Mercado pede cultivares de pinhão manso

23.06.2009 | 20:59 (UTC -3)

Com alto potencial para produção do óleo e resíduos, o pinhão manso foi pauta em audiência pública da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária no Congresso Nacional, na semana passada, requerida pelo Senador Valter Pereira.

As estratégias de pesquisa da Embrapa, para viabilizar a cultura do pinhão manso como uma opção de matéria prima para o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel, foi apresentada pelo Chefe-Geral da Embrapa Agroenergia, Frederico Durães. “Estamos construindo uma agenda positiva para o negócio da energia renovável no Brasil, com base na biomassa”, alega.

Durães iniciou sua apresentação falando da importância do fortalecimento da parceria público-privada para o negócio da agroenergia. E, por ser um negócio precisa produzir energia. A inserção de espécies potenciais na cadeia produtiva do biodiesel requer novas cultivares e um grande desafio técnico/científico, que necessita de pesquisa para domesticar e desenvolver o domínio tecnológico. Um deles é desenvolver matéria prima, que representa 60% do custo de produção do negócio. “As culturas que tem este domínio, tem cadeia produtiva, tem logística, como o caso da soja”, afirma. Plantada em cerca de 21 milhões de hectares no Brasil, coloca o país em 2º maior produtor mundial. Mesmo com a produtividade inferior ao pinhão manso que gira em torno de 1750, a soja ainda é a melhor opção disponível para o biodiesel. Quanto à mamona, por ser uma bandeira social, pode ser vista como uma das opções do biodiesel, mas precisa avançar em melhorias técnicas e de rendimento.

A eficiência em toda a cadeia produtiva de cada cultura, ou seja, a chamada rota tecnológica, esta relacionada à genética, a adaptação a determinado ambiente, ao manejo da cultura e ao método de extração de óleo. Espécies com e sem domínio tecnológico para produção de biodiesel foi outro ponto reforçado em sua apresentação. No mundo, 85% biodiesel são oriundos do girassol, da canola, dendê e da soja. Deste total 51% são destas duas últimas espécies. Com relação ao dendê, embora já se tenha este domínio, a logística não atende ao desejável. O Brasil é o 15º produtor mundial desta palmeira. Atualmente, a Malásia e a Indonésia lideram este ranking, como maiores produtores.

O pinhão manso e as palmeiras oleíferas como a macaúba, tucumã, inajá e o babaçu são consideradas potenciais, sem o domínio tecnológico, mas que já estão sendo desenvolvidas ações de pesquisa.

Histórico

Na década de 80, foram iniciados em Minas Gerais e São Paulo trabalhos de pesquisa com a cultura do pinhão manso, Jatropha curcas L.. lamentávelmente, esses trabalhos sofreram solução de continuidade e parte considerável destes esforços foram perdidos. “Nestes últimos cinco anos, estamos reinvestindo estudos para a domesticação do pinhão manso”, ressaltou Frederico.

A Embrapa, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, está retomando os estudos com bases tecnológicas modernas, com formas de pesquisa competitiva, utilizando ferramentas de biologia avançada como medida auxiliar ao programa de melhoramento clássico, com foco na genética, no manejo e no processo. O pinhão manso tem a produção desuniforme. “Esta característica é um dos grandes gargalos para as usinas que precisam do fornecimento constante da matéria prima”, alerta o cientista. Entender a biologia da planta é fundamental. Para isso, foi montado banco ativo de germoplasma, BAG, com a finalidade de validar descritores botânicos e implantar um programa de melhoramento visando à seleção de cultivares comerciais. O BAG conta com uma coleção de mais de duzentos acessos de pinhão manso provenientes de todas as regiões do país. A montagem da coleção, para fins de pesquisa e ainda em expansão, foi iniciada em 2007. As pesquisas são desenvolvidas em uma rede de 98 cientistas vinculados a 30 instituições. A meta, reforça Durães, é que até 2013 o Brasil já tenha cultivares de pinhão manso registradas. No entanto, as ações de pesquisa continuarão sendo desenvolvidas visando cultivares cada vez mais produtivos e com características de interesse agroindustrial.

Outro aspecto em pesquisa na Embrapa Agroenergia é o fator tóxico da torta do pinhão manso. Esta matéria prima é um co-produto rico em nutrientes que tem uso potencial na nutrição animal, porém necessita ser destoxificada. A Embrapa está trabalhando em duas estratégias, uma genética - através da seleção de cultivares não-tóxicos e outra - de processos agroindustriais de tratamento da torta.

No Brasil, estima-se que já existam mais de 20 mil ha cultivados, distribuídos principalmente nas regiões sudeste, centro oeste e nordeste. A pesquisa busca conhecimento novo para dar sustentabilidade à iniciativa privada, que implanta suas lavouras por conta e risco, evitando assim, casos de insucessos que aconteceram com várias outras culturas que foram implantadas sem domínio tecnológico. Em sua palavra, Durães ressaltou que o Brasil tem pressa para ter este suporte tecnológico.

A oleaginosa tem alto potencial de rendimento de grãos/óleo, adaptabilidade, precocidade e longevidade. Além de possuir outras características que atraem produtores para este cultivo, como ser uma cultura perene. A qualidade do óleo do pinhão manso é excelente para produção de biodiesel. Além do que, a espécie não concorre com a agricultura de alimentos e é compatível para produção nas agriculturas comercial e familiar.

Desafios da pesquisa

O Chefe da Embrapa Agroenergia citou os desafios estratégicos para a pesquisa em relação ao biodiesel. Viabilização de co-produtos, desenvolvimento e produção de fontes de óleos e gorduras vegetal e animal, domínio da rota de produção etílica e processos de conversão e novos fertilizantes e nutrientes para a agroenergia. A demanda por novas ações de pesquisa na área de biocombustíveis, também foi debatido no Senado Federal, na quarta-feira, 16, durante audiência pública da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária com tema “Óleo vegetal in natura como combustível”.

Daniela Garcia Collares

Embrapa Agroenergia

/ (61) 3448-4845

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