Troca de experiências entre Brasil, Austrália e Estados Unidos marca encerramento do 11º Congresso Brasileiro do Algodão

​O 11º CBA foi encerrado com duas plenárias que trataram dos temas Melhores Práticas de Manejo e Reflexões sobre a qualidade do algodão, a partir das experiências do Brasil, da Austrália e dos EUA

01.09.2017 | 20:59 (UTC -3)
Catarina Guedes

O 11º Congresso Brasileiro do Algodão foi encerrado nesta sexta-feira (01/09), em Maceió/AL, com duas plenárias que trataram dos temas Melhores Práticas de Manejo (BMP) e Reflexões sobre a qualidade do algodão, a partir das experiências do Brasil, da Austrália e dos Estados Unidos. As discussões contaram com a participação de especialistas dos três países que apresentaram o resultado dos trabalhos realizados para promover o desenvolvimento da cotonicultura. Iniciado na última terça-feira (29/08), o 11º CBA é uma realização da Associação Brasileira de Produtores de Algodão. 

As duas plenárias tiveram como moderador o analista econômico do Canal Rural Miguel Daoud. Na primeira, os palestrantes foram o coordenador científico do 11º CBA, Eleusio Curvelo Freire, o especialista australiano em agricultura sustentável, Rick Kowitz, e o pesquisador de algodão norte-americano da Texas A&M University, Gaylon Morgan. Todos abordaram as melhores práticas de manejos de algodoeiros em seus países. 

Brasil, Austrália e EUA seguem as mesmas tendências com relação às melhores práticas nas culturas. Todos adotam medidas de biossegurança, eficiência de insumos, qualidade da fibra, plantio direto, recursos humanos para segurança do trabalhador, sustentabilidade, manejo integrado de pragas, qualidade do solo e tecnologias inovadoras. O objetivo é ajudar o produtor a cultivar com responsabilidade e consciência em cada uma dessas abordagens. 

“No Brasil, por exemplo, os cotonicultores estão ajudando a minimizar os males do efeito estufa com a adoção da técnica do plantio direto”, informou Eleusio Curvelo Freire, da Cotton Consultoria e Coordenador Científico do 11º CBA. De acordo com o especialista, 99,1% da produção de algodão no país está concentrada no Cerrado, onde 30% das terras são preservadas como reserva legal. A produtividade de pluma por hectare é a maior do mundo sob condições de sequeiro e a 3ª em números absolutos, colocando o Brasil como 4º produtor mundial de algodão.

Durante a plenária, Freire apresentou uma proposta para o desenvolvimento da atividade nos três países, incluindo parcerias para acompanhamento, divulgação e expansão do BMP e de algodão responsável, além da elaboração de ferramentas padronizadas para divulgação do Programa e participação do Brasil no Cotton Leads. 

Na Austrália, o “My BMP” estabelece um protocolo de ações, com ferramentas individuais, distribuídas em 10 módulos. E é o próprio produtor que solicita auditoria de maneira voluntária, se cadastra, recebe um login e faz uma auto avaliação em três níveis: requisitos legais, práticas industriais e estratégias inovadoras. Hoje, existem 1.200 fazendas cadastradas no My BMP que completa 20 anos de trabalho para a melhoria da cotonicultura. “Acreditamos que há oportunidade de compartilhar nossas boas práticas e promover intercâmbios científicos e tecnológicos para melhorar esta importante atividade nos três países”, disse Rick Kowitz, especialista australiano. 

Finalizando a plenária, Gaylon Morgan, dos EUA apresentou casos de sucesso do Texas, principal estado produtor de algodão e responsável por 50% de toda produção americana. Segundo Morgan, tanto o Brasil quanto a Austrália adotam as mesmas medidas de BMP utilizadas nos EUA, o que aponta para possibilidades de trabalhos futuros em conjunto. “Lá nós praticamente erradicamos o Bicudo, que está restrito à região do Vale do Rio Grande apenas. Então, temos interesse em cooperar e colaborar com a cotonicultura brasileira e australiana”. 

Qualidade da pluma

A segunda plenária possibilitou uma visão das estratégias usadas no Brasil, Austrália e Estados Unidos para a melhoria da qualidade e valorização da pluma. Principal cientista do Programa de Fibras Avançadas e Indústrias Químicas da CSIRO (Organização de Pesquisa Industrial e Científica da Commonwealth), Stuart Gordon falou sobre o programa de qualidade do algodão australiano. De acordo com ele, a produção australiana se destaca, entre outras coisas, pelo longo comprimento das fibras (um parâmetro sobre o qual é possível ter controle em função do fato de que 95% da produção no país é irrigada) e pela alta produtividade. “Não temos subsídios governamentais, por isso toda a cotonicultura precisa ter eficiência”, lembrou o pesquisador. 

As limitações do HVI na pesquisa sobre qualidade de fibras foi o tema do professor Brendan Kelly, coordenador do Laboratório de Fenômenos de Algodão da Universidade de Tecnologia do Texas, nos Estados Unidos. Ele demonstrou os protocolos e instrumentos que o seu laboratório vem adotando para possibilitar a análise de variáveis não observadas pelo equipamento HVI (High Volume Instrument), ligadas ao impacto do processamento no comprimento das fibras. “Os produtores necessitam de dados para melhorar a qualidade de sua produção e para isso precisamos de mais informação do que o HVI está oferecendo no momento”, finalizou o professor.   

O exame do programa de qualidade do algodão no Brasil ficou a cargo do pesquisador Jean Louis Belot, do Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt) e do gestor do Programa de Qualidade Standart Brasil HVI (SBRHVI ) da Abrapa Edson Mizoguchi.  

Na sua apresentação, Jean Louis Belot, destacou que os produtores brasileiros, além de venderem para as indústrias nacionais, atendem aos mercados da Ásia, onde predomina o uso de tecnologia de ponta. “Precisamos sempre melhorar a qualidade de nossa produção para não termos deságio nesses mercados. Para isso, investimos em variedades resistentes  pragas e melhoria do manejo do solo, o que reflete diretamente na qualidade da fibra”, disse o pesquisador do IMAmt. 

Já Edson Mizoguchi deu destaque ao SBRHVI, desenvolvido pela Abrapa, com foco na qualidade, através da padronização da classificação instrumental do algodão e da informatização desses dados. “Atualmente, o programa já atua com 13 laboratórios e 64 equipamentos de HVI instalados nas diferentes regiões produtoras do país. Nossa meta é que, no futuro, o comprador possa consultar os dados originais do HVI no próprio sistema ou via portal da Abrapa”, afirmou o gestor do Programa de Qualidade SBRHVI da Abrapa, Edson Mizoguchi 

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