Artigo - Primavera com El Niño: o clima deve mudar

22.08.2012 | 20:59 (UTC -3)

No mês de julho uma grande massa de ar seco manteve-se estacionada sobre as regiões Central e Sul do Brasil proporcionando a ocorrência de noites frias e, principalmente, próximo à metade do dia, temperaturas elevadas. As temperaturas médias ficaram acima das normais do período numa área que se estendeu desde o Sul até o Norte do país. Em parte do Mato Grosso e no Oeste baiano, temperaturas chegaram acima dos 30 graus em torno da metade do dia, intensificando o tempo seco, o que beneficiou a colheita e a secagem do café.

Algumas regiões ainda estão colhendo café, todavia, as lavouras que tiveram a colheita iniciada no fim de maio e princípio de junho já estão prontas para as floradas, após as primeiras chuvas da estação chuvosa.

Para o mês de setembro, em Minas Gerais, há aproximadamente 45% de probabilidade de que as chuvas ocorram acima da média numa área que abrange a parte Leste e Sul da região Central do estado (municípios Augusto de Lima, Curvelo e Martinhos Campos), e segue abrangendo a porção Oeste da Região Metropolitana de Belo Horizonte (municípios de Belo Vale, Resende Costa, Pitangui), bem como a porção Leste da região Oeste de Minas (Itapecerica e Santo Antônio do Monte), alcançando até Ibiá, na região do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba.

Em São Paulo também há 45% de probabilidade de que as chuvas ocorram acima da média numa área que cobre os municípios de Marabá Paulista e Euclides da Cunha Paulista, no extremo Oeste da região de Presidente Prudente. Essa área cobre também os municípios do Alto Piquiri, Cianorte e Alto Paraíso na região Noroeste paranaense, e alcança parte do estado do Mato Grosso do Sul, onde cobre toda a porção Leste, o Centro-Norte e o Sudeste do estado, sendo que neste estado os municípios de Laguna Carapã e Ponta Porã apresentam 50% de probabilidade de que as chuvas fiquem acima da média do período.

No estado da Bahia há 50% de probabilidade de que as chuvas ocorram abaixo da média normal do período na região do extremo Oeste baiano, na porção norte da região Sul da Bahia, na região metropolitana de Salvador, na porção Leste da região Centro-Norte baiano, na região Nordeste da Bahia; no Vale do São Francisco, entre Juazeiro e Paulo Afonso, apresentam 55% abaixo. Sendo que numa faixa que passa sobre os municípios de Coronel João Sá, Itapicuru e Entre Rios, na região do Nordeste baiano, a probabilidade é de 60% de que as chuvas fiquem abaixo da média do período.

Chuvas acima da média do mês de setembro poderão ocorrer em Guajará Mirim, Nova Mamoré, Buritis e Porto Velho na região Madeira-Guaporé em Rondônia, assim como em Lábrea, na região sul amazonense e em Porto Acre, na região Vale do Acre.

Há aproximadamente 50% de probabilidade de que em setembro as temperaturas ocorram acima da média nos estados de Minas Gerais (em toda a região da Zona da Mata, na parte Leste do Vale do Rio Doce a partir de Governador Valadares, na região do Vale do Mucuri e na porção Leste do Sul de Minas a partir de Aiuruoca), em São Paulo (no Vale do Paraíba, na região metropolitana de São Paulo e no Litoral sul paulista), no Paraná (em toda a região metropolitana de Curitiba), em todo o estado do Espírito Santo e em todo o estado da Bahia, sendo que para o Nordeste baiano, para a região metropolitana de Salvador e para a porção do extremo norte da região Sul da Bahia a probabilidade das temperaturas ocorrerem acima da média é de 70%.

Para a região Sul do estado de Rondônia a probabilidade é de 60%, enquanto que para a porção norte do estado, a partir de Cacaulândia, é de 80%, assim como no Vale do Juruá, no estado do Acre.

