Técnicas ideais de controle do bicudo da cana-de-açúcar

Praga capaz de comprometer a longevidade e a produtividade dos canaviais, Sphenophorus levis exige bastante atenção ao manejo

31.07.2020 | 20:59 (UTC -3)
Revista Cultivar

O besouro Sphenophorus levis Vaurie, 1978 (Coleoptera, Curculionidae), popularmente conhecido como bicudo-da-cana-de-açúcar, é uma das diversas pragas que atacam os canaviais, diminuindo sua longevidade e a produção de cana-de-açúcar.

Segundo a Associação dos Fornecedores de Cana de Piracicaba (Afocapi, 2018), o grande disseminador desta praga é o próprio homem, que carrega o besouro em suas botas e instrumentos de trabalho, uma vez que o indivíduo adulto possui pouca agilidade e sua propagação ocorre através do transporte de mudas e do trânsito de maquinários de área infestada para saudáveis. Outro fator que interferiu bastante no controle da praga foi a proibição da queima da cana-de-açúcar, devido à interferência ambiental e à poluição que causava. Embora a medida tenha por objetivo a proteção ambiental, sem a queima o nível de depósito de palha no solo aumenta, favorecendo a sobrevivência da praga e a sua reprodução.

Prejuízos e métodos de controle

A infestação pela praga na cana-de-açúcar ocorre geralmente no período mais quente do ano, com o maior pico de infestação da fase adulta do besouro entre os meses de fevereiro e março, porém é possível encontrá-la no decorrer do ano todo. Os besouros adultos são pouco ágeis, com voos curtos e andar lento, e permanecem no solo sobre restos vegetais, entre os perfilhos ou na base das touceiras das canas. As fêmeas colocam seus ovos na base das touceiras, perfurando sua casca, e são as larvas, eclodidas do ovo, que causam o maior prejuízo à planta, pois permanecem no interior do colmo da cana escavando galerias, bloqueando os rizomas e se alimentando da seiva. Em consequência das galerias abertas ocorre o ressecamento dos perfilhos e do colmo, causando morte das touceiras e amarelamento das folhas, prejudicando a longevidade e a rebrotação das touceiras.

Diversas medidas têm sido tomadas para o controle desta praga, porém nenhuma alternativa isolada dos métodos convencionais gera resultados eficazes para seu controle, de forma que para se obter um controle melhor desta praga as medidas devem ser tomadas em conjunto, com a aplicação do Manejo Integrado de Pragas (MIP).

Larva do bicudo-da-cana-de-açúcar dentro dos colmos da cana
Larva do bicudo-da-cana-de-açúcar dentro dos colmos da cana

Experimento e resultados

Com o intuito de verificar a maneira mais eficaz para o controle da praga, foram testados métodos químico, biológico e mecânico, isolados e em conjunto. O estudo foi realizado entre fevereiro e novembro de 2018, em uma área experimental de cana-de-açúcar na região de Piracicaba, que possui a variedade de cana RB 966928 catalogada pela Ridesa (2010), sendo uma variedade de excelente produtividade, com médio teor de sacarose e alta sanidade às doenças. A área total do experimento continha 60 hectares, com espaçamento das linhas de cana alternados de 0,90cm e 1,5m.

O levantamento das pragas foi realizado, através da abertura de trincheiras de 0,5m x 0,5m, com 0,3m de profundidade, coletando as formas biológicas dos insetos-praga (Almeida, 2005). Foram realizados dois pontos de amostragem por hectare, totalizando 120 pontos para comprovação de incidência da praga na área.

Para os tratamentos a área foi dividida em seis partes de 10ha, uma para cada um dos tratamentos (Box). Em cada uma foram realizados quatro levantamentos de pragas em 20 pontos, totalizando 480 pontos amostrados.

A avaliação da eficácia do método de controle foi realizada a partir da obtenção da taxa de rizomas intactos (T). Para isso considerou-se a quantidade total de rizomas do tratamento (RT), menos a quantidade total de rizomas atacados por tratamento (RA), obtendo-se um valor (RI), a partir do qual calculou-se o percentual (T = RI x 100/RT).

Colmos de cana danificados pelas larvas do bicudo-da-cana-de-açúcar
Colmos de cana danificados pelas larvas do bicudo-da-cana-de-açúcar

Tratamento químico

O método químico consistiu na aplicação de inseticida, em cana de terceiro corte, através de um bico de pulverização, nas soqueiras previamente cortadas. Foi utilizada uma calda de alfa-cipermetrina (piretroide) + fipronil (pirazol) em concentração de 1,5L/ha, após o corte da cana e o início de rebrotamento, fase na qual ocorre maior incidência do indivíduo adulto. Este método se mostrou eficiente no controle do bicudo-da-cana-de-açúcar com uma taxa de aproximadamente 59,9% de eficácia.

