No Dia Nacional da Conservação do Solo a Embrapa confirma pesquisas na área

A data objetiva conscientizar tanto os produtores rurais quanto a população urbana sobre a importância do solo

15.04.2016 | 20:59 (UTC -3)
Marcos Vicente

Para comemorar o Dia Nacional da Conservação do Solo, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), por meio da Lei nº 7.876, de 1989, instituiu o dia 15 de abril, data alusiva ao nascimento do conservacionista americano Hugh Hammond Bennett, falecido em 1960 e considerado um dos pioneiros na área de conservação do solo.

A data objetiva conscientizar tanto os produtores rurais quanto a população urbana sobre a importância do solo, uma fonte renovável de nutrientes para as plantas que são utilizadas como alimentos, fibras e energia pelo homem e pelos animais, portanto, a principal matriz de produção de alimentos no planeta.

O solo também funciona como um grande reservatório de água da chuva e abriga uma infinidade de vida microbiana, artrópodes e outros seres vivos. Por essa razão, colabora para o equilíbrio dos ecossistemas, uma vez que, por meio da evaporação direta ou pela transpiração das plantas e pela ciclagem dos nutrientes, proporciona um ambiente adequado à sobrevivência de plantas e animais.

A agricultura nos trópicos requer muito mais aspectos que somente se extrair da terra os alimentos, fibras e energia com competitividade, capazes de gerar excedentes exportáveis para aumentar os saldos da balança comercial do país.

Exige o uso de tecnologias que assegurem que esse patrimônio não seja comprometido por meio da degradação, como os processos de erosão, salinização, desertificação, contaminação e arenização.

No caso dos solos brasileiros, submetidos a um ambiente tropical de temperaturas elevadas e chuvas intensas ao longo do ano, o desafio é ainda maior, para que não percam a sua capacidade de reproduzir a vida, como a troca de água, ar e calor, o armazenamento e a ciclagem de nutrientes, a decomposição da matéria orgânica e a regulação do fluxo de água, dentre outras.

Segundo Marcelo Morandi, chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente, a Empresa conduz pesquisas para a geração de conhecimentos e tecnologias relacionadas à preservação e o uso racional deste recurso, com vistas à busca da sustentabilidade da agricultura brasileira.

Ele explicou que a Embrapa possui um histórico de estudos e atividades em tecnologias preservacionistas, como o Sistema de Plantio Direto, Rotação de Culturas, Manejo Integrado de Pragas, Recuperação de Pastagens, Adubação Verde, Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta - ILPF, dentre outras.

Conforme ele, essas tecnologias se mostram efetivas na promoção e na recuperação da saúde do solo. Além disso, são tecnologias que mitigam a emissão e aumentam o sequestro de carbono no solo e, por esta razão, integram o pacote tecnológico do Plano ABC.

"Na Embrapa Meio Ambiente também se desenvolvem pesquisas em um campo relativamente novo, na fronteira do conhecimento: o microbioma de plantas, ciência que busca desvendar as complexas relações e interação que os microrganismos desenvolvem no universo da rizosfera das plantas," explicou Morandi.

Solos: base da agricultura sustentável

O Plano ABC é estruturado em ações que visam a expansão da adoção ou uso de seis tecnologias sustentáveis de produção agropecuária que, em conjunto, compõem a participação do setor agropecuário no compromisso de redução de emissões que o Brasil apresentou em 2009, durante a COP-15. Estas tecnologias apresentam um potencial de mitigação de emissões de GEE na faixa de 133,9 a 162,9 milhões de Mg CO2 equivalente até o prazo final do compromisso em 2020.

Conforme Celso Manzatto, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente e coordenador da Plataforma ABC, o país ainda convive com a falta de conhecimento sobre os solos, o que implica na sua degradação pelo uso não planejado das terras, manejo inadequado, adoção de sistemas importados de cultivo e o desmatamento de áreas de recarga, áreas impróprias (solos de baixa aptidão agrícola) e de matas ciliares.

"No ano passado, voltamos a sofrer com mais uma previsível crise de abastecimento hídrico, fruto não só do clima, mas especialmente pela baixa capacidade de recarga de água dos aquíferos. Defrontamos com a degradação do sistema de manejo mais adequado para os solos, substituído pela monocultura e, algumas vezes, por sucessão da mesma cultura em duas safras, pela falta de cobertura e pelo preparo convencional do solo," alertou ele.

Manzatto explica que, em contrapartida, é notório a adoção de tecnologias no campo, onde registra-se grandes avanços na produtividade da agricultura brasileira nos últimos anos. Em uma comparação realizada pelo Mapa, da safra 2013/2014 com a de 2014/2015, revela que a média de produtividade nacional passou de 3.393 quilos por hectare para 3.609 quilos por hectare. Ou seja, 216 quilos a mais de grãos por hectare em relação ao período anterior, com pequeno aumento de área plantada, que passou de 57 milhões de hectares em 2014, para 58 milhões em 2015.

"Ainda assim, o espaço para crescimento de produtividade é extraordinário. Para citar o caso da soja, concursos de produtividade já alcançam 140 sacas/ha, enquanto a média nacional está em torno de 48 sacas/ha. Com a progressiva recuperação das pastagens degradadas, que alcançam cerca de 50 milhões de ha, o país poderá gerar grandes saltos na produtividade de grãos e da pecuária ao longo das próximas décadas", explicou.

Assim, a busca do desenvolvimento sustentável representa um dos maiores desafios para a humanidade e, em especial, para o Brasil. Ao longo de séculos, o modelo de desenvolvimento no país tem evoluído do extrativismo e da agricultura de subsistência para uma exploração agroindustrial intensa, com a aplicação de tecnologias modernas e, em muitos casos, com ocupação e utilização desordenada dos recursos do ambiente, o que coloca em risco a rica base de recursos naturais.

Conforme Manzatto, nesse momento em que o Brasil se preocupa com as mudanças globais, "o sequestro de carbono da atmosfera para o solo pode ser uma contribuição adicional muito relevante, sendo mais um indicador da possibilidade de construir uma agricultura altamente sustentável nos trópicos".

Para ele, ampliar a produção agropecuária com sustentabilidade em um período de mudanças climáticas é uma meta que inclui um grande desafio de gestão territorial à ciência agropecuária e aos formuladores de políticas públicas.

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