Batata-doce CIP BRS Nuti é protagonista em projeto de combate à fome no Semiárido de Pernambuco

A batata-doce com “cor de cenoura” foi lançada há três anos pela Embrapa Hortaliças

14.08.2024 | 15:31 (UTC -3)
Embrapa Hortaliças
Foto: divulgação
Foto: divulgação

A batata-doce CIP BRS Nuti é a protagonista do projeto “Nas Ramas da Esperança”, concebido inicialmente para melhorar a segurança alimentar e nutricional de comunidades do semiárido pernambucano. Desde o início de 2022, já foram doadas mais de 500 mil mudas, contemplando 10 mil agricultores cadastrados em 72 instituições, localizadas em 153 municípios de 11 estados.

No final de julho, o projeto “Nas ramas da esperança” foi o vencedor, na categoria Desenvolvimento Social, da 6ª edição do Prêmio Espírito Público. O professor Erbs Cintra, do Instituto Federal do Sertão Pernambucano (IFSertaoPE), responsável pelo projeto, diz que o prêmio é o reconhecimento de um trabalho que começou em 2010.

“Como pernambucano e conhecedor das dificuldades dos agricultores, na época, eu estava buscando culturas que fossem resistentes às condições da região: solos degradados, pouca chuva e que também fossem alimentos biofortificados. Foi aí que conheci o trabalho da Rede Biofort. Estabelecemos uma parceria para a validação de materiais de batata-doce na área do IFSertãoPE, localizado na zona rural de Petrolina (PE)”, lembra. A rede é coordenada pela Embrapa e responsável pela biofortificação de alimentos no Brasil.

 Em 2021, o projeto Ramas da Esperança foi formalizado com recursos da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco (Facepe). De acordo com Cintra, a pandemia aumentou ainda mais a vulnerabilidade alimentar e social dos agricultores que estão nas proximidades do IFSertãoPE. “Recebemos cultivares de batata-doce da Embrapa e a CIP BRS Nuti caiu no gosto dos agricultores”, lembra.

A batata-doce com “cor de cenoura”, como tem sido denominada pelos pequenos produtores, foi lançada há três anos pela Embrapa Hortaliças em parceria com o Centro Internacional de la Papa (CIP) do Peru. A cor alaranjada deve-se ao alto teor de betacaroteno que pode alcançar 150 mg/kg. Nas variedades de polpa branca ou creme essa concentração é irrisória.

O pesquisador da Embrapa Hortaliças Alexandre Mello foi o responsável por receber o material do CIP e coordenar as etapas de avaliação, identificação, seleção e lançamento da cultivar. “Todo esse trabalho foi realizado com parceiros em várias regiões do Brasil. No caso do Erbs, eu me sinto orgulhoso e grato porque o projeto tem proporcionado a muitos agricultores o acesso à cultivar que, além de biofortificada, tem ótimo desempenho no Nordeste”, comenta Mello.

Aprovação: com recurso e participação de alguns agricultores familiares, o passo seguinte foi a multiplicação das ramas da CIP BRS Nuti e a realização de eventos para divulgar a cultivar que se destacou pela alta produtividade, tolerância à seca e a doenças, além do alto teor nutritivo. “A partir daí a notícia espalhou, e as áreas de cultivo no IFSertão passaram a receber a visita de muitos produtores, assim como as demandas de outros municípios e estados”, conta.

A agricultora Marlene Conceição, do assentamento Agua Viva II, em Petrolina, participa do projeto há três anos e, desde o início, aprovou a cultivar. “Quando comemos essa batata no café da manhã, nós nos sentimos fortes. Foi de grande serventia essa batata chegar aqui, porque ela veio na hora que precisava saciar a nossa fome, foi em um momento difícil que passamos” afirma a agricultora referindo-se à época da pandemia da covid-19.

Atualmente, ela cultiva a batata-doce e outras frutas no quintal da casa, em uma área de meio hectare, mas já está animada e preparando a irrigação para cultivar em uma área maior.

Desempenho: No semiárido pernambucano, a CIP BRS Nuti tem apresentado ciclo precoce de 90 a 110 dias, baixa demanda hídrica, tolerância a pragas e doenças, e produtividade de 30 a 35 toneladas por hectare. Dados do IBGE/2022 mostram que o Brasil produziu 847,1 mil toneladas, alcançando uma produtividade de 14,5 toneladas por hectare.

De acordo com Cintra, outra característica que chama a atenção da CIP BRS Nuti é que as ramas se desenvolvem muito rápido, sombreando o canteiro e evitando o crescimento do mato. “Além de todas os benefícios, a cultivar ainda contribui para reduzir a mão de obra. Também estamos na expectativa do aumento da produtividade, uma vez que na área experimental do IFSertãoPE, a cultivar alcançou 60 toneladas por hectare”.

O protagonismo da cultivar vai ao encontro da criatividade dos agricultores, comprovando que da CIP BRS Nuti não se perde nada. Alguns apicultores estão produzindo mel das flores. A florada dura cerca de 30 a 32 dias, tempo suficiente para a produção de mel de batata-doce. Cintra conta que o próximo passo é analisar o mel para conhecer as suas características.

Comercialização: o Nordeste é o estado que mais consome batata-doce, alimento que está entre as principais fontes de carboidratos complexos e de baixa caloria da dieta do brasileiro. Além do consumo fresco, a CIP BRS Nuti também pode ser usada na produção de bolos e biscoitos. “Esses produtos podem ser comercializados em feiras para agregar mais valor. Mesmo sendo pequenas áreas cultivadas pelos agricultores, ainda existe o excedente que pode e precisa ser comercializado”.

Outra preocupação do projeto foi com o excedente da produção, uma vez que a batata-doce é cultivada durante todo o ano. A expectativa é que, ainda em 2024, sejam realizadas as primeiras entregas nas escolas de Petrolina. Essa é mais uma vitória do projeto que induziu e obteve sucesso na criação da Lei Nº 3.657, de 17/10/2023 que dispõe sobre a inclusão dos alimentos do Projeto “Nas Ramas da Esperança” na merenda escolar da rede pública municipal de ensino.

Diversificação

Além da batata-doce, a lei contempla cultivares de macaxeira, milho e feijão biofortificados. Recentemente, o projeto passou a introduzir esses alimentos contemplados na Rede Biofort com o intuito de diversificar a alimentação, e fazer a rotação de cultura – técnica usada para evitar a proliferação de pragas e doenças. Segundo Cintra, os lotes são divididos em vários campos para a produção de alimentos diferentes.

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