Pesquisa estimula atividades agroextrativistas

03.05.2010 | 20:59 (UTC -3)

Reconverter áreas exploradas anteriormente pela monocultura de eucalipto com atividades agroextrativistas será uma das ações de pesquisa nos territórios de Alto Rio Pardo e Serra Geral (Minas Gerais).

Pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, unidades Cerrados (Planaltina-DF) e Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília-DF), do Centro de Agricultura Alternativa/Norte de Minas, representantes do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rio Pardo, das Cooperativas Extrativistas das Comunidades Vereda Funda e Água Boa 2 participaram, nos dias 28 e 29 de abril, de reunião técnica para definir demandas e estratégias para dar continuidade aos projetos de pesquisa na região.

Até julho deste ano, a Embrapa e demais instituições parceiras desenvolvem o projeto “Avaliação participativa da aptidão agroecológica e extrativista das terras de agricultores familiares do território do Alto Rio Pardo (MG) para construção de sistemas de produção em bases ecológicas”. O projeto tem o objetivo de contribuir para o resgate do conhecimento tradicional no uso dos recursos naturais. As ações de pesquisa são voltadas para o uso sustentável da biodiversidade, aproveitamento alimentar de espécies nativas do Cerrado, além de iniciativas para a transição agroecológica envolvendo o extrativismo e o manejo das culturas agrícolas.

Os próximos projetos de pesquisa deverão atender algumas demandas apontadas na reunião. Entre elas estão adoção de técnicas de uso e manejo dos recursos naturais (fauna, flora, solo e recursos hídricos), desenvolvimento de máquinas e equipamentos para processamento de frutos nativos do Cerrado, busca de alternativas de energia limpa, implantação de sistemas agroflorestais e incremento na comercialização dos produtos oriundos das agroindústrias.

Ao longo da execução do projeto em fase de finalização foram desenvolvidas atividades de mapeamento participativo dos solos e de seu uso, sistematização das espécies e do manejo da biodiversidade, avaliação participativa do manejo de agroecossistemas, identificação de espécies vegetais utillizadas pelas comunidades com potencial de uso comercial, inventário florístico, identificação de fauna e melhoramento no processo de extração de óleo de pequi. O pesquisador João Roberto Correia, líder do projeto, ressaltou a riqueza das experiências com a participação dos agricultores e extrativistas das comunidades Vereda Funda e Água Boa 2.

Para o agricultor Moisés Dias de Oliveira, membro do Sindicato dos Produtores Rurais de Rio Pardo, um dos maiores resultados do projeto é a troca de conhecimentos entre as comunidades tradicionais e as instituições de pesquisas. “Está sendo muito legal este encontro do saber local com o científico. Os conhecimentos se complementam, a partir de uma abordagem participativa, com respeito ao saber local. Este tipo de trabalho é essencial e precisa ter continuidade”, disse.

Reservas Extrativistas – Há algum tempo as comunidades de Alto Rio Pardo e Serra Geral se mobilizam para garantir a posse de suas terras. Primeiro foi para evitar o domínio da monocultura de eucalipto e, mais recentemente, para conter o avanço da mineração. “Estamos sofrendo o risco da pesquisa de lavra mineral que pode comprometer o lençol freático. Já temos problema com escassez de água e agora estamos preocupados com os rejeitos da mineração nos cursos d´água”, declara Ivonete Santos Nunes, agricultora de Riacho dos Machados.

As comunidades tradicionais de Alto Rio Pardo e Serra Geral estão pleiteando a criação de duas Reservas Extrativistas. Uma delas no município de Montezuma, que engloba também os municípios de Vargem Grande e Rio Pardo de Minas, e outra em Riacho dos Machados. Com as reservas, cujos os processos estão em análise no Instituto Chico Mendes, as comunidades poderão fortalecer o processo de extrativismo e recuperar áreas degradadas. De acordo com o pesquisador Carlos Dayrell, do Centro de Agricultura Alternativa/Norte de Minas, essas reservas serão compostas de áreas remanescentes do Cerrado, tornando-se extremamente importantes para a preservação do Bioma.

Liliane Castelões

Embrapa Cerrados

/ (61)3388-9945

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