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O elevado custo de controle da ferrugem-asiática (média de U$ 2,8 bilhões por safra), assim como as consequências da resistência do fungo causador da doença (Phakopsora pachyrhizi) aos fungicidas, a redução da eficiência desses produtos e as estratégias existentes para garantir a sustentabilidade da produção de soja permearam a discussão nesta quinta (30) e sexta (31) durante o Workshop sobre a Ferrugem-asiática da soja: situação atual e desafios.
O evento coordenado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), no Auditório Assis Roberto de Bem, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília (DF) reuniu cerca de 90 representantes da cadeia produtiva da soja. Participaram do evento: Departamento de Sanidade Vegetal e Insumos Agrícolas, da Secretaria de Defesa Agropecuária do Mapa, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), de entidades do setor produtivo, além de representantes dos Órgãos Estaduais de Defesa Agropecuária dos principais estados produtores de soja no Brasil.
Para a coordenadora do evento, Graciane Castro, do Programa Nacional de Controle da Ferrugem Asiática da Soja (PNCFS) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o objetivo é uniformizar as informações provenientes da pesquisa científica, as experiências de regulação, demandas e impactos no setor da soja ocasionados pela doença. Graciane apresentou as medidas legislativas para o manejo da doença no Brasil, como o vazio sanitário e a calendarização da semeadura da soja.
O vazio sanitário é um período de, no mínimo, 60 dias sem plantas vivas de soja no campo. “O objetivo do vazio sanitário é reduzir a sobrevivência do fungo causador da ferrugem-asiática durante a entressafra e assim atrasar a ocorrência da doença na safra”, diz. No Brasil, 13 estados e o Distrito Federal adotaram essa medida, estabelecida por meio de normativas.
A pesquisadora da Embrapa Soja Cláudia Godoy, que também foi palestrante, reforçou a importância dessas medidas como importantes estratégias para o manejo da doença. Ao justificar a importância do vazio sanitário, Claudia explicou que o fungo que causa a ferrugem-asiática é biotrófico, o que significa que precisa de hospedeiro vivo para se desenvolver e multiplicar. “Ao eliminarmos as plantas de soja na entressafra "quebramos" o ciclo da doença, reduzindo assim a quantidade de esporos do fungo presentes no ambiente”, diz. “Por isso, a relevância de mantermos o vazio sanitário”, destacou.
Calendarização da semeadura - A outra medida legislativa vigente no Brasil é a calendarização da semeadura, que prevê a determinação de data-limite para semear a soja na safra. É estabelecida por normativas estaduais em sete estados produtores de soja: Goiás, Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina, Tocantins, Bahia e Mato Grosso do Sul. O objetivo da calendarização é reduzir o número de aplicações de fungicidas ao longo da safra e, com isso, reduzir a pressão de seleção para resistência do fungo aos fungicidas.
Godoy reforça que já foram constatados no campo populações menos sensíveis a fungicidas "triazóis", "estrobilurinas" e "carboxamidas". A pesquisadora explica que as semeaduras tardias de soja podem receber populações do fungo já no início do desenvolvimento da lavoura, o que exige a antecipação do uso de fungicidas e demanda maior número de aplicações. “Quanto maior o número de aplicações, maior a exposição do fungo aos fungicidas e maior a chance de acelerar o processo de seleção de populações resistentes a esses fungicidas”, reforça. “E apesar da contribuição dos fungicidas, a redução da eficiência dos produtos disponíveis no mercado vem sendo observada desde a safra 2007/08 em função da adaptação do fungo”, explica.
Perspectiva do mercado - Durante o evento, a janela de semeadura no manejo da ferrugem-asiática da soja foi tema de um painel, durante o Workshop, que contou com a participação do setor produtivo. Para abordar os cenários futuros na perspectiva do manejo da ferrugem-asiática foi convidado o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), Luiz Antonio Pinazza.
A discussão sobre a demanda do setor produtivo em relação ao calendário de semeadura da soja foi apresentada pelo presidente da Aprosoja Brasil, Bartolomeu Braz Pereira. “A ferrugem traz impactos econômicos aos produtores rurais e grandes preocupações. Hoje os fungicidas, ao lado da semente, são os insumos que mais impactam no custo de produção”, destacou. “Por isso, precisamos tomar decisões respaldadas em pesquisa cientifica para não haver prejuízos maiores”, defende. Pereira também destacou que a Aprosoja defende a produção de semente própria – como alternativa para redução de custos – mas em Mato Grosso, essa prática tem sido dificultada pelas medidas legislativas atuais.
