Soja e Milho: como o mercado se comportou - 09/01/2023

As tensões referentes às invasões em Brasília poderão causar valorização da moeda americana no mercado, causando aversão ao risco para investidores

09.01.2023 | 17:16 (UTC -3)
Ruan Sene, Grão Direto

A última semana foi mais breve em Chicago por conta do feriado referente ao Ano Novo, na segunda-feira (02/01). O mercado continuou acompanhando de perto a situação climática da América do Sul e as incertezas de um impacto no consumo chinês, diante da evolução dos contágios de coronavírus. Com isso, o contrato com vencimento em janeiro/2023 finalizou a sexta-feira valendo U$15,01 o bushel (-1,18 %). O contrato com vencimento em março/2023 teve queda mais acentuada, fechando a semana valendo U$14,92 o bushel (-2,10%).

As chuvas na Argentina no final de semana trouxeram alívio momentâneo ao mercado, pressionando as cotações de Chicago para baixo, porém, a situação ainda continua bastante delicada. A safra 2022/23 da Argentina vem sofrendo com adversidades climáticas desde o início do plantio em novembro, e isso vem trazendo muita especulação sobre o real potencial produtivo do país.

Esse cenário é comprovado no relatório semanal de condições de lavoura, divulgado pela Bolsa de Cereales de Buenos Aires (BCBA), o qual, no último dia 05, trouxe um aumento para 38% nas lavouras regulares/ruins, e uma diminuição para 8% nas lavouras boas/excelentes. Ao comparar essas informações com as relacionadas a safra 2021/22, os números preocupam, pois na safra anterior 50% estavam em condições boas/excelentes e apenas 13% em condições regulares/ruins.

No Brasil, o Rio Grande do Sul é quem mais preocupa o mercado diante da sua representatividade, entre os 3 primeiros estados produtores. Uma quebra acima de 15% na região gaúcha poderá trazer a produção nacional para níveis abaixo de 150 milhões de toneladas. Apesar do impacto, continua sendo uma produção recorde para o Brasil.

Por fim, a continuidade do aumento de contaminações pelo coronavírus na China, caminhando ao lado da desconfiança de possível subnotificação de mortes, provoca alerta sobre a recuperação econômica do país. O aumento da demanda, diante da proximidade do feriado de Ano Novo Chinês, ainda é aguardada pelo mercado, apesar de certo pessimismo. A moeda americana teve uma semana de muita oscilação, fechando a sexta-feira sendo cotada a R$ 5,24 (-0,76%).

O cenário interno, mais uma vez, foi o principal motivador da queda semanal. A expectativa do mercado é que haja uma equipe ministerial do novo governo mais ajustada, principalmente relacionada à economia, após uma semana assinalada por diversas declarações polêmicas feitas pelos novos integrantes. Com a queda de Chicago somada à queda do dólar, as cotações da soja brasileira tiveram uma semana de desvalorização em relação à semana anterior.

Soja: o que esperar do mercado?

Nesta semana haverá a divulgação do Relatório de Estimativas de Oferta e Demanda Mundial (WASDE), que deve ocasionar muita volatilidade em Chicago. Espera-se que haja redução nas estimativas de produção na Argentina e manutenção da produção brasileira. Caso se confirme, poderá ter uma valorização de Chicago.

Além disso, o clima da América do Sul continuará no centro das atenções. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) projeta chuvas volumosas para todo o Brasil, com exceção do Rio Grande do Sul, que continuará em situação crítica. Já o Serviço Meteorológico Nacional (SMN), sinaliza a continuidade de chuvas mal distribuídas e altas temperaturas na Argentina. Caso essas condições se confirmem, poderá continuar pressionando as cotações de Chicago para cima.

A China poderá se mostrar mais presente nas compras nesta semana com a proximidade do Ano Novo, que se inicia no próximo dia 22. Esse evento é marcado pelo aumento de consumo em função das festas típicas. Mesmo com aumento crescente de contaminações, as comemorações ocorrerão normalmente, ao que tudo indica.

As tensões referentes à invasão do Congresso Nacional, Palácio do Planalto e STF (Supremo Tribunal Federal), poderão causar valorização da moeda americana no mercado, causando aversão ao risco para investidores. Diante disso, a semana poderá ser marcada pela valorização da soja brasileira, em relação à semana anterior.

Milho: como o mercado se comportou na última semana?

A semana foi marcada pelo reaquecimento dos negócios no mercado interno, onde compradores se mostraram bastante interessados em negociar, porém, parte dos vendedores seguraram o produto, na expectativa de obter preços melhores mais a frente. Esse movimento provocou valorização das cotações no mercado físico. Já em Chicago, a semana foi de queda nas cotações, fechando a semana valendo US$ 6,53 por bushel (-3,69%).

Em relação à safra 2022/23 no Brasil, o plantio segue evoluindo e o desenvolvimento das lavouras segue em condições satisfatórias em todo o Brasil, com exceção do Rio Grande do Sul. De acordo com o "Informativo Conjuntural”, divulgado pela Emater/RS, no último dia 05, persiste o quadro de déficit hídrico na maior parte do estado, com consolidação nas perdas de produtividade.

Após o recorde de volume exportado do Brasil em 2022, as vendas internacionais já começaram o ano bastante aquecidas. A Associação Nacional de Exportadores (Anec) prevê exportações acima de 4 milhões de toneladas para o mês de janeiro, dobrando o volume do mesmo período do ano passado. Além disso, foram rastreados 22 navios carregando milho para a China que, se confirmado, já estaria com volume em torno de 1,73 milhão de toneladas.

Esse movimento de exportação brasileira está sendo fortalecido neste momento, principalmente, pela demora na liberação de navios da Ucrânia. No acordo da Ucrânia para escoar grãos pelo Mar Negro, firmado ano passado, todos os navios são inspecionados por equipes conjuntas, e isso vem causando uma demora acima do normal, onde as embarcações ficam aguardando em média mais de um mês para serem liberadas. Diante disso, o Brasil surge como um ótimo substituto.

Milho: o que esperar do mercado?

O clima da América do Sul continuará no centro das atenções. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) projeta chuvas volumosas para todo o Brasil, com exceção do Rio Grande do Sul, que permanecerá com calor e chuvas de baixo volume, mantendo o cenário crítico. Na Argentina, o Serviço Meteorológico Nacional (SMN) sinaliza a continuidade de chuvas mal distribuídas e altas temperaturas.

Em relação às exportações, contrariando as expectativas iniciais, elas deverão permanecer aquecidas em janeiro. Com a diminuição dos estoques brasileiros, o mercado interno deverá se fazer presente para garantir o suprimento até a chegada da colheita da safra atual.

Novos acontecimentos referentes à flexibilização das medidas contra o Covid-19 na China e a regularização das exportações ucranianas poderão impactar as cotações em Chicago e, por consequência, o milho brasileiro.

Diante disso, as cotações brasileiras poderão ter uma semana de valorização em relação à semana anterior.

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