Férias no Informativo
Nos últimos 4 anos os consumidores de Manaus têm encontrado nas feiras e supermercados da cidade variedades de banana bastante diferentes das tradicionalmente conhecidas, como a Prata e a Maçã. Isto se deve ao aparecimento da doença sigatoka-negra, que entrou no país em 1998, pela fronteira entre Brasil, Peru e Bolívia, mais especificamente nos municípios de Tabatinga e Benjamim Constant.
Desde lá, os bananais de Prata, Maçã e Pacovan começaram a ser dizimados pela doença, tornando escassa a oferta desses tipos de banana, que não são resistentes à doença, e abrindo mercado para as novas cultivares resistentes.
É bom esclarecer inicialmente, que essa doença, causada por um fungo que ataca apenas as folhas das bananeiras e que proporciona a morte prematura da planta, refletindo na perda de produção, não afeta o ser humano. Um outro receio que os consumidores têm e que precisa ser esclarecido é que mesmo comendo frutos de banana Prata, por exemplo, cujas folhas da planta, não resistem ao ataque do fungo, mesmo assim, não há possibilidade desse fungo se desenvolver no corpo humano.
Além, do consumidor apresentar resistência em aceitar o sabor dessas novas bananas, tem ainda o receio de comer um produto que não sabe como foi obtido, principalmente num momento em que tentamos entender e aceitar a o consumo de produtos transgênicos.
O que o consumidor precisar saber é que todas essas novas cultivares de banana, contém gens apenas de espécies de banana e não de qualquer outras espécie, quer seja de origem animal ou vegetal.
Acontece que a bananeira se reproduz por meio de “filhos”, que normalmente não são obtidos pelo método tradicional que se conhece, cruzando óvulo e pólen, formando uma nova planta. Esse mecanismo de cruzamento natural, acontece com a maioria das plantas, mas em outras, existem alguns empecilhos que a própria natureza criou, que dificultam esse cruzamento. As plantas então conseguem desenvolver outras formas de se reproduzirem para evitar que sua espécie seja extinta. Foi isso que aconteceu com a bananeira.
Os “filhos”, ou “sementes” que a bananeira produz são o que chamamos de “clone”. São cópias idênticas a planta mãe porque não houve participação de outra planta que forneceria o pólen, que é o gameta masculino. Dessa forma não houve troca de genes entre planta mãe e planta pai, passando as características combinadas dos dois para os filhos. Esse mecanismo que a bananeira utiliza para se multiplicar, dificulta o aparecimento de tipos de bananeiras diferentes porque não há formação de sementes.
Na natureza é possível encontrar sementes em frutos de bananeiras ainda selvagens, que não são comestíveis. Nesses tipos de banana que consumimos diariamente, encontrar uma semente viável é algo muito remoto. Por isso, para que a ciência consiga obter novas variedades de banana é preciso que o cruzamento entre a planta mãe que possui o óvulo e a planta que vai doar o pólen, seja feito pela mão do homem. Mesmo assim, precisam ser feitas centenas de tentativas para se obter, às vezes uma semente que seja viável. Quando essa semente é plantada, a nova variedade também produzirá seus “filhos” sem cruzamento, logo esses filhos também serão considerados clones dessa nova planta.
Entre as novas cutivares de banana que encontramos nas feiras e supermercados, existem as que a própria natureza se encarregou de cruzar, dando origem a plantas resistente à sigatoka-negra e aptas ao consumo, e também aquelas que foram desenvolvidas pela ciência, que nada mais fez do que cruzar artificialmente uma planta com gens de resistência á doença com outra que apresentava sabor desejável, mas que não tinha resistência, obtendo assim o que chamamos de cultivar resistente.
Nos cruzamentos realizados para obtenção dessas novas variedades de banana, não houve participação de qualquer outra espécie organismo vivo, portanto os consumidores não precisam se preocupar em estar consumindo um produto geneticamente modificado, pois dentro dessas novas cultivares de bananas recomendadas pela Embrapa, só existem gens da bananeira.
Engenheira agrônoma com mestrado em Produção Vegetal, pesquisadora da Embrapa Amazônia Ocidental – Manaus/AM
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