A visão da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), sobre o limite da janela de semeadura da soja foi apresentada pelo presidente da instituição, Luís Alberto Novaes, que defendeu o papel relevante da pesquisa, mas alertou para a necessidade de se ressaltar a visão de cada estado.
O presidente da Cooperativa Bom Jesus, Luiz Roberto Baggio, representando a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) também disse concordar com a importância da pesquisa para definir a calendarização da semeadura, mas entende que as particularidades de cada estado deveriam ser consideradas. Baggio apresentou preocupação especial com o Paraná. “É que a diferença de calendário da soja entre lavouras do sudoeste do Paraná e de Santa Catarina, muitas vezes vizinhas, gera insatisfação entre os produtores do sudoeste do estado que se sentem prejudicados”, reflete.
Variabilidade genética e outras visões- Para apresentar os aspectos da variabilidade genética do fungo Phakopsora pachyrhizi, o professor Sergio Hermínio Brommonschenkel, da Universidade Federal de Viçosa (UFV) destacou que o mecanismo de variabilidade do fungo promove adaptação às diferentes medidas de controle existentes para a ferrugem, tanto para o controle genético quanto para o controle químicos. “A mutação é um mecanismo natural, por isso, os esforços devem ser direcionados para se tentar reduzir a população do fungo e manter sua capacidade adaptativa mais restrita”, enfatizou Brommonschenkel.
Também houve espaço para a apresentação do monitoramento da resistência do fungo aos fungicidas em palestra realizada pelo presidente do Comitê de Ação à Resistência da Ferrugem (FRAC), Luiz Demant. “Temos acompanhado o processo de resistência no Brasil e o papel do FRAC é incentivar a adoção das boas práticas existentes para reduzir o impacto da resistência nas lavouras brasileiras e manter a eficiência dos fungicidas por mais tempo”, destacou.
O representante da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), Fábio Kagi, apresentou um levantamento com os 16 fungicidas que estão em fase de registro. Do total, 10 são de grupos já utilizados para o controle da ferrugem da soja e 6 deles não devem ser indicados para soja. “Estes novos produtos têm modos de ação similares aos que já são utilizados, mesmo assim, irão trazer maior eficiência ao manejo da doença”, defende. “Também reforço ser muito importante a adoção de estratégias integradas do manejo da ferrugem, com respeito às medidas legislativas, para que a vida útil dos fungicidas possa ser prolongada por mais tempo”, ressaltou.
A palestra sobre as consequências do cultivo de soja tardia para resistência a inseticidas foi abordada por Daniela Okuma, do Comitê Brasileiro de Resistência de Inseticidas (IRAC). O workshop foi finalizado com a palestra do pesquisador da Embrapa Soja, Francisco Krzyzanowski, sobre tecnologias para produção de sementes. O pesquisador apresentou resultados da qualidade de sementes no Brasil em três safras (2014/15; 2015/16 e 2016/17), cujas dados foram coletados em amostras de 12 estados. Krzyzanowski mostrou que o Brasil tem altos níveis de germinação e de vigor de semente de soja. Na safra 2016/17, a média de germinação foi de 91%. “Em Mato Grosso - maior produtor de soja -, por exemplo, a média foi 93%, revelando que há tecnologias no Brasil para produção de soja de qualidade”, destacou.
Com relação ao vigor da semente, na safra 16/17, a média nacional, foi de 82 %. O estado de Mato Grosso superou a média nacional atingindo 84% de vigor nas sementes. “Estes dados dão um panorama da ótima qualidade da semente de soja que é produzida no Brasil”, ressaltou Krzyzanowski. O pesquisador também apresentou quais fatores podem interferir na qualidade da semente como dano mecânico na colheita ou ataque de percevejos, por exemplo. “Mesmo assim, temos tecnologias disponíveis para superar todos os fatores que afetam a qualidade de sementes de soja no País”, finalizou. O diretor do Departamento de Sanidade, Vegetal e Insumos Agrícolas do Ministério da Agricultura, Carlos Goulart, conduziu as discussões de encerramento do evento.
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