Artigo - Retardamento do início das chuvas aumenta risco de perdas de rendimento de grãos de soja no DF

17.12.2008 | 21:59 (UTC -3)

A demora na estabilização das chuvas, em Brasília, retardou a instalação das principais culturas, entre elas a soja, que normalmente é plantada no início de novembro ou inclusive no final de outubro nos anos em que as chuvas estabilizam neste mês. O atraso no plantio aumenta o risco de ocorrência de veranicos durante o período de enchimento de grãos e a possibilidade de doenças com maior antecedência no ciclo.

Neste ano, as chuvas de outubro foram isoladas no tempo o que não permitiu o plantio neste mês. Alguns dos poucos plantios realizados após a única chuva ocorrida tiveram a homogeneidade da população de soja comprometida. As chuvas estabilizaram apenas a partir do dia 11 de novembro, o que retardou o início do plantio de soja para a segunda quinzena de novembro e início de dezembro.

Os períodos de florescimento e enchimento de grãos, juntamente com a germinação e emergência, são os períodos em que a cultura é mais sensível às adversidades climáticas, portanto, seria importante que durante estes não ocorresse adversidades climáticas.

O retardamento do plantio faz com que a cultura atinja os períodos de formação do rendimento mais tardiamente o que pode comprometer o rendimento se ocorrerem adversidades no meio nos períodos de maior sensibilidade da cultura. A soja é uma cultura que apresenta grande variação de ciclo de vida conforme o genótipo e o local de plantio, porém de maneira geral os plantios efetuados em final de novembro e início de dezembro iniciarão os períodos de florescimento de enchimento de grãos (R5) no início de janeiro e meados de fevereiro para as super precoces; meados de janeiro e final de fevereiro para as precoces; final de janeiro e meados de março para as normais e meados de fevereiro e final de março a início de abril.

Uma das adversidades mais comuns é a ocorrência de veranicos, que são deficiências hídricas provocadas pela ocorrência de uma seqüência de dias sem precipitação. O estudo destes fenômenos começou com Wolf (1975) que reuniu dados de três estações meteorológicas localizadas no Distrito Federal para obter um período 42 anos de registros de precipitação, temperatura, insolação e evaporação de Piche para obter a probabilidade da ocorrência de qualquer tamanho do maior período seco durante a estação chuvosa. Posteriormente Assad et al (1994) estimaram a freqüência de ocorrência de veranicos de dez dias durante a estação chuvosa e apresentaram em mapas que este é de 5 a 10 a cada 20 anos durante o mês de janeiro e aumenta para 10 a 15 a cada 20 anos nos meses de fevereiro e março.

Apesar da soja ser uma cultura adaptada a pequenos períodos de estiagem, a ocorrência de dez dias sem precipitação nos períodos de florescimento e enchimento de grãos já começa a reduzir a produtividade, principalmente quando os demais fatores de produção, entre eles o nutricional, estiverem em bons níveis. Estas informações nos permitem afirmar que o retardamento do plantio aumentou o risco de perdas de produtividade da soja, cultivadas sem irrigação, para todas os tamanhos de ciclo mas principalmente as tardias que terão o período de enchimento de grãos em período de menor precipitação.

Para além do aumento do risco de ocorrência de veranicos o plantio tardio também favorece o aparecimento de pragas e doenças com maior antecedência no ciclo da cultura exigindo em alguns casos maior custo de produção.

Pesquisador da Embrapa Cerrados (Planaltina – DF).

Contato: agmuller@cpac.embrapa.br

Bibliografia consultada

WOLF, J.M. Probabilidade de ocorrência de períodos secos na estação chuvosa para Brasília, DF. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.12, n.unico, p.141-150, 1977.

ASSAD E. D.;SANO, E. E.; MASUTOMO, R.; CASTRO, L. H. R.; SILVA, F. A. M. Veranicos na região do cerrado brasileiro: freqüência e probabilidade de ocorrência. In: Assad, E.D. (Coordenador) 2.ed. Chuva no Cerrado: análise e espacialização. Planaltina, DF: CPAC / Brasília: EMBRAPA-SPI, 1994. cap.3. p.43-48.

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