Manejo da lagarta no milho contribui com o sucesso da lavoura

Pesquisador Ivênio Rubens de Oliveira, da Embrapa, falou a técnicos da Jotabasso sobre inovações nas estratégias para o controle de Spodoptera frugiperda

13.07.2021 | 20:59 (UTC -3)
Silvia Zoche Borges

O pesquisador e entomologista Ivênio Rubens de Oliveira, da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas, MG) falou a técnicos da Jotabasso sobre Inovações nas estratégias para o controle de Spodoptera frugiperda, no dia 6 de julho. O curso fez parte do evento virtual “Manejo Integrado de Pragas em Soja e Milho” realizado pela Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS), Embrapa Milho e Sorgo e Jotabasso. O segundo dia do evento foi dia 8 de julho com temas sobre nematoides e percevejos em soja. O moderador foi o pesquisador Rodrigo Arroyo Garcia, da Embrapa Agropecuária Oeste.

Segundo o pesquisador existe um acréscimo de produtividade muito ligado à genética das cultivares, mas uma das ações que não evoluiu tanto foi o manejo. Lagarta-do-cartucho continua sendo a praga chave do milho. Doze anos com milho Bt no campo foram suficientes para não ter quase nenhum evento funcionando mais devido ao mau manejo. “Com o advento do Bt, da segunda safra, voltamos a ter problemas com percevejos. Hoje não tem uma praga chave tão salientada. São pragas chaves dentro do sistema de produção”, salientou.

Como fazer o controle quando se tem gerações sobrepostas e efetivar o controle? Oliveira disse que se não conhecer o problema da paisagem como um todo, todos os esforços para controlar as pragas não surtirão efeito.

Um dos problemas apontados é que a Spodoptera fugiperda tem feito o papel de lagarta rosca, levando a um estrago nas plantas. “De V4 até V5 tem sido comum que a planta de milho esteja secando o ponteiro. [O produtor ou técnico] Acha que é lagarta elasmo e não é. Na fase de espiga, a Spodoptera tomou o lugar da Helicoverpa zea.” Entre os motivos dessa forma de atuação do inseto é que ela é estrategista e possui capacidade ampla de adaptação. Ataca todos os órgãos da planta com muita facilidade: folhas do cartucho, colmo tenro, pendão floral e espiga.

Braquiárias, milheto, plantas daninhas tolerantes a herbicidas são outros hospedeiros. Oliveira aposta na crotalária para rotação que a Spodoptera não usa como hospedeira. “No caso do consórcio do milho com braquiária, ela não é praga da pastagem. Ela só a usa como hospedeiro”, aponta.  

O uso do milho Bt ainda é uma das principais estratégias para o manejo da lagarta do cartucho. São 196 cultivares disponíveis na safra 2019/2020, sendo 66,8% (131) - eventos transgênicos e 33,2% (65) - cultivares convencionais. “A maioria de cultivares é transgênica, mas tem aumentado a quantidade de cultivares convencionais, e seu manejo é o mesmo”. Mas ele faz uma ressalva: “A tecnologia embarcada nas cultivares não é só de genética Bt, mas de produtividade. Porém, não se pode pensar em adotar a tecnologia Bt como estratégia exclusiva de MIP.  Mesmo com o uso da tecnologia Bt é importante manter o monitoramento periódico e adotar medidas de controle assim que os níveis de ação recomendados para cada tecnologia seja atingido.”

O monitoramento periódico é uma estratégia fundamental para tomada de decisão de controlar ou não. A forma de se fazer isso é com armadilhas ou visualmente; número de amostras/de armadilhas, antes do plantio. “Os olhos têm que estar mais atentos para verificar em diferentes estruturas da planta”, alerta o pesquisador.

Oliveira chama a atenção para o monitoramento da lavoura que deve ser realizado o tempo todo. “Com mais rigor a partir da emergência das plantas, tecnologia Bt e tratamento de sementes protegem nas duas primeiras semanas.”

As lagartas maiores sobreviventes na área (são mais de 100 hospedeiros potenciais, incluindo milho tiguera e brachiaria). No controle, será feita a cobertura da área: calda, bicos, regulagens. “A ocorrência de lagartas maiores sobreviventes na área que precisam ser controladas desde os estádios de desenvolvimento iniciais das plantas. Medidas de controle tem foco nas lagartas menores e dificilmente são eficientes para as lagartas acima de 1,5 cm”, alerta. O monitoramento é importante em plantas até V8-V9, vistoriando sempre as folhas do cartucho da planta. A nota de injúria de até 3 significa que as lagartas ainda estão pequenas e o controle será mais efetivo.

As estratégias para controle de Spodoptera frugiperda com armadilhas é adotar medidas de controle quando forem capturadas três mariposas, utilizando parasitoides, bioinseticidas, inseticidas químicos, nessa ordem. “Precisamos conhecer os grupos químicos para saber o posicionamento adequado.”

Sobre controle biológico, Oliveira disse que existem mais de 200 produtos registrados junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (AGROFIT) para o controle de S. frugiperda em milho, entre eles os bioinseticidas à base de Bt e baculovírus. “O momento certo da aplicação (liberação) é fundamental. O Trichogramma liberado quando nas armadilhas de feromônio indicarem a captura de três adultos de S. frugiperda /armadilha. É necessário focar na fase de ovos. E os bioinseticidas não tem efeito de Knock down, ou seja, as lagartas não morrem imediatamente”, explica.

Segundo o pesquisador, “produtos biológicos à base de Bt e Bv devem ser tratados de maneira diferente durante o processo de aplicação e avaliação de sua eficiência no campo. Eles atuam por ingestão e não por contato”, salienta.

Sobre a tecnologia BT, Oliveira fala que o “Bt sempre mata mais eficientemente lagartas recém-nascidas, no máximo entre três e quatro dias de idade, segundo instar, dependendo da espécie.”

Ele salientou o fato que quando as lagartas são mortas pelos Baculovírus em gramíneas, como o milho, “nem todas as lagartas sobem para a parte superior das plantas como em leguminosas (soja), em que este fator é mais facilmente observado.”

Quanto à tecnologia para aplicação de bioinseticidas, são utilizados os mesmos equipamentos convencionais usados para os inseticidas químicos. “Mas quando for o caso da lagarta do cartucho usar bico tipo leque e regulagem cuidadosa. Levar em consideração o tamanho (idade) das plantas e área que está sendo coberta”, explica. A aplicação também pode ser feita via água de irrigação.

O pesquisador deixou um último recado: “Devemos intensificar a assistência agronômica em todas as lavouras, com profissionais competentes e com ótima qualidade em seus serviços. É integrar os trabalhos de instituições de pesquisa e de ensino, empresas, produtor rural, extensionistas, consultores, cooperativas, associações e todos os envolvidos na cadeia produtiva.”

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