Artigo - A instrumentação a serviço do homem: breve visão histórica

23.12.2009 | 21:59 (UTC -3)

A instrumentação está em nossas vidas desde o momento que nascemos, isto é, já nascemos instrumentados naturalmente.

Nascemos com olhos, sensor óptico para captação de luz e geração de imagem; nariz, condutor e detector de gases; língua, sensor da presença de compostos com características ácidas, doce e amarga; dentes, instrumento de corte e esmagamento; ouvidos, sensor sonoro e de direção; mãos, instrumento mecânico de suporte e força, pernas e pés, instrumento de locomoção e de equilíbrio; coração, uma bomba aspirante premente similar a uma bomba de puxar água; nervos, sensores de toque, de temperatura e tantos mais. Assim, desde os primórdios que já somos instrumentados como todos os seres na natureza o são para que possam viver e progredir.

O texto que se segue é uma breve visão evolutiva da instrumentação apoiando o progresso do ser humano. É uma reflexão que deixo para o leitor de forma que possamos ver a nossa vida mais abertamente. Se fossemos fazer um levantamento histórico dos instrumentos que o homem já criou e/ou usa no seu dia-a-dia, muitas árvores seriam necessárias para imprimir tantas informações. Felizmente, as bibliotecas já colecionam partes dessas informações e outras nem se quer estão devidamente documentadas, pois fazem parte de criadores anônimos.

Assim, nessa breve visão sobre a importância da instrumentação em nossas vidas quero lembrar que no passado, muito longínquo, ainda quando não éramos predadores, usávamos as mãos, os dentes, os pés, os sentidos como instrumentos para locomoção, para cortar, para sentir e observar o ambiente em nossa volta. Passados milhares de anos, descobrimos que uma pedra poderia ser usada para espantar e atingir animais. E quando nela se fazia uma pequena ponta afiada poderíamos usá-la como ferramenta de corte. Começou nosso progresso instrumental. Passamos de presa para predador, já conseguíamos caçar e cortar os animais que faziam parte da nossa dieta primitiva. Por muitos e muito anos uma simples pedra fez a diferença na nossa vida. Depois nós conseguimos controlar o fogo e usá-lo para as nossas atividades tanto de caça como para se esquentar e proteger naqueles tempos da era glacial. Com este, modificamos nossa vida e nossos hábitos, pois conseguíamos moldar metais e melhorar os instrumentos de trabalho. Juntamente com as descobertas, sejam elas casual ou intelectual, crescíamos em conhecimentos e passávamos para os demais em nossa volta, dominando cada vez mais o ambiente e diminuindo as dificuldades pelas quais éramos submetidos.

Nós evoluíamos paulatinamente, na busca de melhor viver e suportar as mudanças que o ambiente nos proporcionava. Mudamos de aspecto, deixamos de andar curvo, quase em quatro patas, para nos tornarmos ereto, corpo mais flexível, estrutura mais moldável, gestos menos grotescos, crânio desenvolvido, tudo isto devido às conquistas evolutivas ao longo dos milhões de anos. Com o passar dos tempos, havíamos desenvolvido a fala como um novo instrumento natural de comunicação com os demais ao nosso redor.

O tempo passa, vamos nos encontrar dominando os metais, trabalhando a lavoura, produzindo nosso sustento. Ao invés de procurarmos os frutos nativos oferecidos na natureza já conseguíamos cultivar. Já temos vida social estabelecida que exigia maiores cuidados quanto a saúde e bem-estar da população. Já formavam famílias, tribos, nações. Procuramos viver em sociedade, mas para isto foi necessário desenvolver regras. Nesse meio tempo, surge o arado manual ou puxado por animais já domesticados como instrumento capaz de abrir o solo e semear as sementes já dominadas para alimentação. Essas evoluções eram acompanhadas pelos instrumentos naturais e artificiais. Nós já produzíamos nossos instrumentos possibilitando melhores condições de sobrevivência diante das adversidades. Passamos a observar mais detalhadamente o firmamento, o Sol e a Lua, suas influências na vida terrestre. Aprendemos, assim, a dividir o tempo e calcular calendários que possibilitassem determinar o momento de plantar e de colher. Marcar o tempo se tornou fundamental para coordenar hábitos e tarefas.

Para isto, criamos o relógio com base na presença do Sol, na projeção de sua sombra e no pingo d’água, posteriormente observamos o balanço de um pêndulo e construímos o relógio mecânico. A agricultura passa a ser atividade essencial no abastecer a população com alimentos em maior quantidade. Desenvolvemo-nos sempre buscando descobrir novas oportunidades de construir uma vida melhor, buscamos melhorar nossos instrumentos e descobrir outros novos com maiores potencialidades. Vimos os rios, então construímos embarcações, vimos os mares quisemos saber onde dariam. A inteligência associada à curiosidade e a imaginação nos levaram a descobrir novas terras, mas sempre tendo a instrumentação como aliada tanto nas decisões quanto nas ações. Crescemos em saber, formam-se as ciências em todos os seus ramos, elaboramos artes, seja na música, na pintura, na escultura, na literatura de todos os matizes. Estamos em marcha, seguimos o progresso coletivo e determinístico. Dominamos algumas forças da natureza, como a eletricidade e magnetismo, parte da luz e dos átomos. Construímos máquinas cada vez mais capazes que até expressam certa inteligência. Nos comunicamos mais rapidamente, temos os telefones, a televisão, a internet, os automóveis, os aviões e tantos mais. Até fomos à lua, desejamos Marte e transformamos os computadores em eletrodomésticos.

Nessa corrida no tempo, temos que sempre evidenciar a participação em nossas vidas das instrumentações na agropecuária que ajudam a produzir mais alimentos, base fundamental da nossa existência terrestre. Tivemos os arados primitivos, depois as máquinas a vapor, hoje os diferentes tratores associados aos seus implementos que sulcam a terra, semeiam e, em tempo, colhem automaticamente. Colocamos nessas máquinas toda espécies de dispositivos possíveis capazes de determinarem, em tempo real, a quantidade, a qualidade dos produtos agrícolas, as condições climáticas, de geoprocessamento, dos solos e tantos mais. A isto chamamos de tecnologia aplicada ao campo.

Nesse escopo de atividade, encontramos a Embrapa Instrumentação Agropecuária, congregando as mais diversas fontes de conhecimentos sobre a agropecuária acumulados ao longo de todo esse tempo de evolução. Hoje contamos com pesquisas em diversas áreas desse conhecimento. Desenvolvemos sensores capazes de identificar sabor e cheiro, temos analisado o solo na sua intimidade para melhor entendermos o seu mecanismo na natureza. Procuramos entender o solo para melhor aproveitar seus recursos em interação com as plantas. Também, o entendimento dos mecanismos das plantas quanto à capitação da luz solar e da água na produção de nutrientes transformados em alimentos são objetivos de estudos. Procuramos entender os ataques dos microorganismos, para melhor combatê-los ou usá-los em nosso proveito na produção de novos produtos. Procuramos entender o clima para prever as mudanças e as intempéries. Estudamos meios de assegurar qualidade alimentar. Queremos mais, estudar novos materiais a partir da unidade básica da matéria em escala ínfima e colaborar na formação de novas fontes energéticas através de estudos dirigidos visando o futuro do Planeta e das novas gerações.

Reflitamos sobre a nossa vida sem os instrumentos que temos e que desenvolvemos à medida que o nosso saber cresce como condição inevitável para o ser na marcha para o progresso.

Washington Luiz de Barros Melo

Pesquisador

Embrapa Instrumentação Agropecuária

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