Liquidez no mercado brasileiro de café segue bastante lenta neste mês de dezembro
Indicador volta a superar R$ 600/sc, o que não era observado desde o encerramento de novembro
Apesar de todos os prognósticos positivos e como ocorre com as culturas de importância econômica, a cana-de-açúcar é atacada por inúmeras pragas, com destaque para a broca da cana-de-açúcar, Diatraea saccharalis. Trata-se de uma praga extremamente nociva à cana-de-açúcar, capaz de dizimar canaviais inteiros se não tomadas as devidas medidas de controle.
O aumento da infestação da praga nos canaviais está ligado a fatores climáticos, grandes áreas de expansão, plantio de variedades suscetíveis, aumento das áreas fertirrigadas e principalmente pela negligência aos detalhes que compõem o Manejo Integrado desta praga.
O ciclo biológico completo, de ovo a adulto, da broca da cana-de-açúcar D. saccharalis dura em torno de dois meses, existindo até seis gerações anuais, dependendo das condições climáticas.
As fêmeas ovipositam nas folhas, de preferência na face dorsal. Cada postura pode conter de cinco a 50 ovos, agrupados de forma semelhante a escamas de peixes. A fecundidade média desta espécie é de aproximadamente 400 ovos. Inicialmente, os ovos são amarelos, com o desenvolvimento embrionário ficam alaranjados e, posteriormente, é visível a cápsula cefálica da lagarta ainda no interior do ovo. Seis dias após a postura, se os ovos estiverem fecundos, ocorre a eclosão das lagartas).
As lagartas recém-eclodidas são de cor branca, tornando-se de coloração creme com o desenvolvimento, apresentando algumas manchas escuras espalhadas pelo corpo. Alimentam-se, no início, do parênquima foliar, no interior da bainha da folha; após a primeira ecdise, penetram pela parte mais mole do colmo e, perfurando-o, abrem galerias de baixo para cima. Essas galerias podem ser de duas formas: longitudinais, na maioria dos casos, e, às vezes, transversais. Passam por seis instares, durante um período médio de 28 dias, dependendo das condições climáticas. A lagarta prestes a se transformar em pupa cessa a alimentação, limpa e amplia a galeria onde se desenvolveu, abre um orifício para o exterior, fecha-o com fios de seda e serragem e transforma-se em crisálida. É de coloração castanha e tem a duração de oito dias, variando o tempo de acordo com as condições climáticas. Mede aproximadamente de 16mm a 20mm de comprimento.
Os adultos de D. saccharalis são amarelo-palha, com pontuações escuras nas asas anteriores, as asas posteriores são esbranquiçadas, medem aproximadamente 25mm de envergadura. Apresentam longevidade aproximada de oito dias, possuem hábito noturno e ficam escondidos durante o dia. A oviposição ocorre principalmente no início do anoitecer.
Em geral, o ciclo de D. saccharalis inicia-se em setembro-outubro, normalmente, após a emergência de adultos provenientes da geração de inverno na região. Esses adultos, geralmente, procuram canas novas para efetuar suas posturas. A segunda geração verifica-se entre dezembro e fevereiro; a terceira entre fevereiro e abril, e em maio e junho se inicia a quarta geração, que pode se prolongar por alguns meses.
As lagartas causam prejuízos diretos, pela abertura de galerias, ocasionam perda de peso da cana e que podem levar a planta à morte, “coração morto”, especialmente em canas novas. Quando fazem galerias circulares (transversais), seccionam o colmo, provocando sua quebra pela ação de ventos. Enraizamento aéreo e brotações laterais também ocorrem devido ao seu ataque.
Os prejuízos indiretos são consideráveis, uma vez que, através de orifícios e galerias, penetram fungos que causam a podridão-vermelha do colmo, podendo abranger toda a região compreendida entre as diversas galerias. Os fungos causadores da podridão-vermelha, Colletotrichum falcatum e Fusarium subglutinans, invertem a sacarose, diminuindo a pureza do caldo e o rendimento industrial no processo de produção de açúcar e/ou álcool. No caso da cana destinada apenas à produção de álcool, os micro-organismos que contaminam o caldo concorrem com as leveduras no processo de fermentação alcoólica, diminuindo o rendimento.
Para cada 1% do Índice de Intensidade de Infestação Final ocasionado pela praga (número de entrenós atacados pelo complexo broca/podridão-vermelha), ocorrem prejuízos de 1,14% na produção de cana (TCH) e mais 0,42% na produção de açúcar ou 0,25% na produção de álcool.
Atualmente, armadilha à base de feromônio, através da utilização de fêmeas virgens, tem sido a base em programas de detecção, monitoramento populacional e controle de D. saccharalis em todas as regiões produtoras de cana-de-açúcar.
Quando se faz opção pelo uso dessa ferramenta, é fundamental conhecer os aspectos bioecológicos e comportamentais desta praga, pois, assim, será possível interpretar adequadamente as informações oriundas das avaliações, além de determinar como a população está distribuída na área.
De acordo com o hábito de oviposição de D. saccharalis, estas armadilhas deverão ser instaladas na região do dossel, dessa forma, estas acompanham a altura da planta ao longo do seu desenvolvimento. Através da junção das folhas das plantas paralelas, e posterior amarração, essa armadilha fica então posicionada na entre linha da cultura. Sabendo que 74% dos adultos voam 200 metros de raio, o que perfaz uma área de 12,5 hectares, recomenda-se dimensionar uma armadilha para até 50 hectares.
