Artigo: Sorgo, milheto e milho – do verão para o outono

26.01.2011 | 21:59 (UTC -3)

O capim italiano ou milheto, sorgos forrageiros e o milho comum em alta densidade podem ser semeados de setembro a fevereiro, dependendo da temperatura e umidade adequada. Quanto mais tarde for implantado do período inicial até meados do verão, menor é o rendimento de pasto. Entretanto, para vacas leiteiras é atrativo utilizar áreas de culturas de verão ensiladas ou de milho super-precoces para a safrinha.

 

Em trabalhos realizados na Universidade de Passo Fundo (UPF), no norte do Rio Grande do Sul (tabela 1), média de dois anos, demonstram que é possível obter até 6,8 t/ha de forragem seca, pois essas gramíneas anuais de verão crescem até as primeiras geadas. Esse rendimento é semelhante ao obtido com pastagens de aveia preta e azevém anual durante toda a estação fria. Deve-se iniciar o pastejo quando as plantas atingirem altura de 50 a 60 cm e retirá-los com altura de resteva de 20 cm, aplicando-se logo após 30 kg N/ha. Novo pastejo se dará após 15 a 30 dias de descanso.

 

É possível ter sucesso com essa prática usando sementes de milho, recém colhido, em alta densidade, mais de 150 mil plantas/ha, inclusive consorciado com variedades tardias de soja. Observem que nesse caso inexiste “semente” de menor custo que o grão de milho recém colhido.

 

Todos sabem que, para minimizar o custo de produção de leite, deve-se usar o máximo possível de forragem vindo de pastagens bem manejadas. O empresário rural deve planejar as pastagens necessárias para forragear os animais durante o ano todo com o auxílio do assistente técnico, especializado em Forragicultura. Nesse processo, deve-se buscar quantidade de forragem com elevado valor nutritivo, bem distribuídas ao longo do ano, para privilegiar o consumo à campo, buscando alta eficiência traduzida em ganho líquido por área.

 

Tabela 1. Rendimento total de matéria seca (MS), percentagem de folhas, afilhos e medidas do valor nutritivo: proteína bruta (PB), fibra em detergente ácido (FDA), fibra em detergente neutro (FDN) e nutrientes digestíveis total (NDT)

 

Genótipos MS total

(t/ha) Folha

(%) PB

(%) FDA (%) FDN (%) NDT

(%)

Folha Colmo Folha Colmo

Sorgo

AG 2501 6,8 56 15 40 49 68 74 74

Sorgo

BRS 800 5,9 72 17 41 47 66 72 72

Milheto

Comum 4,0 52 22 32 48 62 80 80

Capim

Sudão 2,8 78 16 36 48 68 77 77

Teosinto 2,7 78 17 38 44 62 74 74

Fonte: adaptado de Fontaneli et al. (2009)

 

Embora variedades e híbridos de sorgo forrageiro e milheto tenham potencial para produzir mais de 15 t MS/ha quando semeados cedo, e que a medida que posterga-se a data de semeadura o rendimento é reduzido, é indispensável fazê-lo para melhorar a distribuição de forragem de qualidade para o fim de verão e início de outono. Quando citou-se 6,0 t MS/ha, cerca de 40% do potencial das espécies de verão, convém lembrar que as forrageiras anuais de inverno, aveia preta, azevém e mesmo os trigos forrageiros, produzem essa quantidade durante todo o inverno e primavera.

 

Quais a vantagens de semear em mais de uma época?

 

A semeadura dessas gramíneas anuais de estação quente na região do Planalto e Missões do Rio Grande do Sul pode iniciar em setembro (Missões) e estender-se até início de fevereiro, quando a meta é produzir forragem para o período conhecido vazio forrageiro outonal (abril-maio), período de grande escassez de forragem de bom valor nutritivo. Nesses meses, as pastagens perenes de estação quente apresentam baixo valor nutritivo e as forrageiras anuais de estação fria ainda estão sendo estabelecidas. Em Passo Fundo, RS, trabalhos na Embrapa Trigo com híbridos comerciais de sorgo, capim sudão (aveia de verão), variedades de milheto e teosinto (dente de burro) semeados em fevereiro, produziram 6,0 toneladas de forragem seca por hectare, com 17,8% de proteína bruta (PB), 60% de nutrientes digestíveis totais (NDT), 40% de fibra em detergente ácido (FDA) e 60% de fibra em detergente neutro (FDN). Quanto mais cedo na primavera for possível estabelecer com sucesso as forrageiras anuais de verão maior será a quantidade potencial de forragem produzida, mas concentrada no final de primavera e início de verão. O cenário comum são pastagens de sorgo e capim italiano mal fertilizadas, especialmente pouco nitrogênio, quando degradam-se no meio do verão, final de janeiro a meados de fevereiro, porém quando semeia-se parte da área cedo e após, a cada 3 a 4 semanas de intervalo, é possível distribuir melhor a forragem produzida e com melhor valor nutritivo. Dessa maneira pode-se dispor de forragem de gramíneas anuais de verão até o advento das primeiras geadas.

 

Renato Serena Fontaneli

Pesquisador da Embrapa Trigo e UPF

(54) 3316-5800

joseani@cnpt.embrapa.br

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