Tratamento biológico

Para o tratamento biológico utilizou-se uma solução aquosa com o nematoide entomopatogênico Heterorhabditis, na dosagem de 2,4ml de juvenis infectivos/cm², conforme recomendado por Pérez (2008), aplicada no início da manhã, para evitar a morte do infectivo por dessecamento. Estes nematoides se associam a bactérias entomopatogênicas, responsáveis pela morte da praga. O controle biológico foi realizado em cana de terceiro corte e início do rebrotamento, onde ocorre maior incidência das larvas. Este método obteve uma taxa de 53,7% no controle da praga. 

Tratamento mecânico

O tratamento mecânico foi realizado com o eliminador de soqueiras, no período mais quente do ano e com o tempo seco, de forma a expor os rizomas infestados para que ocorresse o dessecamento das formas vivas da praga. O tratamento foi realizado em uma cana de reforma com quatro cortes. O tratamento se mostrou eficiente com uma taxa de aproximadamente 70,7%.

Tratamento químico + biológico

O tratamento químico em conjunto com o biológico foi realizado no início do rebrotamento da cana. Primeiro foi introduzido o aplicador de inseticida nos tocos da cana, e após o rebrotamento com as primeiras folhas visíveis foi inserida a solução aquosa do nematoide Heterorhabditis em uma cana de terceiro corte, obtendo-se uma eficácia de 76,2% no controle da praga.

Tratamento mecânico + químico

O conjunto de tratamento mecânico com químico foi realizado em duas etapas. Primeiro, na reforma do canavial foi introduzido o irradiador de soqueiras de forma a eliminar e expor os agentes, deixando a área livre e limpa de pragas para o plantio. Após o acompanhamento das mudas e a garantia de sua esterilidade foi introduzida a calda de alfa-cipermetrina (piretroide) + fipronil (pirazol), junto ao sulco de plantio, para impedir que qualquer forma viva da praga, ainda remanescente, invadisse as mudas causando a sua morte. Assim, obteve-se uma eficácia de controle de 83,4%.

Tratamento mecânico + biológico

Para este tratamento, primeiro utilizou-se o irradiador de soqueiras para reforma da área de cana, a fim de eliminar as formas vivas existentes da praga, deixando a área limpa para o plantio. O acompanhamento das mudas foi realizado garantindo sua esterilidade e, no início do rebrotamento da cana foi realizada a aplicação da solução aquosa com os nematoides Heterorhabditis, obtendo-se uma eficácia de 75,9%.

Análise dos resultados e conclusão

Na Figura 1 estão representados os resultados dos percentuais obtidos nos seis tratamentos realizados.

Figura 1 - Taxa de eficácia do controle do bicudo-da-cana-de-açúcar em cada tratamento realizado
Figura 1 - Taxa de eficácia do controle do bicudo-da-cana-de-açúcar em cada tratamento realizado

O tratamento 5 (controle mecânico + controle químico) foi o que se mostrou mais eficiente, uma vez que o irradiador de soqueiras (controle mecânico), aplicado no período de maior infestação de pragas, eliminou a maior parte por dessecamento, de forma que a área para plantio encontrava-se limpa e com índices mínimos de infestação. Em seguida, a introdução da calda de alfa-cipermetrina (piretroide) + fipronil (pirazol) possibilitou a eliminação de formas vivas remanescentes. Embora estas ações combinadas não tenham possibilitado a eliminação total das pragas, foram as que apresentaram a melhor taxa de eficácia (83,4%).

É importante destacar que a eficiência do controle mecânico está relacionada à época em que é realizado, sendo assim, quanto mais seco e quente estiver o tempo, maior será sua eficácia, devido à exposição dos rizomas e das formas vivas do inseto, que serão mortos por dessecamento. Neste estudo, sua taxa de eficácia foi de aproximadamente 70%, a melhor quando comparada às taxas de controle químico e biológico aplicados de forma isolada.

O conhecimento sobre o ciclo biológico da praga é o que garante a eficácia do método, de forma a escolher as melhores técnicas a serem empregadas em conjunto, para o Manejo Integrado de Pragas (MIP). Outras medidas devem ser adotadas como a atenção primária às mudas, garantindo que estejam sadias no viveiro ou que tenham como origem uma área sem índice de infestação, minimizando assim os danos no canavial.

Karen Helena de A. Rodrigues, Universidade Metodista de Piracicaba; Maria Eliana C. Navega-Gonçalves, Universidade de São Paulo

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