Tempo seco pode antecipar colheita da próxima safra de café
O atual clima tem sido caracterizado por pancadas de chuvas isoladas e temperaturas elevadas. Todavia, com a expectativa de pouca chuva para os próximos meses poderá ocorrer o estímulo de antecipação da próxima safra
21.03.2022 | 14:07 (UTC -3)
Fernanda Fabrino, Epamig
Nos
últimos 30 dias o acumulado de chuva superou os 200 mm nos estados do Amazonas,
Roraima, Pará, Maranhão, Amapá, Tocantins e Mato Grosso. Em Minas Gerais, o
acumulado variou desde 25 mm, no extremo Norte do Estado, até valores
superiores a 150 mm na região da Zona da Mata Mineira. O calor, típico da
estação, esteve presente mesmo nos dias de chuva.
O fenômeno ENOS
Considerando-se
que os ventos alísios mantiveram-se acima do normal em fevereiro e as
atividades convectivas abaixo do normal na região equatorial do Pacífico,
próximo a 180º (linha de data), e que em março as anomalias negativas do calor
(entre 0 e 300 metros de profundidade - Figura 1), persistem a Oeste entre 110
º e 170º, as condições de La Niña devem continuar até o final do outono com
possibilidade de uma condição ENOS-neutro no inverno.
O
equinócio de outono
O outono teve início às 12h33m do dia 20 de março e terá duração de 92 dias, 17
horas, 40 minutos. Nesta data do equinócio de outono o dia e a noite têm,
aproximadamente, 12 horas de duração. Apesar de que, na maior parte da Terra,
no equinócio, a duração da luz solar é um pouco maior que 12 horas. De fato, a
data em que o dia e a noite têm a mesma duração em número de horas ocorre um
pouco depois do equinócio de outono e um pouco antes do equinócio de primavera,
é o chamado Equilux. Nesta data tem início a “queda astronômica”, ou seja, a
redução das horas de luz solar ao longo do dia, passando os dias a serem mais
curtos do que a noite durante essa estação.
O
clima de outono
A estação de transição entre o verão e o inverno
que ocorre nos meses de abril, maio e junho, tem como característica,
principalmente nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, a chegada de frentes frias
que passam a derrubar a temperatura do ar causando a redução gradual da
temperatura e das chuvas e, consequentemente, da umidade relativa ao longo da
estação. Nessa estação os nevoeiros passam a ser mais presentes, principalmente
em regiões montanhosas.
As chuvas nos próximos meses
Em
abril, há a probabilidade de que as chuvas ocorram acima da média na área verde
do mapa (Figura 2) a partir das mesorregiões do Sul da Bahia, Vale do
Jequitinhonha e Norte de Minas, Leste Goiano, Nordeste e Norte Mato-grossense.
Chuvas abaixo da média são esperadas no Marajó e no Nordeste Paraense, bem como
em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, especialmente nas mesorregiões
Sudeste e Sudoeste desse estado.
Em
maio, a probabilidade de chuvas acima da média abrange a área verde (Figura 3)
demarcada por uma faixa envolvendo as mesorregiões desde o Nordeste Baiano, passando
pelo Sul Cearense, Centro Norte Piauiense, Centro Maranhense, Sudoeste Paraense
e a porção oriental do Sul Amazonense até o Norte do Amazonas. Já chuvas abaixo
da média, demarcada pela área em marrom, devem ocorrer em quase todo o estado
de São Paulo e todo o Sul do Brasil, com exceção da mesorregião Sudeste
Rio-grandense.
Em
junho somente nas áreas em verde (Figura 4) que abrangem a mesorregião do Marajó
e do Nordeste Paraense, uma parte do Amazonas e Baixo Amazonas bem como em uma
faixa mais litorânea do Nordeste do Brasil são esperadas chuvas acima da média.
Nas demais regiões brasileiras é esperado que as chuvas ocorram dentro da média
do mês.
Umidade no solo em Minas
Gerais
As
microrregiões com maior disponibilidade de água no solo acima de 90%, são:
Uberlândia, Patrocínio, Patos de Minas, Araxá e Manhuaçu; entre 80 e 90% estão
as mesorregiões do Campo das Vertentes e das Matas de Minas, com exceção nessa
última da microrregião de Cataguases, e as microrregiões de Pirapora, Paracatu
e Unaí. As demais regiões do Estado variam com solo com umidade desde 30 a 60%,
sendo que os municípios mais secos são: Três Pontas, Carmo da Cachoeira e
Varginha, na microrregião de Varginha, e Senhora do Porto, na microrregião de
Guanhães.
