Aumento de produtividade com sustentabilidade em aldeias indígenas

17.04.2013 | 20:59 (UTC -3)
Sílvia Zoche Borges

No período de 2008 a 2011, a Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados/MS), uma das 47 Unidades da Embrapa, conduziu ações de Pesquisa e Desenvolvimento em comunidades indígenas Terena, nos municípios de Nioaque (Aldeia Água Branca) e Miranda (Aldeia Babaçu), em Mato Grosso do Sul, com a participação efetiva da comunidade local. Os resultados destas ações tiveram um grande impacto, resultando em melhoria significativa na qualidade de vida dos indígenas aldeados.

Com uma demanda de continuidade das ações de pesquisa e desenvolvimento pelos indígenas destas comunidades, foi proposto um novo projeto, sendo o mesmo aprovado pela Embrapa, em 2012, por meio da carteira de projeto do Macroprograma 6 - instrumento gerencial da Embrapa de apoio ao desenvolvimento da agricultura familiar e à sustentabilidade do Meio Rural. "Neste projeto, estamos expandindo os trabalhos de pesquisas para outras culturas, como: feijão comum, feijão-caupi e mandioca. E vamos dar continuidade às pesquisas na cultura do milho. Além disso, estamos acrescentando outras tecnologias poupadoras de insumos, que são gerados dentro das comunidades", explica o pesquisador Fábio Mercante, coordenador do projeto.

Segundo Mercante, o projeto de Macroprograma teve início em janeiro deste ano com o andamento das atividades em condições de laboratório e condições controladas de casa de vegetação, dando continuidade à seleção de rizóbios para as espécies de adubo verde e outros testes relacionados. Como é uma pesquisa participativa e o objetivo é envolver as comunidades indígenas, será marcado para o primeiro semestre deste ano um workshop para estabelecer ações articuladas entre a equipe do projeto, composta por vários pesquisadores da Embrapa e de outras instituições de pesquisa, além da Funai e a Agraer, que também são parceiras no projeto.

"A importância das comunidades também estarem envolvidas no trabalho é pela própria percepção pelos indígenas dos resultados das atividades durante a condução dos ensaios; neste aspecto, torna-se possível a observação das melhorias resultantes da utilização das tecnologias implementadas e, consequentemente, a sua adoção", ressalta Mercante.

Entre as tecnologias implementadas nas aldeias, está o consórcio do milho com espécies de adubo verde inoculadas com bactérias com fixadoras de nitrogênio com elevada eficiência simbiótica. A intenção é que, nos próximos anos, os próprios agricultores multipliquem as sementes de adubos verdes para utilizarem nos cultivos consorciados ou como antecessoras à cultura principal.

Para o professor do curso de Tecnologia em Agroecologia da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Rogério Ferreira da Silva, que participa desde o primeiro projeto das atividades nestas regiões, dar continuidade aos trabalhos de pesquisas nessas comunidades vai além de definir novos arranjos produtivos, é valorizar a cultura dos povos indígenas. "A intenção é propor arranjos produtivos que se adequem à realidade dos povos daquela região, mas também levar as tecnologias sociais sem interferir na cultura nativa", conclui.

O objetivo deste projeto inicial, financiado pelo CNPq, foi contribuir para a melhoria da qualidade de vida de comunidades indígenas Terena de Mato Grosso do Sul, através da geração e transferência de tecnologias de base ecológica e de estudos socioeconômicos, visando ao incremento da produtividade agrícola de forma sustentável, otimizando os recursos naturais e reduzindo o impacto ambiental.

Entre as principais atividades desenvolvidas, destacaram-se: implementação de práticas de manejo conservacionistas do solo em cultivos de milho, feijão e mandioca; realização de um monitoramento ambiental de parâmetros físicos, químicos e microbiológicos em manejos agrícolas tradicionais de comunidades indígenas e dos sistemas conservacionistas implementados; e avaliação do impacto ambiental e produtividade de milho, comparando-se o modelo dos cultivos agrícolas tradicionais, que são utilizados atualmente, e com a implementação das tecnologias avaliadas.

Foram conduzidos ensaios em duas áreas de comunidades indígenas de Mato Grosso do Sul, nos municípios de Miranda e Nioaque. Em ambos os ensaios, os monocultivos de milho foram comparados com os consórcios estabelecidos com as seguintes espécies de adubo verde: guandu (Cajanus cajan L. Millsp), crotalária (Crotalaria juncea), feijão-de-porco (Canavalia ensiformis) e mucuna-preta (Mucuna aterrina). Os rendimentos da cultura do milho em consórcio com as espécies de guandu e crotalária, em Miranda, e com guandu, crotalária e feijão-de-porco, em Nioaque, mostraram-se superiores ao monocultivo de milho.

Em Nioaque, os rendimentos de milho consorciado com crotalária e guandu foram, respectivamente, 4 e 3,5 vezes superiores ao monocultivo. Em Miranda, MS, os patamares de produtividade do milho foram mais elevados do que no ensaio conduzido em Nioaque, MS, com variação entre 2.843 (monocultivo) e 4.751 kg ha-1 (consórcio com guandu).

O Índice de Equivalência de Área (IEA), utilizado para comparação entre os consórcios e monocultivo de milho, indicou que os consórcios de milho com guandu, crotalária, feijão-de-porco e mucuma-preta, em ambos os locais avaliados, representam uma prática de grande vantagem do ponto de vista agronômico. "Assim, estamos agregando renda, que é extremamente importante, tanto para consumo próprio quanto para comercializar o excedente da produção. Isso contribui para manter o produtor no campo e dar dignidade para melhoria da qualidade de vida", comenta o pesquisador.

De modo geral, os resultados demonstraram que a utilização dos adubos verdes como uma estratégia de manejo para conservação da qualidade do solo pode ser considerada uma prática promissora na unidade de produção, em áreas com baixa aplicação de insumos.

Compartilhar

Newsletter Cultivar

Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura

acessar grupo whatsapp
Agritechnica 2025