Propriedades citrícolas possuem 182 mil hectares destinados à vegetação nativa

Pesquisa feita pelo Fundecitrus com método da Embrapa Territorial revela a existência de 1 hectare dedicado à preservação para cada 2,5 cultivados com citros

07.08.2020 | 20:59 (UTC -3)
Vivian Chies​

Pesquisa de Estimativa de Safra (PES) do Fundecitrus realizou um estudo inédito na citricultura e identificou 181.750 hectares de áreas dedicadas à preservação da vegetação nativa e da biodiversidade nas propriedades citrícolas de São Paulo, do Triângulo e do Sudoeste Mineiro. Nessas mesmas propriedades, 459.058 hectares estão cultivados com laranjeiras e outras árvores de citros, o que revela a proporção de um hectare dedicado à preservação ambiental para cada 2,52 hectares de pomar.

A quantificação da área preservada utilizou informações do mapeamento completo do cinturão citrícola feito pelo Fundecitrus em 2017 e dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR) processados com metodologia desenvolvida pela Embrapa Territorial (Campinas, SP). “Pela primeira vez, foi possível dimensionar a contribuição ambiental da citricultura, que é muito expressiva. Esse patrimônio preservado mostra que a citricultura brasileira possui um compromisso com a sustentabilidade ambiental”, diz Juliano Ayres, gerente-geral do Fundecitrus. 

Vinícius Trombin, coordenador da PES,  explica que a perenidade da citricultura favorece a preservação da flora e fauna, criando condições favoráveis para a instalação da vida animal. “As árvores de citros têm vida produtiva de cerca de 20 anos, então não há movimentação intensa da terra com frequência, e o sistema de cultivo demanda baixo trânsito de equipamentos invasivos, fatores que tornam as matas ambientes estáveis e seguros para os animais”, esclarece. “A fruticultura oferece ainda alimento para pássaros e pequenos animais”, acrescenta. 

Metodologia da Embrapa Territorial

A metodologia empregada no tratamento das informações do CAR começou a ser desenvolvida pela Embrapa Territorial em 2016 para mensurar e cartografar as áreas destinadas à preservação da vegetação nativa em todo o País. Está disponível no site da instituição, juntamente com números e mapas por estado e microrregião. “Ficamos surpresos com a riqueza de detalhes que estavam publicados sobre a metodologia no site. Temos uma área de GIS (Sistema de Informação Geoespacial) no Fundecitrus e conseguimos reproduzir a metodologia da Embrapa”, diz Trombin. A equipe reuniu-se com a da Embrapa Territorial apenas para esclarecer dúvidas pontuais.

O coordenador do PES conta que, desde o primeiro mapeamento realizado pelo Fundecitrus, em 2014, observavam as áreas verdes nas propriedades e buscavam um método para quantificá-las. “A Embrapa realmente desenvolveu um método inovador para trabalhar com os dados do CAR”, avalia. “Não é do nosso conhecimento alguém que tenha apresentado um método para essa demanda antes”, complementa.

Para Evaristo de Miranda, chefe-geral da Embrapa Territorial, as informações obtidas pelo Fundecitrus são relevantes para a defesa da sustentabilidade da produção brasileira. “O trabalho complementa e enriquece as análises sobre dimensão territorial das áreas destinadas à preservação da vegetação nativa pelos produtores rurais ao aplicar métodos desenvolvidos pela Embrapa Territorial às propriedades do corredor citrícola, e os resultados são significativos”, comenta. 

Lucíola Magalhães, chefe-adjunta de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da unidade campineira da Embrapa, ressalta que a metodologia para processamento dos dados do CAR passa por melhorias continuamente. Para a gestora, a integração das equipes de P&D das duas instituições fortalece a maturidade do processo de mensuração das dimensões territoriais da sustentabilidade da produção brasileira. Lucíola destaca que a parceria com a Fundecitrus irá avançar para além da dimensão territorial: “O próximo passo é estabelecermos os meios para o desenvolvimento de pesquisas sobre a dimensão ambiental destas áreas, incluindo o monitoramento da biodiversidade."

Produção sustentável

Na avaliação de  José Galizia Tundisi, pesquisador do Instituto Internacional de Ecologia (IEE) e especialista em gerenciamento de recursos hídricos, a relação entre as áreas de florestas nativas e as áreas de produção de citros significa um importante investimento e um exemplo fundamental para a produção sustentável. “Esta iniciativa não beneficia somente o setor produtivo cítrico, beneficia toda a sociedade”, afirma. “Já está evidenciado cientificamente que a manutenção de áreas com vegetação nativa tem influência quantitativa e qualitativa no ciclo hidrológico e na qualidade da água dos mananciais, além da preservação da biodiversidade terrestre”, pontua. 

Osmar Malaspina, biólogo e pesquisador do Centro de Estudos de Insetos Sociais da Universidade Estadual paulista (Unesp-Rio Claro),  também destaca o impacto sobre a fauna. “Essas áreas protegidas contribuem para a manutenção da biodiversidade e ajudam na preservação de espécies polinizadoras como as abelhas. A presença desses polinizadores gera um retorno financeiro significativo ao produtor, aumentando em até 50% a quantidade e a qualidade dos frutos produzidos”, enfatiza.

Além disso, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam alta produção de mel no cinturão citrícola. “Cerca de 80% do mel produzido no estado de São Paulo está nos municípios que cultivam a citricultura. Nessa região, o crescimento da produção do alimento na última década foi muito maior do que em cidades fora do cinturão”, destaca Trombin. 


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