qualidade e produtividade dos grãos, estando diretamente relacionado à formação e ao aumento neles do teor de proteína, e é imprescindível na realização da fotossíntese. No caso do feijoeiro-comum, além do maior crescimento, o nitrogênio influencia alguns componentes determinantes do sucesso da produção, como maior número de vagens nas plantas e grãos mais pesados.

Os trabalhos com coinoculação começaram a ser realizados pela Embrapa Arroz e Feijão em 2013. A primeira etapa do projeto foi a procura de aspectos que indicassem positividades nas relações de troca entre a planta e o agente, demonstrando potencial para utilização futura por técnicos de campo, buscando, ainda, métodos para avaliar a eficiência da inoculação. Concluída esta fase, o foco passou a ser em atividades de campo, com três objetivos: ajustar a metodologia de avaliação de ureídos; identificar os principais fatores envolvidos no sucesso ou insucesso da tecnologia de inoculação e validar as moléculas identificadas durante as pesquisas de laboratório, bem como os métodos para o monitoramento de micro-organismos. Ao final desses estudos, a associação das características apresentadas por Rhizobium tropici e Azospirillum brasilense se mostraram ideais à apresentação da tecnologia, como nova opção em ganho econômico para os produtores de feijão.

Tanto o Rhizobium quanto o Azospirillum, são bem conhecidos no meio agrícola, pela capacidade de fixação de Nitrogênio, o primeiro no feijoeiro, o outro em arroz, milho e trigo, sendo ambos já utilizados pelos produtores. No feijão, entretanto, o Azospirillum apresenta desempenho distinto do que acontece nas outras culturas, promovendo o crescimento vegetal, por meio da produção de hormônios, principalmente, o Ácido Indol Acético (AIA). Com isso, a atuação conjunta dos dois microrganismos constituiu-se em ótima solução na busca de maiores rendimentos. O Azospirillum potencializa o desenvolvimento da planta, principalmente raízes, resultando em melhores condições para que ela estabeleça a simbiose com o Rhizobium na fixação de N. Além desta associação, o maior volume radicular gerado pelo Azospirillum melhora, ainda, a absorção de água e de nutrientes do solo, aumentando o crescimento da parte aérea e a produção de grãos.

Quatro engenheiros agrônomos, externos à Embrapa, fizeram acompanhamento das pesquisas em campo como consultores. Em Minas Gerais, Frederico Quirino, da empresa de consultoria Planeje, de Paracatu, e Pedro Henrique Bernardes Jr., da Cerrado Consultoria e pesquisa Agrícola, de Unaí. Em Goiás, Renato Caetano, Completta Consultoria e Assessoria; e Roberto Vítor Inácio, ambos de Cristalina. As interpretações desses profissionais são coincidentes acerca dos pontos positivos da coinoculação do feijoeiro. De acordo com suas análises, além do ganho financeiro, os benefícios em relação ao meio ambiente são grande destaque, já que o N é um elemento contaminante, que pode atingir o lençol freático. Por isso, sua substituição por um produto biológico, por si só, é uma evolução no cuidado ambiental, promovendo mesmo uma nova imagem ao produtor de feijão, na visão do mercado consumidor, face ao ganho ecológico de suas atividades com esse novo status.

Pedro Henrique lembra que o resultado dos trabalhos foi tão expressivo, tanto pelo lado de produção quanto pelo econômico, que, desde a primeira etapa do experimento, o produtor Celso Manica, proprietário da Fazenda Agropecuária Vale Verde, em Unaí, onde ele conduziu os estudos, passou a adotar a coinoculação, não mais apenas na parcela inicial, mas em toda sua área. Ainda segundo ele, atualmente, 80% dos clientes da sua empresa já adotaram a técnica. “Hoje tem sido difícil alcançar margens na cultura do feijão, qualquer diferença que se consiga no custo, mantendo a produtividade, é de fundamental importância para toda a cadeia e toda atividade agrícola”, lembra o consultor.

Frederico Quirino acompanhou os estudos em Paracatu, em sua própria área de produção, reafirmando todas as vantagens já destacadas: demanda menor por adubos nitrogenados, ganho ambiental e economia ao produtor. O consultor adverte, contudo, para o fato de que, em se tratando de produtos biológicos, a técnica deve ser utilizada com critério e muito cuidado. “Estamos falando de seres vivos, que estão embalados e vão ser colocados no ambiente. Este ambiente tem de estar preparado”, diz ele.

Outros benefícios da diminuição do uso de N, que não foram mensurados, mas que devem ser considerados, de acordo com Renato Caetano, são a melhoria do equilíbrio microbiológico no solo, que facilita o acesso aos macronutrientes: Fósforo (P), Cálcio (Ca) e Potássio (K); e a manutenção do pH do solo, pela não aplicação do nitrogênio.

Acesso à tecnologia 

O Escritório de Negócios da Embrapa Arroz e Feijão implantou um projeto denominado Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT), cujo objetivo é tornar comerciáveis as tecnologias desenvolvidas pelos pesquisadores da Unidade, ofertando para empresas privadas. Dentre essas tecnologias está a pesquisa de microrganismos benéficos, na qual isola-se um agente na natureza, realizando estudos e testes in vitro e in vivo, comprovando que ofereça vantagens seguras para as plantas, gerando resultados científicos. Aí inclui-se o estudo realizado com a coinoculação de Rhizobium Azospirillum. Feito esse trabalho, o Escritório de Negócios capta as informações geradas dessa determinada pesquisa, transforma esses dados em um portfólio de tecnologias e disponibiliza para o mercado. As empresas interessadas entram em contato, fecham contratos de uso e acesso aos microrganismos, providenciam a finalização da pesquisa, avançando em formulações e transformando a tecnologia em produto final, podendo ser oferecido a toda cadeia rural.

Nas atividades da pesquisa foi adotada a cultivar BRS Pérola, sob irrigação. Sete tratamentos foram avaliados, compostos de diferentes doses e formas de aplicação economicamente viáveis para produtores comerciais e familiares. A análise da viabilidade econômica foi realizada usando o método orçamentário parcial. O melhor desempenho econômico em áreas comerciais foi obtido pela inoculação da semente com duas doses de Rhizobium e posterior pulverização das plantas com três doses de Azospirillum.

Atualmente, as pesquisas com coinoculação estão explorando novos microrganismos que apresentam outros mecanismos de ajuda no desenvolvimento das plantas e aumento de produtividade, como o controle de doenças e solubilização de nutrientes.


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