Artigo: Importância do uso de sementes de boa qualidade de arroz irrigado para a safra 2011/2012
O sorgo sacarino é cultivado em diversas partes do mundo. O principal uso dessa gramínea tem sido a produção de grãos e forragens para alimentação animal. Segundo Durães (Revista Opiniões. Abr-Jun 2011), o sorgo sacarino, um tipo de Sorghum bicolor (L.) Moench, com alto potencial forrageiro, apresenta colmos com caldo semelhante ao da cana-de-açúcar, rico em açúcares fermentescíveis e pode servir para a produção de etanol na mesma instalação utilizada pela cana-de-açúcar. Trata-se também de uma das alternativas para reforma ou substituição de canaviais. A seleção de espécies de expressão econômica deve contribuir para atender aos interesses de produção de alimentos e energia. Neste contexto, por meio de um estudo da concorrência ampliada de Porter (Estratégia Competitiva. 2a. ed. 2004), aplicada aos produtos do sorgo sacarino (etanol e bioeletricidade), algumas propostas são apresentadas e discutidas como contribuições para uma melhor competitividade desta cultura na entressafra da cana.
Para Michael Porter, o sucesso de uma empresa está ligado a dois fatores: o desempenho do setor em que a empresa atua e o respectivo posicionamento nesse setor. Podemos estender o conceito para os produtos gerados do sorgo sacarino, considerando os diversos agentes que atuam na cadeia produtiva desta cultura, como também as diversas estratégias para o uso competitivo na entressafra da cana-de-açúcar. Pelo conceito de concorrência ampliada, fornecedores, clientes, investidores, culturas e produtos substitutos, assim como novos entrantes podem ter maior ou menor importância, dependendo do contexto avaliado.
A cadeia de agronegócio do sorgo sacarino abrange fornecedores de insumos e equipamentos para a fase agrícola e também para a fase industrial. Usinas e agricultores como agentes produtores da fase agrícola (plantio, cultivo, colheita, transporte) e da industrial (moagem, produção de etanol e de bioeletricidade). Os atacadistas são representados pelos postos de gasolinas, distribuidoras e também pelas concessionárias de energia elétrica. O mercado consumidor, por sua vez, consome os produtos gerados do sorgo, a exemplo de etanol e bioeletricidade. Considerando toda a cadeia produtiva, a concorrência ampliada dos produtos do sorgo sacarino é formada por concorrentes do setor, fornecedores, novos entrantes, investidores, clientes, sociedade, sindicatos, ONGs, produtos substitutos e governo, conforme a Figura, que é adaptação do autor das cinco forças competitivas de Michael Porter.
Um exemplo da influência da concorrência ampliada é a decisão de plantar ou não o sorgo na entressafra da cana-de-açúcar. O mercado, neste caso, pode ser diretamente afetado de forma positiva. Outro aspecto é que o mercado de sorgo sacarino está se tornando atrativo com novas empresas e investidores entrando na cadeia do agronegócio, trazendo novas competências e capacidades de melhores margens financeiras.
Atualmente já existem bons investimentos em sorgo sacarino no Brasil, como por exemplo os realizados pela Embrapa e pela Monsanto/Canavialis. Com parceria da Canavialis, a Usina Cerradinho, de Catanduva (SP), cultivou 1,2 mil hectares de sorgo sacarino e produziu 1,4 milhão de litros de etanol no final de março/2011, conforme informação divulgada pelos próprios investidores. O negócio faz parte de um projeto desenvolvido desde 2004 com híbrido do sorgo. No momento, os testes com as novas sementes estão sendo realizados em mais 11 usinas, totalizando 3,1 mil hectares de plantio.
