Produtividade na cana-de-açúcar segue abaixo da média, diz CTC
Qualidade da matéria prima (ATR) é superior à registrada no mesmo período da safra passada
Estimativas baseadas no modelo do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) apontam que as práticas disseminadas pela Epagri e adotadas pelos produtores rurais reduziram entre 20% e 30% a emissão de gás metano na produção de arroz em Santa Catarina nos últimos anos. Assim, esta cadeia produtiva catarinense já atinge a meta estabelecida mundialmente durante a COP 26, de reduzir em 30% as emissões de metano até 2030. Mas esse resultado não veio de uma hora para outra. Reflete duas décadas de trabalho executado pela pesquisa e extensão da Epagri.
O arroz cultivado em áreas alagadas é o segundo maior emissor de gases do efeito estufa (GEE) na agricultura, perdendo somente para a pecuária. O metano, emitido por essa cadeia produtiva, é um dos gases causadores do efeito estufa, juntamente com óxido nitroso e dióxido de carbono.
Santa Catarina é o segundo maior produtor de arroz irrigado do Brasil e líder nacional em produtividade. Segundo a Epagri/Cepa, o Estado produziu 1,16 milhão de toneladas do grão na safra 2023/24. Na safra 2024/25 este volume deve chegar a 1,269 milhão de toneladas.
Marcos Lima Campos do Vale é pesquisador da Estação Experimental da Epagri em Itajaí (EEI) e o atual responsável pelo levantamento das informações que abastecem o Inventário Nacional de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases de Efeito Estufa. Os dados catarinenses são utilizados para a produção das estimativas associadas ao subsetor Cultivo do Arroz do inventário, coordenado pela pesquisadora Walkyria Bueno Scivittaro, da Embrapa Clima Temperado. Segundo o pesquisador, a redução das emissões de metano pelas lavouras de arroz no Estado se deve a duas práticas disseminadas pela Epagri e adotadas pelos rizicultores catarinenses.
Marcos explica que o metano se forma na decomposição dos restos vegetais após o alagamento da quadra. Quanto maior o volume de material vegetal presente na área no momento do preparo do solo para a semeadura, maior é a quantidade de gás metano produzido. Por isso, uma das recomendações aos produtores é adotar o manejo precoce da palha do arroz no período de entressafra.
A prática consiste em fazer a incorporação da palhada do arroz assim que termina a colheita. Uma vez incorporada, a palhada se decompõe mais rapidamente. Desta forma, ela não vai contribuir para a emissão de metano na próxima safra, quando a quadra de arroz for novamente alagada.
Com base no modelo do IPCC, estima-se que a prática promova uma redução de cerca de 50% nas emissões de metano, em comparação ao manejo com incorporação da palha apenas no preparo do solo antes da semeadura. Além de colaborar com a redução da emissão de metano, o manejo precoce da palha promove outras melhorias na lavoura de arroz, que aumentam a produtividade do grão.
Segundo o pesquisador, essa prática de cultivo vem sendo incentivada pela Epagri há mais de uma década. Contudo, a expansão de sua adoção foi mais perceptível nos últimos cinco anos. Isso é resultado de sua priorização nas campanhas de extensão, com ampliação de sua abordagem nos eventos de difusão nos quais a Epagri esteve presente. O pesquisador calcula que, atualmente, pelo menos 70% dos rizicultores catarinenses adotem o manejo precoce da palha do arroz.
Outra prática que diminui a emissão de metano nas quadras de arroz é a adoção da drenagem da quadra do arroz. Ela deve ser feita entre 50 e 60 dias após o início do plantio. A prática consiste na retirada total da água da quadra, mantendo essa condição por cerca de sete dias, até novo alagamento.
De acordo com Marcos, diversas pesquisas realizadas no Brasil mostram que as emissões de metano pelo arroz ficam mais intensas cerca de duas a três semanas a partir do início do alagamento, com o pico de emissão ocorrendo no período entre 60 e 80 dias. A adoção da prática tem como principal objetivo fazer com que o tempo de alagamento seja inferior ao pico de emissão, reduzindo o total de metano emitido pelo arroz.
Em recente missão aos Estados Unidos, profissionais da Epagri perceberam que o apoio às drenagens das quadras de arroz também é uma preocupação naquele país. Uma política pública que oferece US$150,00 por hectare para cada drenagem realizada pelo rizicultor incentiva a prática.
Paralelamente à divulgação das práticas, a Epagri segue desenvolvendo novos cultivares de arroz com ciclos de cultivo precoces e médios, que exigem menos tempo de irrigação. Com base no modelo do IPCC, estima-se que cada dia a mais de alagamento da quadra de arroz promove um aumento de cerca de 1% no total de metano emitido.
A conta é simples: menos tempo de água na quadra, menos emissão de metano. O desafio é promover um melhoramento genético que resulte em cultivares de ciclos mais curtos, mas que mantenham os níveis de produtividade dos cultivares de ciclo mais longos, que são os mais utilizados pelos rizicultores catarinenses.
Um leigo pensaria: não seria mais simples modificar o sistema de produção em Santa Catarina, substituindo o arroz irrigado pelo sequeiro? Marcos tem a resposta na ponta da língua: não. Isso porque o arroz cultivado em terreno alagado é muito mais produtivo, entre outras vantagens que apresenta sobre o cultivo em solo seco.
A emissão de metano nas quadras de arroz catarinenses já era motivo de pesquisa da Epagri há mais de 20 anos, desenvolvida pelo pesquisador aposentado Domingos Sávio Eberhardt. Os resultados das pesquisas conduzidas por Domingos compuseram a base de dados utilizada para a definição dos fatores de emissão de metano pelo arroz, que norteiam as estimativas produzidas nos inventários de emissão da cultura no Brasil.
Marcos afirma que, atualmente, o trabalho da Epagri busca uma evolução na qualidade das estimativas produzidas para Santa Catarina. Segundo o pesquisador, essa evolução está relacionada com o método de levantamento da abrangência de adoção das práticas de maior relevância para o cálculo das emissões. Diferente da metodologia anterior, que tinha como base um consenso entre líderes de pesquisa e extensão da Epagri, as novas estimativas serão baseadas em números aferidos a campo, numa parceria entre o Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Epagri/Cepa), extensionistas e EEI.
Mas a Epagri ainda quer mais precisão no levantamento da emissão de metano na rizicultura catarinense. Uma parceria que está sendo construída entre a equipe de pesquisa em sensoriamento da Epagri/Ciram e a EEI já trabalha com a perspectiva de estabelecer um protocolo que pretende mostrar a emissão em tempo real. Para tanto, o grupo vai trabalhar no monitoramento de algumas práticas de manejo da lavoura de arroz a partir de imagens de satélite. Esta informação será utilizada para alimentar o modelo do IPCC para produção das estimativas de emissão de metano.
O mapeamento prévio das áreas de produção de arroz em Santa Catarina, coordenado pelo pesquisador Kleber Trabaquini, da Epagri/Ciram, reduz significativamente o tempo necessário para construção do protocolo. O grupo busca a disponibilização de um painel de livre acesso na internet, onde qualquer cidadão poderá acompanhar a quantidade de metano emitido pelas quadras de arroz de Santa Catarina.
O levantamento preciso das emissões também vai colaborar para o incremento da rentabilidade dos produtores de arroz em Santa Catarina. Marcos observa que o estado tem condições de reduzir ainda mais as emissões pela expansão da adoção das práticas recomendas. Assim, essa cadeia produtiva, que já cumpre a cota de redução de metano, poderá usar o excedente para venda no mercado de créditos de carbono, que será regulamentado no Brasil nos próximos anos.
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