O "atrativo sexual" é composto por três fêmeas virgens e mais três pupas fêmeas do mesmo lote, perfazendo assim um total de seis formas biológicas, as quais serão aprisionadas em gaiola tipo "bob" e este acondicionado dentro da armadilha.
Em campo, no momento da instalação, a organização das armadilhas através de identificação nominal é fundamental, bem como a sua localização geográfica. Este planejamento é a base para o alto rendimento operacional que esta operação exige, bem como necessária para o mapeamento das informações coletadas. Essas armadilhas devem ser instaladas dentro da área a ser amostrada, na bordadura dos carreadores.
A leitura das armadilhas deve ser realizada três noites após a sua instalação, anotando-se o número de machos capturados em cada armadilha. O nível de controle determinado para esta praga é de ³ seis machos/armadilha em 30% do total de armadilhas.
A frequência amostral na época úmida é quinzenal, posicionando assim o controle químico e biológico (Cotesia flavipes). Na época seca, o monitoramento é mensal, posicionando apenas o controle biológico através da liberação de C. flavipes.
Durante o período úmido utilizam-se os dois métodos de controle - químico e biológico (C. flavipes) - sendo que o controle químico deverá ser realizado seis dias após a constatação do nível de controle, e 14 dias após esta pulverização, liberam-se quatro copos de 1.500 vespas de C. flavipes por hectare. Fora desse período, para o mesmo nível de controle, liberam-se apenas quatro copos de 1.500 vespas de C. flavipes por hectare após 20 dias da avaliação destas armadilhas, tomando-se como base a mesma porcentagem (30% do total de armadilhas).
A estratégia de controle deve levar em conta a fenologia da planta, as variedades mais suscetíveis ao ataque, os viveiros, as áreas irrigadas e principalmente o potencial produtivo, para o futuro planejamento da tomada de decisão.
No Manejo Integrado desta praga, o plantio de variedades resistentes, o corte da cana sem desponte, a moagem rápida, a eliminação de plantas hospedeiras das proximidades do canavial, principalmente milho, milheto e sorgo, após suas colheitas, são medidas eficazes para diminuir a população da praga.
Existem diversos inimigos naturais capazes de controlar a praga.
São responsáveis - naturalmente - por eliminar uma expressiva parcela, principalmente, de ovos e de lagartas recém-eclodidas. As formigas, pertencentes a gêneros como Solenopsis sp., Pheidole sp., Camponotus sp., entre outras, formam o principal contingente, sendo complementado por coleópteros, neurópteros e dermápteros. Em alguns locais, mais de 90% da população inicial da praga é controlada por esse complexo de inimigos naturais.
A vespinha C. flavipes foi introduzida no Brasil em 1974 e vem se destacando em diversos locais como extremamente eficiente no controle de D. saccharalis. Apresenta vantagens pela facilidade de multiplicação em laboratório em relação às moscas Lydella minense e Paratheresia claripalpis que foram utilizadas anteriormente.
Este método de controle deve ser visto como ferramenta prioritária a ser utilizada em situações que exigem resposta rápida e eficiente de controle, sob o risco de, não o tendo, agravar sobremaneira os prejuízos. Essa ferramenta deve ser analisada com muito critério, principalmente as características de cada molécula química e seu potencial de controle.
A amostragem do Índice de Intensidade de Infestação Final (I.I.I. Final) é realizada coletando-se colmos de cana-de-açúcar no momento da colheita. Em campo, deve-se amostrar quatro pontos, ao acaso, sendo estes representados por cinco colmos cada, tomados aleatoriamente, totalizando 20 colmos avaliados. Para o cálculo da I.I.I. Final abre-se longitudinalmente cada um dos colmos coletados, contando-se o número de entrenós e aqueles que se encontram lesionados pelo complexo broca/podridão-vermelha. Os dados obtidos são aplicados à fórmula:
Determinado o Índice de Intensidade de Infestação Final, têm-se diferentes graus de infestação, Aceitável (≤ 1,0); Baixo (1,1 a 3,0); Médio (3,1 a 6,0); Alto (6,1 a 9,0) e inaceitável (³ 9,1), sendo esses valores expressos em porcentagem.
Uma vez que D. saccharalis é um inseto-praga capaz de causar enormes prejuízos à cultura da cana-de-açúcar, é preciso realizar um planejamento de manejo que integre diversas medidas de controle, como o etológico, o cultural, o biológico e o químico. Todas estas medidas de controle devem ser efetuadas durante todo o ano, de acordo com as condições climáticas adequadas a cada uma delas. A utilização de armadilhas com feromônio é uma ferramenta imprescindível na tomada de decisão, especialmente para a realização dos controles químico e biológico e, consequentemente, na redução dos danos causados por essa praga. Também é importante ressaltar que o manejo para o controle desta praga deve ser regionalizado e não pontual, exigindo ação conjunta de todos. O manejo coletivo é o ponto fundamental para o sucesso no combate a D. saccharalis.
José Francisco Garcia, Global Cana - Soluções Entomológicas
A cada nova edição, a Cultivar Grandes Culturas divulga uma série de conteúdos técnicos produzidos por pesquisadores renomados de todo o Brasil, que abordam as principais dificuldades e desafios encontrados no campo pelos produtores rurais. Através de pesquisas focadas no controle das principais pragas e doenças do cultivo de grandes culturas, a Revista auxilia o agricultor na busca por soluções de manejo que incrementem sua rentabilidade.
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