Workshop estimula cooperação em PD&I e o setor produtivo para a cadeia de cana

Com este objetivo, a Embrapa Informática Agropecuária e a Coplacana promoveram um workshop de cooperação técnica

04.07.2019 | 20:59 (UTC -3)
Nadir Rodrigues​

Alinhar as principais demandas do setor produtivo em soluções de tecnologia da informação às linhas de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) da Embrapa para a cadeia de cana-de-açúcar. Com este objetivo, a Embrapa Informática Agropecuária e a Coplacana promoveram, em 2 de julho, um workshop de cooperação técnica envolvendo pesquisadores e representantes de empresas estratégicas que atuam na área.

O intuito é estimular uma maior aproximação entre a equipe técnica da Empresa e de instituições de ensino e pesquisa com representantes de produtores e da indústria sucroalcooleira. As ações buscam, principalmente, identificar oportunidades de cooperação e facilitar as parcerias para o desenvolvimento de soluções tecnológicas que contribuam para o aumento da produtividade da cultura.

“A cadeia produtiva da cultura da cana no Brasil já é tradicionalmente reconhecida como uma das maiores, mais organizadas e modernas do mundo, colocando o País em destaque não só pela produção de açúcar, como também pela vanguarda no uso de combustíveis renováveis e pela geração de bioeletricidade a partir da queima do bagaço e da palha da cana. Muito desse resultado se deve ao histórico de décadas de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias aplicadas ao setor. No entanto, os tempos mudaram e novos desafios surgiram, criando demandas por novas soluções”, de acordo com o pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária Geraldo Magela Cançado.

O pesquisador da Unidade Fábio Cesar da Silva, um dos coordenadores técnicos do workshop, explicou que o evento foi organizado no modelo que a Embrapa está adotando nesta nova fase de reorganização da pesquisa na Empresa, isto é, buscando definir as pesquisas em conjunto com o setor demandante por soluções e os atores da cadeia produtiva. Com isso, também ampliam-se as opções de captação de recursos e o compartilhamento dos custos da pesquisa, o que deve gerar maior entrosamento e comprometimento entre as partes, na visão de Cançado, que integrou a coordenação.

“A grande importância desse evento é que ele materializa exatamente o que nós estamos preconizando que todas as Unidades façam, ou seja, o contato direto com o setor produtivo, conhecer as demandas deles em termos de tecnologia e estabelecer parcerias e projetos para produzir essas tecnologias especificamente”, afirmou o pesquisador Juarez Barbosa Tomé Junior, da Secretaria de Pesquisa e Desenvolvimento (SPD).

Para o chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Informática Agropecuária, Stanley Oliveira, as tendências indicam que a agricultura terá cada vez mais soluções tecnológicas para monitoramento da produção em tempo real. Ele apresentou vários resultados do centro e as linhas de pesquisa em temas relativos às áreas de bioinformática e biologia computacional, computação científica e automação agrícola, modelagem agroambiental e geotecnologias, e sistemas de informação.

As mudanças no macroprocesso de pesquisa e as estratégias para atingir as metas de inovação da Empresa, com a reorganização dos portfólios, foram tema da palestra do pesquisador da SPD. Tomé destacou os desafios de levar os resultados de inovação à sociedade, ressaltando a necessidade de se envolver os parceiros do setor produtivo no desenvolvimento das soluções. Também mostrou as ações recentes da Embrapa para incentivo às parcerias, como a descentralização de recursos e a capacitação interna em negócios.