Embora já tenham ocorrido algumas anomalias positivas nas temperaturas superficiais nos oceanos tropicais, mantiveram-se as condições de neutralidade (sem El Niño ou La Niña) no mês de julho já que muitas características da atmosfera tropical eram inconsistentes com as condições do El Niño. Todavia, com base nas condições de temperatura da superfície dos oceanos em curso, há probabilidade acima de 70% de que o El Niño venha a ocorrer (se caracterizar na totalidade) a partir do fim de outubro.

Na ocorrência do fenômeno EL Niño normalmente na região sudeste não há mudanças no padrão de chuvas, embora seja esperada irregularidade na ocorrência das chuvas para o mês de setembro. Todavia, é comum haver um moderado aumento das temperaturas no inverno, o que na verdade já está ocorrendo.

Quando o El Niño se forma aproximadamente na metade do ano é comum que as temperaturas fiquem acima da média nos estados de São Paulo, Minas, Goiás e na Bahia, com exceção das regiões de Juazeiro e Paulo Afonso no nordeste baiano. Na região Sul do Brasil é comum às chuvas ocorrerem bem acima da média.

Os prognósticos agroclimáticos não possibilitam a previsão das respostas fisiológicas das plantas associadas às condições meteorológicas esperadas para determinado mês ou dia particular no futuro, mas fazem referência aos fenômenos periódicos que ocorrem nas plantas e estão relacionados com as condições ambientais, principalmente as climáticas, que são esperadas para uma determinada região geográfica num espaço de tempo superior a um mês.

Destaca-se que ao longo do período considerado pela previsão climática há possibilidade de ocorrência de diferentes condições meteorológicas, ou seja, condições diversas de tempo de duração de horas, dias ou até mesmo superior a uma semana. Também é possível que determinada localidade inserida na região para qual o prognóstico foi elaborado experimente condições diferentes daquelas previstas, principalmente em áreas com relevo acidentado.

Nas regiões tropicais, a dinâmica da atmosfera apresenta forte associação com os padrões de temperatura da superfície dos oceanos tropicais, que apresentam flutuações lentas. Assim, o fenômeno El Niño Oscilação Sul - ENOS (ENSO, em inglês) apresenta forte associação com o padrão climático do Brasil o que possibilita boa compreensão das variações climáticas transitórias do país que está em sua maioria localizado na região tropical.

Deste modo, os prognósticos são construídos com base no conhecimento e habilidade do previsor e no histórico da ocorrência de fenômenos climáticos globais e principalmente naqueles atuantes na América do Sul, os quais são capazes de possibilitar diferentes condições climáticas ao longo das estações do ano, embora somente uma possa vir a ocorrer. São consideradas ainda as informações disponibilizadas livremente pelo Instituto Internacional de Pesquisas sobre Clima e Sociedade – IRI, Met Office Hadley Centre, Centro Europeu de Previsão de Tempo de Médio Prazo – ECMWF e pelo Boletim Climático da Amazônia elaborado pela Divisão de Meteorologia (DIVMET) do SIPAM.

O prognóstico é sempre apresentado com base na probabilidade de que determinada condição climática possa prevalecer sobre outras, sendo, portanto, útil para avaliar a probabilidade de risco no manejo da cultura, porém nunca para anúncio de determinado evento climático específico para uma determinada região. Deste modo, a EPAMIG não se responsabiliza, expressa ou tacitamente, pelo uso indevido por parte de terceiros, das informações aqui disponibilizadas.

pesquisador da Embrapa/EPAMIG, com graduação em Meteorologia pela Universidade Federal do Pará, mestrado em Meteorologia Agrícola e doutorado em Engenharia Agrícola, ambos pela Universidade Federal de Viçosa. Atua, principalmente, em pesquisas sobre mudanças climáticas, aquecimento global, efeito estufa, impacto ambiental e emissão de CO2.

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