Universidade da Carolina do Norte e Embrapa firmam parceria em fertilizantes

Proposta terá a Embrapa Milho e Sorgo como principal parceira do lado brasileiro; objetivo é contribuir com a definição da eficiência de fertilizantes fosfatados em associação com microrganismos solubilizadores de fósforo em comparação com fertilizantes fosfatados comuns

28.04.2023 | 13:45 (UTC -3)
Embrapa

A Embrapa e a Universidade Estadual da Carolina do Norte (NCSU) assinaram na quarta-feira (26/04), durante as comemorações de aniversário, memorando de entendimento para o desenvolvimento de projetos de pesquisa sobre a eficiência de fertilizantes fosfatados enriquecidos em solos de média e alta fertilidade, coletados na Carolina do Norte e no Cerrado brasileiro. Em função da limitação de disponibilidade de reservas mundiais de fosfato, novas tecnologias em fertilizantes são necessárias para utilização do recurso de forma eficiente, com a associação de microrganismos ou moléculas que realizam a fixação às partículas do solo. O termo foi assinado pelo reitor interino da NCSU, John Dole.

Intitulada "Avaliação de alternativas de fertilização fosfatada no Brasil e Estados Unidos: medição da eficiência da cultura e entendimento de seus efeitos no solo", a proposta terá a Embrapa Milho e Sorgo como principal parceira do lado brasileiro, com o objetivo de contribuir com a definição da eficiência de fertilizantes fosfatados em associação com microrganismos solubilizadores de fósforo em comparação com fertilizantes fosfatados comuns. Além disso, a proposta de pesquisa busca identificar os principais efeitos da associação nas formas de fósforo do solo, entendendo as condições do solo mais adequadas para o uso de fertilizantes para obtenção de melhores rendimentos ou aumento de eficiência de uso de fósforo.

Para o diretor de Pesquisa e Inovação da Embrapa, Guy de Capdeville, a parceria com a instituição norte-americana vai além da oportunidade do desenvolvimento de projetos de pesquisa. “Ela representa a conexão com uma instituição que atua diretamente na fronteira do conhecimento e para que a Embrapa continue trazendo soluções como as que tem trazido ao longo dos últimos 50 anos, pelos próximos 50, nossos técnicos precisam estar em contato com grupos de excelência distribuídos pelo mundo”, explica. Na sua opinião, o Brasil é referência global na pesquisa agropecuária, mas é preciso capacitar pessoas fora do País, em instituições como a NCSU.

Guy lembra que o estabelecimento da parceria faz parte dos desdobramentos da série de visitas internacionais que realizou. “Na Carolina do Norte, observamos projetos na área vegetal, de pastagens e espécies importantes para o agro, que podem resultar no desenvolvimento de soluções conjuntas, porque são temas comuns e para isso firmamos o convênio não só com a Universidade da Carolina do Norte, mas também com a Universidade da Flórida, integrando nossos pesquisadores”, conclui.

John Dole ressaltou que a cooperação com a Embrapa é antiga, porém era realizada de forma pontual. Ele comemorou a ampliação da parceria. "O problema que enfrentamos exige de nós fazer uso de todos os esforços e disciplinas em conjunto. É muito importante para nós entrar em contato com algumas das principais organizações ao redor do mundo, em particular no Brasil", afirmou o reitor.  
Trajetória de pesquisa

Há cerca de 20 anos, a equipe da Embrapa Milho e Sorgo tem pesquisado e seleciona microrganismos solubilizadores de fosfato (MSP), que resultaram no desenvolvimento do inoculante comercial BiomaPhos, desenvolvido em parceria com empresa paranaense Simbiose, em 2019. O inoculante contém Bacillus subtilis e B. Megaterium,  capazes de aumentar a eficiência do uso de fosfato para as plantas, com aumento da produtividade e possibilidade de utilização de menores doses de fertilizantes fosfatados. Estas duas estirpes de Bacilus foram isoladas de áreas agrícolas distintas no País, onde prevalece o cultivo de cereais.

Entre as vantagens do BiomaPhos, além do aumento da eficiência de uso do fósforo por microrganismos para as plantas, estão a necessidade de menores doses de fertilizante, menos gasto de energia na produção e no transporte, com menor emissão de gases de efeito estufa e CO2. Sem contar que, com o aumento da produtividade de culturas, diminui a pressão sobre novas áreas e aumenta a sustentabilidade dos atuais sistemas de produção, contribuindo com o cumprimento da meta do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS).  

