Principais medidas de manejo do mofo cinzento em frutas

Medidas preventivas têm grande importância no manejo desta doença, causada pelo fungo "Botrytis cinerea"

18.08.2020 | 20:59 (UTC -3)
Jesus Guerino Töfoli, Josiane T. Ferrari e Ricardo José Domingues; Instituto Biológico

O mofo-cinzento, causado pelo fungo Botrytis cinerea é uma doença de ocorrência generalizada em várias frutíferas. Comum em campo aberto, também pode alcançar níveis consideráveis de severidade em cultivos protegidos e câmaras de armazenamento, e prejuízos estéticos, qualitativos e quantitativos nas culturas de uva, morango, kiwi, caqui, goiaba, maçã, manga, mamão, mirtilo, amora preta, framboesa, cereja, entre outras.

Botrytis cinerea produz abundante crescimento acinzentado sobre os tecidos afetados, composto por hifas e conidióforos. O fungo produz escleródios negros, duros e irregulares em tecidos infectados ou mortos pela doença.

O patógeno pode sobreviver no solo, associado à matéria orgânica ou na forma de escleródios. Após a germinação de escleródios em plantas doentes, ou em restos de plantas infectadas, o fungo produz conídios que são dispersos para novos hospedeiros. A germinação dos conídios é favorecida por temperaturas de 22ºC a 25°C e umidade relativa em torno de 90% a 100%. Para que o fungo possa infectar seus hospedeiros, são necessárias temperaturas amenas (16ºC a 23°C), alta umidade e ventilação deficiente. Temperaturas superiores a 25˚C retardam a infecção e o desenvolvimento da doença.

Geralmente, o fungo coloniza primeiramente tecidos mortos, senescentes ou enfraquecidos, que servem como uma fonte exógena de energia para que o patógeno possa se estabelecer, reproduzir e, assim, iniciar a colonização de tecidos sadios.

O fungo pode causar prejuízos consideráveis em frutos armazenados em câmaras frias (0ºC a 10°C).

Fruto de morango recoberto por "B. cinerea"; e mofo-cinzento em cacho de uva (direita).
Fruto de morango recoberto por "B. cinerea"; e mofo-cinzento em cacho de uva (direita).

Sintomas do mofo-cinzento

O mofo-cinzento geralmente ocorre em flores e frutos, porém, também pode causar manchas foliares, apodrecimento de brotos e cancros em caules, pecíolos e hastes.

Os sintomas podem variar em função do hospedeiro e do órgão afetado, caracterizados pela descoloração dos tecidos, pelo aspecto úmido e necrótico das lesões e pela presença de um crescimento cotonoso acinzentado (conídios e conidióforos) sobre as áreas afetadas.

Em folhas, as manchas apresentam coloração pardo-acinzentada, com tamanhos e formatos variáveis, podendo ou não exibir halos concêntricos. Em algumas situações, observa-se a seca e a necrose de pontas e bordas de folhas.

Nas flores, os sintomas podem variar desde pequenas manchas descoloridas e úmidas, lesões necróticas, até a destruição completa das pétalas. Em condições muito favoráveis, a doença pode invadir o pedúnculo, comprometendo e danificando toda a estrutura floral.

Nos caules e nas hastes, a doença apresenta-se na forma de manchas marrons que geralmente se originam  em torno dos pecíolos das folhas e pedúnculos atacados.

Em frutos, os sintomas observados são lesões com aspecto aquoso, irregular, macio e esponjoso; anéis esbranquiçados com um pequeno ponto necrótico no centro, apodrecimento generalizado e queda prematura.

O mofo-cinzento ocorre em todas as regiões produtoras do Centro-Sul, sendo mais comum no outono-inverno e na primavera.

Principais medidas de manejo

Dentre as alternativas de manejo do fungo Botrytis cinerea, destacam-se:

 • uso de mudas sadias.

• Evitar o plantio em solos pesados e o uso excessivo de fertilizantes, principalmente os nitrogenados. Os solos pesados favorecem a retenção da umidade, enquanto o amplo crescimento vegetativo origina tecidos tenros e mais suscetíveis à infecção.

• Não realizar plantios adensados e executar corretamente as podas de formação e produção. O adensamento de plantas dificulta a circulação de ar entre as mesmas e favorece o acúmulo de umidade nas flores, nas folhas e nos frutos, promovendo condições favoráveis à doença.

• Eliminar e destruir flores, frutos, folhas e hastes doentes.

• Irrigações devem ser realizadas no período da manhã, de forma que a folhagem seque até o final do dia. Em períodos críticos as irrigações devem ser suprimidas. Irrigações localizadas podem reduzir a ocorrência da doença.

• Evitar ferimentos às plantas durante os tratos culturais, pois são portas de entrada para o patógeno.

• Em cultivo protegido, promover a limpeza completa de toda a estrutura entre um ciclo e outro. Utilizar plásticos de cobertura que reflitam os raios UV e, assim, diminuir a esporulação do patógeno.

• Armazenar os frutos logo após a colheita. O material deve ser completamente sadio, livre de manchas e ferimentos. A área de armazenamento deve ser limpa, seca e sem umidade livre nas paredes, no teto e no piso.

• A aplicação de fungicidas para o controle do mofo cinzento deve seguir todas as recomendações do fabricante quanto a dose, volume, intervalo e número de aplicações, intervalos de segurança, uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI) etc. Em áreas com histórico da doença, o uso de fungicidas deve ser preventivo e iniciado assim que as condições meteorológicas sejam favoráveis. A aplicação do produto deve propiciar cobertura uniforme das plantas e atingir flores e frutos, na parte interna da folhagem. O gênero Botrytis apresenta vários relatos de ocorrência de resistência a fungicidas das classes benzimidazóis e dicarboximidas. Para que se evite essa possibilidade, recomenda-se o uso intercalado de fungicidas com diferentes modos de ação, limitar o número de aplicações de fungicidas com risco de selecionar raças resistentes no decorrer do cultivo e evitar que esses produtos sejam aplicados em períodos críticos

•  Os fungicidas oficialmente registrados no Brasil para o controle do mofo cinzento em frutíferas encontram-se descritos no Agrofit.

Por Jesus Guerino Töfoli, Josiane T. Ferrari e Ricardo José Domingues, Instituto Biológico

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