Agricultura brasileira é modelo de desenvolvimento para outros países da faixa tropical do globo

Ciência aliada à sustentabilidade para segurança alimentar foi debate na abertura da Semana Internacional da Agricultura Tropical

23.03.2021 | 20:59 (UTC -3)
Embrapa

O modelo de agricultura tropical, baseado em ciência, tecnologia e inovação implementado no Brasil, que tornou o País um dos principais atores mundiais do setor, é o caminho para fortalecer os países em desenvolvimento do cinturão tropical, afirmaram especialistas reunidos no dia 22 de março para abertura da Semana Internacional da Agricultura Tropical (AgriTrop 2021), organizada pela Embrapa e pelo Instituto Internacional de Cooperação para a Agricultura (IICA). O evento conta com mais de 1.000 inscritos que até sexta-feira (26/03) vão acompanhar as contribuições de especialistas de vários países sobre tecnologias de base sustentáveis voltadas ao desenvolvimento da agricultura tropical e segurança alimentar. Mais informações sobre links de transmissão e programação estão disponíveis na página do evento.

As mudanças climáticas e o mundo pós-pandemia foram mencionados como desafios que levam à necessidade de estreitar cooperação entre as nações em prol da redução de desigualdades sociais. “A agricultura tropical é um dos caminhos para reduzir a fome e garantir a paz e a segurança alimentar nos países das Américas, África e Ásia”, disse o ex-ministro da Agricultura Alysson Paolinelli, indicado para receber o Prêmio Nobel da Paz em 2021 e o homenageado do AgriTrop2021.

Segundo Paolinelli, o Brasil é o exemplo concreto de que a ciência é capaz de transformar realidades. Importador de alimentos na década de 1970, o País é hoje uma potência agrícola mundial, responsável pela alimentação de 800 milhões de pessoas em mais de 160 países. O Cerrado brasileiro, considerado improdutivo, é um dos destaques em produtividade na agricultura e responde por 60% da produção de grãos nacional. Para ele, é fundamental que haja mobilização mundial entre as nações para levar conhecimento, tecnologia e inovação aos países mais pobres da franja tropical. “Onde há fome e desigualdade, não há paz. A agricultura é a base da segurança alimentar e da paz mundial”, destacou o ex-ministro, lembrando que os problemas enfrentados em alguns países impactam os conflitos mundiais. “Por isso, reforço que os esforços em prol do desenvolvimento agrícola das Américas, Ásia e África é um problema de todos e deve envolver ações em conjunto e busca de recursos em agências de fomento mundiais. Eu tenho um sonho, mas não sou o único, vamos sonhar juntos?”, questionou Paolinelli.

A realização da Semana Internacional de Agricultura Tropical é o primeiro passo nesse sentido, como explicou o presidente da Embrapa, Celso Moretti. “Nesse evento, vamos contar com mais de 20 especialistas de vários países para compartilhar expertises na área de agricultura tropical”, lembrou.

O diretor-geral do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), Manuel Otero, sugeriu institucionalizar a Semana Internacional de Agricultura Tropical, como forma de não apenas aumentar ganhos científicos e tecnológicos do Brasil, conseguidos por meio dessa modalidade, como também estender a outros países e ofereceu o IICA para se envolver neste objetivo. “Com seu potencial, a Semana Internacional de Agricultura Tropical pode e deve se transformar em um grande movimento irradiador da saga fenomenal que o Brasil experimentou nos últimos 50 anos principalmente para nossa região e especialmente para os países da franja tropical da América”, propôs.

“Temos uma oportunidade de ouro para levar os conhecimentos e inovações do Brasil a países da América que necessitem de insumos para garantir a segurança alimentar de suas populações, aumentar a produtividade, deter a migração para as cidades e iniciar um ciclo virtuoso que melhore a renda dos produtores e posicione os territórios rurais como zonas de progresso e oportunidade”, completou Otero.  