No setor público, a Embrapa Milho e Sorgo trabalha com variedades de sementes de sorgo sacarino desde a década de 70. Conforme Dias e Borgonovi (Produção de Álcool de Sorgo Sacarino. Alguns Resultados de Interesse para o Processamento em Escala Industrial. Embrapa, 1981), a Embrapa vem desenvolvendo, desde 1976, um programa de pesquisa com esta cultura, abrangendo as áreas de Fitopatologia, Entomologia, Fertilidade, Genética e Melhoramento, entre outras. Na safra de 1981, foram instaladas microdestilarias nas Unidades da Embrapa Arroz e Feijão (Goiânia, GO), Embrapa Gado de Corte (Campo Grande, MS), Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas, MG) com as cultivares BR 500 (Rio), BR 501 (Brandes) e BR 602. Atualmente, a Embrapa mantém no mercado duas cultivares do sorgo sacarino (BRS 601 e BRS 602), cujos testes em laboratório mostraram que é possível chegar a aproximadamente 4 mil litros de etanol por hectare. Novas variedades de sorgo sacarino estão sendo avaliadas pela Embrapa Milho e Sorgo em diversas regiões brasileiras. Conclui-se que o mercado do sorgo está bastante atrativo e não existem barreiras consideráveis para que um novo negócio se estabeleça no setor. Esperam-se novos entrantes e grandes volumes de investimentos nesta cultura nos próximos anos.
Outro aspecto a destacar são os diversos substitutos para os produtos do sorgo sacarino na entressafra, não considerando o etanol da cana-de-açúcar. Um exemplo é o plantio do amendoim, concorrendo ainda na fase agrícola. Na fase industrial, a bioeletricidade a partir do bagaço não utilizado da safra de cana ou até mesmo o biogás, gerado a partir de biodigestores, concorrem com o sorgo sacarino e são exemplos de produtos substitutos. Análise de ciclo de vida, pegada hídrica e agricultura familiar na cultura do sorgo sacarino são exemplos de pressões por conta da sociedade, governo e Organizações Não Governamentais.
Por outro lado, as políticas do governo impactam diretamente o mercado dos produtos gerados do sorgo, a exemplo das regulações, políticas agrícolas e também, de linhas de crédito do BNDES e do Banco do Brasil, com taxas de juros mais baixas que as praticadas no mercado, como as que anunciadas em agosto/2011 para o etanol. Quanto aos fornecedores, os insumos e equipamentos são bem próximos da cultura da cana. Neste aspecto, deve ser considerada a cultura na entressafra da cana para que não ocorra uma concorrência desta força competitiva. Deve-se aproveitar a capacidade instalada das usinas e também o poder de negociação já implantado.
Quanto aos compradores, na visão de Porter, se forem poucos e poderosos, certamente forçarão as condições de compra e os preços para baixo. Neste aspecto, a cultura do sorgo sacarino atua de forma positiva para a demanda de etanol, possibilitando suprir eventuais problemas de oferta, estabilizando o seu preço na entressafra, como também mantendo competitivo o mercado de bioeletricidade.
O Brasil está vivendo aumentos dos preços de etanol e riscos de desabastecimento nos períodos de entressafra. Os problemas de estoque e de alta nos preços do etanol continuarão a ocorrer nesses períodos. O sorgo sacarino, que produz etanol a partir da mesma levedura que a cana e é plantado justamente na fase da entressafra dessa, surge como uma possível solução. A cultura do sorgo sacarino é uma alternativa viável sob os pontos de vista agronômico e industrial, para a produção de etanol e bioeletricidade.
O sorgo sacarino na entressafra é uma estratégia indicada para elevar a produção de etanol sem concorrência com a cultura de cana. A sua colheita utiliza os mesmos equipamentos da cana, reduzindo o período de ociosidade da indústria. Mesmo com produtividade menor em relação à cana-de-açúcar, a alternativa é viável considerando o ciclo completo de produção das duas culturas. Essa decisão estratégica poderá mitigar os riscos de falta de etanol, ajudar na estabilização dos preços desse produto e reduzir a importação de etanol e gasolina. Do ponto de vista da análise da concorrência ampliada é uma estratégia perfeitamente viável e cuja implantação deve ser conduzida o mais rapidamente possível.
Embrapa Agroenergia
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