Artigo - Pesquisa com tipos especiais de grãos de arroz em Roraima

28.11.2008 | 21:59 (UTC -3)

Estudos de projeção de demanda realizados pelo International Rice Research Institute (IRRI) em janeiro de 1994, apontam a necessidade de aumentar a produção mundial de arroz em cerca de 70% em 2025. Além disso, estes mesmos estudos mostram um mercado internacional diferente do tradicionalmente conhecido.

Especialmente na Ásia, continente historicamente auto-suficiente, existe um alto potencial de demanda. Os países asiáticos terão que importar cerca de 10 milhões de toneladas de grãos nos próximos anos.

Vários são os fatores que tem contribuído para essa mudança no mercado mundial e entre esses, crescimento populacional, com a conseqüente expansão imobiliária em áreas rurais, é um dos mais importantes, aliado a falta de água para irrigação das lavouras. Tomemos como exemplo a China, maior produtor de arroz (190 milhões de toneladas em 1996), com um consumo per capita em torno de 133 kg de arroz branco/habitante/ano, que depara-se atualmente com o desafio de alimentar 1,2 bilhões de pessoas (22% da população mundial) com apenas 9% da terra agricultável disponível no mundo. Para fins de comparação cita-se o Brasil, cuja população equivale a 3% da população mundial e dispõe de 8% de terras agricultaveis do planeta.

Vários autores citam , ainda, que a população chinesa está crescendo em, aproximadamente, 14 milhões de pessoas por ano, e por outro lado, reduziu suas terras para a agricultura em 400.000 hectares, justamente devido a expansão imobiliária.Dessa maneira, para poder alimentar o país nos próximos anos, os chineses terão que importar grandes quantidades de cereais, e em especial, de arroz, que é o principal produto alimentar na dieta asiática.

Outro fator importante na mudança do mercado mundial diz respeito a rodada de negociações do GATT (Acordo Geral Sobre Tarifas e Comércio), realizado em 1995 no Uruguai, que permitiu a abertura de fronteiras para o mercado internacional, em especial, o fim das proibições e importações no Japão e Coréia. Neste cenário, das 10 milhões de toneladas de grãos de arroz demandados pelos países asiáticos, metade seria suprida por exportadores tradicionais como os Estados Unidos, Tailândia e Vietnã e a outra metade teria que ser suprida por países da América Latina e África. Considerando que nos países africanos há constante instabilidade política e econômica, é pouco provável que esses possam suprir essa demanda.

Abre-se, portanto, um mercado altamente promissor para o arroz produzido na América Latina, onde o Brasil pode liderar essas exportações.

Por outro lado, o mercado internacional é altamente organizado e competitivo, e sendo assim, é necessário que o Brasil se prepare imediatamente para ser exportador.Nos Estados Unidos, por exemplo, 20% da área cultivada com arroz no estado de Lousiana é com grãos que se destinam à exportação, principalmente par o mercado japonês.Concomitantemente, os programas de pesquisas estão intensificando o desenvolvimento e a avaliação de um grande número de linhagens com grãos japônica. Por outro lado, onde não predominam cultivares japônicas, o mercado internacional prefere grãos do tipo longo e aromáticos, cujo preço é duas vezes maior que cultivares não-aromáticas.

De um modo geral pode se dizer que no Japão, Coréia e algumas regiões da China são preferidos os arrozes de grãos curtos, arredondados e que “grudam” após o cozimento, enquanto que, na Índia, ocorre o emprego em larga escala de cultivares aromáticas. Os mercados da Europa e América têm como preferência grãos longos e finos. No entanto, sem sombra de dúvidas, o mercado asiático é o mais atraente devido a grande tradição e consumo elevado de arroz.

Além da demanda externa, o mercado brasileiro já vem acenando para a necessidade de diversificação de tipos de arroz para serem usados em receitas culinárias sem o acompanhamento do feijão.Restaurantes, empresas e importadoras, sintonizadas no processo de globalização, estão investindo em cultivares que apresentam grãos especiais para preparação de risotos e pratos oriundos da culinária asiática. Há estimativas que no Brasil a Colônia Japonesa seja de mais de 3 milhões de pessoas, consumidoras potenciais das comidas orientais, que utilizam como base arroz com grãos Japônica.

Do exposto, a pesquisa com arroz no Brasil procura se adequar a essa nova realidade mundial, gerando tecnologias que atendam as demandas do mercado, tanto em nível nacional como internacional.Como exemplo, a Embrapa desenvolveu e vem avaliando cultivares aromáticas (aroma de pipoca) em diversas regiões do país. Essas cultivares possuem atributos apreciados pelos consumidores brasileiros: processados e embalados, os grãos são translúcidos, com formato longo-fino (agulhinha) e após cozimento ficam macios e soltos.

Em Roraima, para as várzeas, onde predomina a agricultura empresarial com o cultivo de arroz irrigado, o enfoque é, além da obtenção de alta produtividade e excelente qualidade de grãos de cultivares com grãos de classe longo-fino(preferência no marcado nacional) desenvolver pesquisas para obtenção de cultivares com grãos Japonicas(próprios para a culinária japonesa), visando tanto o mercado interno, como o de Manaus-AM como também o mercado asiático. Com o início de funcionamento da Zona de Processamento de Exportação e das Áreas de livre Comércio de Boa Vista e Bonfim (ALC´s), recentemente aprovadas, Embrapa Roraima está atenta a esta possibilidade de negócio e intensificará a partir deste ano agrícola(2008/09), pesquisas com a introdução e avaliação de linhagens de arroz com grãos Japônicas em Roraima.

Engenheiro Agrônomo, Dr. em Genética e Melhoramento de Plantas

Pesquisador da Embrapa Roraima

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