O diretor do IICA chamou a atenção também para o fato de que o evento reunirá subsídios para a Cúpula dos Sistemas Alimentares das Nações Unidas, marcada para setembro e que, semanas antes, a Junta Interamericana do IICA, que reúne ministros de agricultura da região, terá uma grande oportunidade par elaborar uma agenda convergente com este objetivo.  

O coordenador de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas e ex-ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues, endossou a iniciativa da Embrapa e do IICA para reforçar a possibilidade concreta de a agricultura alimentar o mundo. “Há um esforço a ser disseminado a países da América Latina, África e Ásia da faixa tropical”, comentou.

Agricultura movida a ciência

Segundo o presidente da Embrapa, a evolução impressionante da agricultura brasileira ao longo das últimas cinco décadas levou a um crescimento sem precedentes no mundo. Ele citou três exemplos significativos que comprovam esse cenário. A cafeicultura cresceu quatro vezes nos últimos 25 anos; a produção de leite saltou de 5 bilhões para 35 bilhões de litros, ou seja um aumento de sete vezes; e a de frango foi ampliada em 65 vezes.

Rodrigues acrescentou que, dos anos 1990 até hoje, a área plantada com grãos no Basil cresceu 80% e a produção de grãos, 370%, mais de cinco vezes a área plantada. “A tecnologia gerou ganhos de produtividade por hectare. Hoje temos 68 milhões de hectares com grãos, fazemos duas e até três safras por ano. Se tivéssemos hoje a mesma produtividade de 30 anos, seriam necessários 110 milhões de hectares para produzir a safra que colhemos em 2020/2021, portanto, a agricultura tropical brasileira é sustentável por definição”, disse. 

Otero, que foi representante do IICA no Brasil por duas vezes, contou que foi testemunha ocular da transformação agrícola do País e que hoje, outros países sonham em ter um sistema e uma estrutura dedicada à pesquisa agropecuária como a da Embrapa. “Nos anos 1980, vi um Brasil vulnerável, com oferta reduzida de produtos de exportação, mas 25, 30 anos depois, quando voltei, encontrei outro país”, pontuou.

Moretti reforçou que por trás desses números, está a ciência. As instituições de pesquisa e ensino públicas e privadas, em parceria com a extensão rural, conseguiram desenvolver um sistema robusto de inovação. Três são os pilares responsáveis por essa evolução: a transformação de solos ácidos em férteis; a tropicalização de plantas e animais; e a criação de uma plataforma de produção sustentável. “Graças a esses esforços integrados, conseguimos reduzir o preço da cesta básica em 50%”, complementou Moretti.

Para o presidente da Embrapa, a revolução agrícola no Brasil vivencia atualmente uma nova onda, a da sustentabilidade. O Código Florestal Brasileiro, a Agricultura de Baixo Carbono, os sistemas integrados de produção e técnicas como plantio direto têm garantido e aumentado o desenvolvimento da agricultura tropical sob bases sustentáveis. “Os sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, que ocupam hoje no País uma área superior a 17 milhões de hectares, aumentam a produtividade, ao mesmo tempo em que incorporam carbono e reduzem a emissão de gases de efeito estufa (GEEs)”, explicou.

“Até 2050, a produção brasileira deve ultrapassar 500 milhões de toneladas de grãos e com a tecnologia provida pela pesquisa agropecuária não precisamos avançar por áreas de florestas e matas nativas. Temos hoje no País uma área de pastagens degradadas de cerca de 60 milhões de hectares, que está sendo incorporada à produção”, pontuou Moretti.

Por fim, ele destacou que a Embrapa apoia incondicionalmente a candidatura de Alysson Paolinelli ao Prêmio Nobel da Paz, lembrando que a trajetória do ex-ministro se confunde com a da própria agricultura brasileira. O diretor-geral do IICA complementou, enfatizando que “a transformação da agricultura brasileira é um reflexo da atitude visionária dos protagonistas dessa saga extraordinária, entre os quais se destaca Paolinelli. Ele sempre defendeu a necessidade de desenvolver a agricultura nos trópicos utilizando como fomento o conhecimento científico e o desenvolvimento da institucionalidade com a Embrapa como bandeira”, disse. 

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