Bioprodutos geram até 214% de retorno sobre sua aplicação na cultura do feijão, diz Embrapa

Um produto comercial contendo rizóbio e outro à base de "Azospirillum brasilense", duas bactérias, foram aplicados, em processo de coinoculação, em lavouras de feijão de Goiás e Minas Gerais

18.03.2024 | 18:40 (UTC -3)
Rodrigo Peixoto, edição Revista Cultivar

Uma avaliação econômica realizada pela Embrapa Arroz e Feijão sobre o uso de produtos biológicos em coinoculação, substituindo fertilizantes nitrogenados na produção de feijão nos estados de Goiás e de Minas Gerais, apontou taxas de retorno sobre o investimento que variaram entre 190% e 214% para lavouras comerciais; e de 113% para agricultura familiar. O estudo mostrou também que o custo total de produção quando do uso de fertilizante nitrogenado foi superior em 5% para lavouras comerciais e em 8,5% para a agricultura familiar em comparação aos tratamentos realizados com coinoculação.

A pesquisa foi conduzida em sistema de cultivo irrigado por pivô central nos municípios goianos de Cristalina, Itaberaí e Santo Antônio de Goiás; e em Paracatu e Unaí, no estado de Minas Gerais. Na cidade de Goianésia (GO), foi conduzido o experimento em área de agricultura familiar com irrigação por aspersão. O estudo abrangeu três safras e a cultivar usada para o trabalho foi o feijão carioca Pérola.

A coinoculação é a adição de mais de um microrganismo benéfico às plantas, com o objetivo de maximizar sua contribuição. No caso da pesquisa, para a inoculação, foram utilizados dois produtos comerciais, um contendo rizóbios (Rhizobium tropici), microrganismos responsáveis pela fixação biológica de nitrogênio (FBN); e outro com Azospirillum brasilense, bactéria conhecida por sua ação promotora de crescimento de plantas.

O rizóbio foi usado na forma de inoculante turfoso (pó contendo a bactéria) preparado em solução para o tratamento de sementes, sendo aplicadas duas doses por hectare. No caso do Azospirillum, utilizou-se o equivalente a uma e duas doses de produto por hectare aplicadas na semente; e duas e três doses por hectare via pulverização foliar na fase vegetativa da lavoura. A fim de comparar com a adubação nitrogenada, foi adotado fertilizante nitrogenado na forma de ureia (80 quilos por hectare), distribuídos 20 quilos por hectare na semeadura e 60 quilos por hectare aos 25 dias após a emergência das plantas.

Um dos coordenadores desse trabalho, o pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão Enderson Ferreira, disse que o retorno financeiro sobre o investimento em coinoculação em substituição aos fertilizantes nitrogenados foi positivo, especialmente, em um dos tratamentos realizados. “O melhor desempenho foi obtido no tratamento de sementes com rizóbio e três doses de Azospirillum pulverizadas nas plantas. Isso resultou em taxas de retorno de 190% em Goiás e 214% em Minas Gerais, para lavouras comerciais; e de 113% em Goiás para agricultura familiar, o que torna rentável economicamente a coinoculação”, afirmou Enderson. A análise foi realizada com base em preços e índices de mercado em função da produção de grãos dos diferentes tratamentos.

Viabilidade Econômica

O custo total de produção foi também estimado pela pesquisa. Nesse caso, foram envolvidos custos operacionais com o manejo da lavoura, relacionados à dessecação da área, adubação do solo, defensivos, energia elétrica, mecanização, colheita e atividades pós-colheita como secagem, limpeza e armazenamento. Foram adicionados componentes como seguro da lavoura e assistência técnica. Os cálculos foram realizados de forma semelhante para ambos os sistemas de agricultura - comercial e familiar. A diferença foi que, para a agricultura familiar, levou-se em conta custos com irrigação por aspersão e não por pivô central.

O socioeconomista e pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão Alcido Wander enfatizou o fato de o custo total de produção, ao usar fertilizante nitrogenado, ser superior em 5% para lavouras comerciais e em 8,5% para a agricultura familiar, comparado aos tratamentos realizados com coinoculação. Ele destacou ainda a importância desse tipo de avaliação para o produtor rural: os adubos nitrogenados representam um percentual expressivo dos custos de produção, pois são produtos importados, cotados em dólar. Segundo ele, estima-se que o custo com esse insumo alcance cerca de 14% do custo operacional total de produção.

“Embora existam relatos de substituição parcial ou total da adubação nitrogenada, há pouca informação disponível sobre a vantagem econômica do uso de coinoculação em substituição a fertilizantes nitrogenados. Por isso, pesquisas como essa são importantes para os agricultores e para melhorar a eficiência das lavouras. O resultado que alcançamos evidencia que a coinoculação é uma opção lucrativa para todos os produtores de feijão, sejam pequenos, médios ou grandes”, complementou Alcido.

Baixa emissão de carbono

O uso de insumos que permitam a fixação biológica de nitrogênio (FBN) é uma alternativa atrativa do ponto de vista ambiental, em comparação aos adubos nitrogenados. A FBN não causa impacto negativo na qualidade do solo, da água e do ar, ao contrário dos fertilizantes convencionais, que podem, por exemplo, aumentar a pegada de carbono pela emissão de gases de efeito estufa, como o CO2. Por isso, a FBN é considerada uma das técnicas sustentáveis e relacionadas à agricultura de baixo carbono.

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