Safra atual de trigo trará alterações no quadro de oferta e demanda

Nas importações, Argentina deve se manter como a principal fornecedora do cereal consumido pelos brasileiros

26.10.2022 | 17:18 (UTC -3)

Nos últimos anos, o Brasil utilizou mais importações do que produção própria para abastecer a demanda doméstica de trigo. Entretanto, o país vem revertendo essa tendência e sua produção doméstica vem ganhando espaço, segundo relatório da hEDGEpoint Global Markets. Nas importações, a Argentina é de longe a maior ofertante, fornecendo até 87% das compras ao exterior em 2022, com outros vizinhos Sul-Americanos como Paraguai e Uruguai detendo uma participação menor.

"Esse fluxo parecia natural, dado que a Argentina costumava produzir um grande excedente e o Brasil, cuja maior parte da área agricultável está em climas mais quentes, teria potencial menor para ser um grande produtor de trigo. Porém, melhorias na produtividade do trigo brasileiro nos últimos anos, acompanhada por ganhos de área, mais do que dobraram a produção do País na última década, enquanto uma ‘tempestade perfeita’ ameaça levar a Argentina à menor colheita dos últimos anos”, observa o analista de Commodities da companhia, David Silbiger.

Os triticultores brasileiros tiveram um recorde de produção no ciclo 21/22 e sofreram com a forte alta nos preços dos insumos, assim como os argentinos. Porém, no Brasil os eventos climáticos não foram capazes de quebrar a tendência de alta vista nos últimos anos, e um novo recorde de produção é esperado. “Essa produção extra provavelmente irá para mercados globais, preenchendo o vazio deixado pelo Mar Negro e até pela Argentina, caso as perspectivas atuais de pequena produção se confirmem”, observa Silbiger.

A situação na Argentina

A safra argentina enfrentava desafios antes mesmo do plantio começar: as importações de fertilizantes nitrogenados caíram 29% em 2022 frente a 2021, enquanto as de fosfatados caíram 14%. Considerando que a Argentina importa 70% dos fertilizantes que consome, players locais como a Bolsa, estão estimando grandes cortes na aplicação.

Além dos insumos, outros fatores causaram problemas no começo deste ciclo, como secas, altas nos preços de combustíveis e tecnologia e questões políticas, notadamente preocupações com

relação às políticas de preço e exportação, levando a constantes reduções de área. A maioria desses problemas se tornaram constantes, especialmente a seca, com algumas regiões agrícolas (especialmente no Norte), enfrentando falta de chuvas por todo o ciclo.

Enquanto as províncias do Norte enfrentavam essa seca, no Sul os fazendeiros tiveram que lidar com excessos de chuva, capazes de atrasar o avanço entre os estágios de desenvolvimento da planta, além de geadas. Com a safra 2021/2022 já praticamente toda comercializada, o atraso e os baixos níveis de produção da safra 2022/2023 levam a estoques de transição bastante altos na Argentina.

Aperto global deve atingir América do Sul

O aperto global nos balanços de trigo deve se estender também para a América do Sul, dado que a maior possibilidade de alívio, a grande safra no Brasil, tende a ser enviada para o Mediterrâneo a África Subsaariana em grandes quantidades, de acordo com o relatório.

“Assim, o país tenderia a terminar o ciclo com estoques baixos a despeito de sua safra recorde, mantendo a demanda por trigo estrangeiro em níveis mais estáveis, o que por sua vez também pressionará o balanço argentino”, indica Silbiger.

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