Segundo a pesquisadora da Embrapa Milho e Sorgo, Flávia dos Santos, que lidera o projeto de desenvolvimento das pesquisas que visa a cooperação com a Universidade da Carolina do Norte, a expectativa para a parceria, com a realização de pesquisas conjuntas, é a ampliação de conhecimento e contatos para melhorar a atuação da pesquisa no Brasil. “Além disso temos a possibilidade de mostrar à comunidade científica americana o potencial e os trabalhos de qualidade que desenvolvemos aqui, buscando uma agropecuária eficiência e sustentável”, disse ela. “Temos a maioria de nossos solos com baixa disponibilidade de fósforo, que é um nutriente limitante para a produção, e a NCSU tem tradição nas pesquisas com este nutriente, tendo recebido cientistas de grande importância como Alfredo Scheid Lopes e Roberto Ferreira de Novais, entre outros, que deixaram uma grande contribuição à ciência e ao agro brasileiros”, completou.

Para Flávia, o Brasil, atualmente, é líder mundial em uso de insumos biológicos, mas há espaço para avanços. “Os avanços e inovações ocorrem de forma rápida e precisamos estar interligados mundialmente para evoluirmos juntos”, completa.
Intermediação da Embrapa fora do País

A negociação para que o acordo fosse firmado contou com a intermediação do Labex América do Norte e da área de contratos internacionais das duas instituições, durante a qual foram identificadas oportunidades de colaboração e áreas de interesse mútuo, com foco no Departamento de Fitotecnia e Ciência do Solo. Entre elas, agroecologia e agricultura sustentável, manejo e produção de commodities, forrageiras e pastagens, manejo e nutrientes, melhoramento de plantas, genética e biologia molecular, fisiologia vegetal e bioquímica, agricultura de precisão, ecologia do solo, ciência ambiental molecular do solo, propriedades físicas do solo, hidrologia e erosão, manejo de resíduos e manejo integrado de pragas.

A Embrapa e a NCSU têm mantido um intercâmbio de pesquisadores para a realização de pesquisas conjuntas, desenvolvimento de novas tecnologias e troca de conhecimentos, principalmente através do programa cientista visitante, dentro dos programas disponíveis de treinamento e capacitação no exterior e negociado oportunidades de submissão de propostas conjuntas de pesquisa.

“O Labex América do Norte tem apoiado contatos de Unidades da Embrapa com a NCSU visando a realização de novas parcerias”, comenta o coordenador Alexandre Varella. Segundo ele, a cooperação com Embrapa, por meio da Embrapa Milho e Sorgo, reforça a importância, principalmente no que diz respeito à qualificação da Unidade, que possui uma Coleção de Microrganismos Multifuncionais e Fitopatogênicos de cerca de 11.000 acessos no Banco Ativo de Germoplasma de Microrganismos Multifuncionais e Fitopatogênicos (CMMF), credenciado pelo Ibama como coleção fiel depositária de amostras do patrimônio genético brasileiro.  “Por isso a parceria com a Universidade da Carolina do Norte é estratégica e poderá elucidar questões, de forma a posicionar melhor o produto de acordo com cada condição específica de solo, de forma a obter as melhores produtividades das culturas e eficiência no uso do fósforo. “Além isso, o avanço dessas pesquisas pode propiciar o desenvolvimento de outros produtos com ação semelhante e desempenho superior”, completa.

Interação histórica

A Universidade da Carolina do Norte possui uma longa história de interação com a pesquisa agrícola brasileira. Nas décadas de 1970 e 1980, desenvolveu estudos no cerrado brasileiro em colaboração com pesquisadores do Ministério da Agricultura e Embrapa. Até 1999, possuía um programa de pós-graduação em ciência do solo especificamente voltado para estudo de solos tropicais.  Muitos pesquisadores de solos do Brasil, como Roberto Novais, Alfredo Scheid Lopes, Ivo Silva, Igo Lepsh, entre outros, passaram por capacitações nesta instituição.

Na área de fertilidade do solo, a NCSU desenvolveu pesquisas relacionadas a fósforo no solo, destacando-se os programas de pesquisas desenvolvidos por Eugene Kamprath, Fred Cox, T Jot Smyth, Deanna Osmond, and Dean Hesterberg. Em 2019, o pesquisador Luciano (Luke) Gatiboni assumiu a posição de especialista em fertilidade do solo na NCSU,  desenvolvendo um novo método para caracterização de formas de fósforo em solos tropicais, dando continuidade à linha de pesquisa, com foco em estudos de utilização do legado de fósforo pelas plantas.

Em 2021 a NCSU foi contemplada com um projeto da NSF (National Science Foundation) para estudos de fósforo, Steps Center. O Steps (Science and Technologies for Phosphorus Sustainability) é atualmente o maior projeto mundial para estudos de fósforo, com um grupo de mais de 50 pesquisadores de diferentes áreas, entre eles Luciano Gatiboni. A atual proposta de projeto a ser desenvolvido com a Embrapa será integrado ao Steps, em função da participação ativa de pesquisadores visitantes nas atividades do grupo.

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