Câmara de Flores debate Plano Agrícola e Pecuário 2009/2010
O capim italiano ou milheto e o sorgo forrageiro são as forrageiras anuais de verão mais comuns no sul do Brasil, pelo potencial de produção, rápido estabelecimento e bom valor nutritivo. Essas forrageiras são semeadas em áreas que foram utilizadas durante a estação fria com pastagens e são alternativas excelentes para rotação com a soja e o milho. Apesar do custo relativamente elevado de estabelecimento, por serem anuais, podem ser lucrativas como pastagens bem manejadas para ovinos, novilhas de reposição, engorda intensiva de bovinos, na produção leiteira. Além do desejável pastejo, podem ser destinadas à elaboração de silagem ou fornecido direto no cocho para bovinos confinados ou vacas leiteiras.
De maneira geral, na maior parte do mundo, a exploração em pastagem é a forma mais econômica de produção de carne e leite. Os ruminantes são os animais especialistas em converter fibra (celulose e hemicelulose), nutrientes de baixo valor para a alimentação do homem, em energia digestível. Essa digestão só é possível pela simbiose ruminal de bilhões de microorganismos cujo habitat é o rúmen de bovídeos. Os microrganismos do rúmen além da digestão dos constituintes da parede celular, fermentam outras frações orgânicas como os açúcares e amido, produzindo ácidos graxos voláteis que nutrem também o animal.
Os monogástricos, entre eles o homem e o suíno dependem de alimentos ricos em carboidratos não estruturais, como o amido e o açúcar, pois não têm as enzimas capazes de digerir a celulose. Atualmente pode-se produzir 1,0 kg de frango ou 1,0 kg de suíno com aproximadamente 2,0 kg de ração balanceada, enquanto para produzir o mesmo kg de carne vermelha são necessários pelo menos 5 kg de grãos, limitando a viabilidade econômica do confinamento de bovinos em nossas condições. Portanto, para reduzir o custo de produção de leite e outros produtos nobres derivados de ruminantes, deve-se usar o máximo possível de alimentos vindo de pastagens bem manejadas. Portanto, agropecuarista deve planejar com o seu Engenheiro-Agrônomo as pastagens necessárias para forragear os animais o ano todo. Nesse processo, deve-se buscar quantidade de forragem com elevado valor nutritivo, bem distribuídas ao longo do ano, para privilegiar o consumo à campo, buscando alta eficiência traduzida em ganho líquido por área.
O planejamento forrageiro para vacas de leite em nossa região inclui, normalmente, variedades de capim italiano e de sorgos. As duas espécies são forrageiras de máxima ótima eficiência produtiva durante a primavera e início de verão, mas de ciclo produtivo curto, resumindo-se muitas vezes a somente em torno de 90 dias de pastejo, principalmente devido a uma única época de semeadura, reduzidas fertilizações, especialmente nitrogenada e, do manejo em corte ou pastejo inadequado. O recomendado em sistema de pastoreio rotacionado é iniciar o pastejo quando as plantas atingem entre 60 e 80 cm e retirá-los da área quando as plantas atingirem 15 cm de altura em relação a superfície do solo (altura de resteva). O sorgo deve, obrigatoriamente, ser pastejado com altura superior a 50 cm, pois se pastejado muito jovem, altura de planta inferior a 50 cm, pode ser tóxico. Os sorgos têm graus variados de concentração de “durrina”, alcalóide nitrogenado, precursor do ácido cianídrido, que pode ser letal aos animais. Assim sendo, o pastoreio com lotação rotacionada, com alta carga animal (lotação instantânea alta) e curto período de pastejo, se possível um dia apenas por potreiro, seguido de adubação nitrogenada e período de repouso suficiente para a planta rebrotar rapidamente, que quando houver boa disponibilidade hídrica, pode significar pastejo a cada 3 semanas. Assim, o capim italiano e o sorgo forrageiro têm o mesmo manejo e podem permitir vários ciclos de pastejo, de 3 a até 8 pastejos, durante uma estação de crescimento de setembro/outubro até abril/maio.
Quais a vantagens de semear em mais de uma época?
A semeadura dessas gramíneas anuais de estação quente na região do Planalto e Missões do Rio Grande do Sul pode iniciar em setembro (Missões) e estender-se até início de fevereiro, quando visa-se produzir forragem durante o conhecido vazio forrageiro outonal (abril-maio), período de grande escassez de forragem de bom valor nutritivo. Nesses meses, as pastagens perenes de estação quente apresentam baixo valor nutritivo e as forrageiras anuais de estação fria ainda estão sendo estabelecidas. Em Passo Fundo, Rio Grande do Sul, em trabalhos liderados pelo autor na Embrapa Trigo, híbridos comerciais de sorgo, capim sudão (aveia de verão), variedades de milheto e teosinto (dente de burro) semeados em fevereiro, produziram 6,0 toneladas de forragem seca por hectare, com 17,8% de proteína bruta (PB), 60% de nutrientes digestíveis totais (NDT), 40% de fibra em detergente ácido (FDA) e 60% de fibra em detergente neutro (FDN). Quanto mais cedo na primavera for possível estabelecer com sucesso as forrageiras anuais de verão maior será a quantidade potencial de forragem produzida, mas concentrada no final de primavera e início de verão. O cenário comum são pastagens de sorgo e capim italiano mal fertilizadas, especialmente pouco nitrogênio, quando degradam-se no meio do verão, final de janeiro a meados de fevereiro, porém quando semeia-se parte da área cedo e após, a cada 3 a 4 semanas de intervalo, é possível distribuir melhor a forragem produzida e com melhor valor nutritivo. Dessa maneira pode-se dispor de forragem de gramíneas anuais de verão até o advento das primeiras geadas.
Para finalizar, ratifica-se que embora variedades e híbridos de sorgo forrageiro e milheto têm potencial de produzir mais de 15 toneladas de forragem seca por hectare quando semeados cedo, e que a medida que posterga-se a data de semeadura reduz-se o potencial de produção, é indispensável fazê-lo para melhorar a distribuição de forragem de qualidade para o fim de verão e início de outono. Quando citou-se 6.000 quilos de forragem seca por hectare, cerca de 40% do potencial das espécies, convém lembrar que as forrageiras anuais de inverno, aveia preta, azevém e mesmo os trigos forrageiros, produzem essa quantidade durante todo o inverno e primavera.
Renato Serena Fontaneli
Pesquisador da Embrapa Trigo, Passo Fundo, RS.
(54)3316.5800 / www.cnpt.embrapa.br
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