A articulação para prospecção de fontes de financiamento e submissão conjunta de projetos de pesquisa também foi tema de debate. O professor Cassio Hamilton Abreu, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da Universidade de São Paulo (USP), abordou programas de apoio à pesquisa, com foco em inovação, coordenados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Maior produtividade e demandas do campo

Durante o workshop, houve apresentações de representantes das empresas Embracal, Granbio, Plant Health Care e do patrocinador do workshop, grupo Vittia, que expuseram as principais demandas em suas áreas de atuação. Para o gerente de desenvolvimento de mercado para cana e citrus da Vittia, Luis Herling, o sonho do setor é atingir a cana de três dígitos, ou seja, atingir uma produtividade de mais de 100 toneladas por hectare (t/ha). Atualmente, o valor médio é de 76 t/ha, mas com investimento em pesquisa e em boas práticas agrícolas, acredita-se que será possível realizar esse sonho.

O diretor comercial da Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo (Coplacana), Roberto Rossi, ressaltou a importância do cooperativismo, que gera 250 milhões de empregos e está presente em 100 países, congregando 1 bilhão de pessoas. No Brasil, os estados do Paraná e São Paulo são os que mais possuem cooperativas agropecuárias, sendo 18 paulistas e 61 paranaenses.

Rossi também enfatizou a necessidade de trazer as demandas do campo para as discussões com as instituições de pesquisa como a Embrapa, que é um ícone mundial do agronegócio brasileiro, além da Unicamp e da USP, visando fortalecer o trabalho da Coplacana. “A gente quer aproveitar muito a expertise dos especialistas da Embrapa para nos ajudar a criar soluções para problemas que já existem no campo”, contou. “É a junção dessas entidades que vai trazer a força que o agronegócio precisa para evoluir daqui pra frente”, completou.

São várias as demandas do setor produtivo, incluindo agricultura digital, nutrição e fertilidade do solo, irrigação e culturas de alto valor agregado, além de modelagem bioeconômica e agroambiental para seleção de variedades e potencial de produtividade. O gerente técnico da Coplacana, Francisco José Severino, disse que será estruturado, em parceria com a Embrapa, outras instituições e grupos parceiros importantes para a cadeia, “um plano de trabalho de forma a atender às demandas do setor produtivo e também da área técnico-científica voltada ao agronegócio”.

Após as apresentações, os participantes se organizaram em duas oficinas: agricultura digital aplicada e manejo cultural da cana. Além da definição das prioridades, discutiu-se a elaboração de um termo de cooperação técnica com a Embrapa, a Coplacana e outros parceiros estratégicos, para o desenvolvimento de projetos de pesquisa conjuntos.

“A Embrapa tem buscado alinhar seus programas de pesquisa e inovação a essas demandas de mercado. O novo modelo de execução compartilhada e cofinanciada de projetos entre a Embrapa e o setor privado, especificamente nesse caso com os parceiros da indústria sucroalcooleira, certamente deverá favorecer a assertividade na escolha dos temas prioritários e, consequentemente, elevar as chances de adoção das tecnologias que porventura resultem desses projetos”, avalia Cançado.

Esta foi a primeira vez que o engenheiro agrônomo Manuel de Jesus Andrade, da Embracal, participou de um evento desse tipo, “em que se reuniram diversos parceiros para discutir uma cadeia produtiva e os aspectos que estão interferindo na falta de evolução da produtividade”. Por isso, segundo ele, foi muito interessante olhar essas questões sob outra perspectiva e conhecer a visão de outras áreas, principalmente com relação à informatização.

“Todos os participantes têm seus pontos de vista, mas que convergem para melhorar a cultura. Acredito que o pessoal vai conseguir fazer uma síntese disso para elaborar as propostas, para que a gente possa efetivamente colocar as ideias em campo”, disse Andrade. “A Embrapa agora vai avaliar todas as opiniões e propor uma linha de trabalho. Com certeza, apresentando isso, ela vai realmente aproximar muitas pessoas, muitas empresas que têm o mesmo propósito, ou seja, de melhorar a cultura e a produtividade”, finalizou.

Ainda participaram do evento pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente, da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri/Unicamp) e da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq/USP), além de representantes de várias empresas e associações que atuam no setor, como a Associação dos Fornecedores de Cana de Piracicaba (Afocapi).

 


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