As temperaturas no próximo trimestre
Temperaturas
mais amenas (pouco abaixo da média) no trimestre abril a junho são esperadas na
área destacada em azul nas mesorregiões do Vale São-Franciscano da Bahia, São
Francisco e Sertão Pernambucano, Sul Cearense, Sertão Paraibano, Central
Mineira, Oeste de Minas, Metropolitana de Belo Horizonte, Campo das Vertentes,
Zona da Mata e Sul/Sudoeste de Minas. E temperaturas pouco acima da média são
esperadas nas mesorregiões do Pantanal Sul e Centro Sul Mato-grossense.
A chuva nas próximas semanas
Nas
próximas duas semanas são esperadas poucas chuvas nas mesorregiões da Zona da
Mata, Vale do Rio doce e Sul/Sudeste de Minas. As chuvas devem reduzir nas
demais regiões de Minas e nos estados de Goiás e Bahia. Maiores volumes de
chuva são esperados nos estados do Amazonas, Pará, Amapá, Rondônia, Maranhão,
Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte.
Café
O
atual clima tem sido caracterizado por pancadas de chuvas isoladas e
temperaturas elevadas. Todavia, com a expectativa de pouca chuva para os
próximos meses poderá ocorrer o estímulo de antecipação da próxima safra.
Diante da previsão, o produtor precisa cuidar mais da sua colheita para obter
cafés de qualidade, pois nestes tempos de escassez do produto ele poderá
conseguir bons preços com a atual safra.
Como
está muito próxima a época da colheita do café, o produtor deve verificar o
funcionamento dos motores, a lubrificação e o engraxamento de derriçadeiras e
de todos os equipamentos utilizados no processamento do café. Deve verificar
também a disponibilidade de materiais de colheita como panos, sacarias,
peneiras, lonas, barbantes, rodos, garrafas térmicas, entre outros.
Especial
atenção deve ser dada aos tratos culturais das lavouras, incluindo a adubações
dos solos e foliares, o controle de plantas espontâneas, das pragas e doenças
e, principalmente, da cercosporiose que neste ano tem se apresentado de modo
intenso, além das desbrotas devido ao elevado número de podas realizadas após a
safra passada.
Considerando-se
que as chuvas contribuíram com a fase de enchimento dos grãos e,
consequentemente, com a recuperação das lavouras, apesar de no presente ano os
cafezais não estarem carregados, na atual safra o produtor pode compensar a
redução da produtividade com maior investimento na qualidade do café.
Com
relação ao mercado do café, este tem se mantido com tendência de oscilação nos
preços, sendo que o cafeicultor que possuir estoques deve ficar atento e
aproveitar o momento certo para vender de acordo com sua necessidade.
Prognóstico
As
análises e os prognósticos climáticos aqui apresentados foram
elaborados com base nas
estatísticas e nos históricos da ocorrência de fenômenos
climáticos globais, principalmente daqueles atuantes na América do Sul. Considerou-se, também, as informações disponibilizadas
livremente pelo NOAA; pelo Instituto Internacional de Pesquisas sobre Clima e
Sociedade — IRI; pelo Met Office Hadley Centre; pelo Centro Europeu de Previsão
de Tempo de Médio Prazo — ECMWF; pelo Boletim Climático da Amazônia elaborado
pela Divisão de Meteorologia (Divmet) do Sistema de Proteção da Amazônia
(Sipam) e com base nos dados climáticos disponibilizados pelo INMET. (5º Disme)
/ CPTEC-Inpe.
O
prognóstico climático
faz referência a fenômenos da natureza que apresentam características caóticas
e são passíveis de mudanças drásticas.
Desta forma, a EPAMIG e a Embrapa Café não se responsabilizam por qualquer dano
ou prejuízo que o leitor possa sofrer, ou vir a causar a terceiros, pelo uso
indevido das informações contidas no texto. Portanto, é de total
responsabilidade do leitor o uso das informações aqui disponibilizadas.
Por Williams Ferreirapesquisador da Embrapa Café/EPAMIG Sudeste na área de Agrometeorologia e Climatologia; e Marcelo Ribeiro, pesquisador da EPAMIG na área de Fitotecnia
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