Manejo correto garante a qualidade do feijão
Para que o grão apresente bom padrão de qualidade, a pesquisa agropecuária recomenda a adoção do uso das boas práticas culturais
Para cada real aplicado na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em 2018, foram devolvidos R$ 12,16 para a sociedade. Os dados são da última edição do seu Balanço Social, publicado em abril deste ano, que apontou um lucro social de R$ 43,52 bilhões no ano passado. Esse valor foi obtido a partir da análise do impacto econômico de 165 soluções tecnológicas e de cerca de 220 cultivares desenvolvidas pela Empresa.
"O lucro social é um valor decorrente dos benefícios econômicos recebidos pelo setor produtivo com a adoção das soluções tecnológicas geradas pela Empresa. Esse valor é calculado por meio da soma dos lucros obtidos pelos adotantes dessas soluções. Quando relacionamos em 2018 o lucro social de R$ 43,52 bilhões com a receita operacional líquida de R$ 3,57 bilhões, temos então o índice de retorno social de R$ 12,16 para cada real aplicado na Embrapa", explica Flavio Avila, pesquisador responsável pela área de Avaliação de Desempenho Institucional, da Secretaria de Desenvolvimento Institucional (SDI).
Esses números sintetizam, sob o aspecto econômico, uma série de contribuições da Empresa à sociedade e estão entre os principais resultados apresentados no Balanço Social. Outros dados importantes, também obtidos a partir dessa amostra de soluções tecnológicas analisadas, são a Taxa Interna de Retorno (TIR) de 37,6%, que confirma a alta rentabilidade dos investimentos realizados pelo Estado na Embrapa e a geração de 69.936 novos empregos em 2018.
Tais resultados são ainda reflexo do aprimoramento do Balanço Social, que em sua nova edição incorporou diversas mudanças para demonstrar a real efetividade da Embrapa. Entre as principais mudanças se encontra a ampliação da amostra de 115 para 165 soluções tecnológicas avaliadas sob o ponto de vista de impactos econômicos, sociais e ambientais e a agregação de mais dimensões de impacto, como o impacto institucional, que mostra alguns dos resultados intangíveis gerados pela solução tecnológica avaliada, como novos conhecimentos e melhorias nas capacidades relacional, científica e tecnológica e organizacional.
Nessa mesma linha, outra dimensão de impacto foi desenvolvida e será incorporada nas próximas edições da publicação: os impactos da Embrapa em políticas públicas. Para isso, foi realizado um projeto piloto no âmbito da Embrapa Pantanal, aplicado ao Sistema de Controle de Pesca de Mato Grosso do Sul (SCPESCA/MS) na Bacia do Alto Paraguai, que contribuiu para a implantação do Seguro Defeso naquele Estado. A metodologia de análise da participação da Empresa nessa política permitiu valorar diversas questões, como a contribuição da instituição para a conservação dos recursos pesqueiros regionais, para a melhoria da renda das famílias de pescadores profissionais e para o desenvolvimento do setor da pesca turística. A metodologia será agora incorporada ao Balanço Social e estendida à outras das 120 políticas públicas nas quais a Empresa teve contribuições efetivas nos últimos anos.
A avaliação de impactos identifica e mensura os efeitos da pesquisa agropecuária na renda do produtor, na geração de empregos e no meio ambiente durante um longo período de tempo. No entanto, é possível saber com antecedência se determinada solução tecnológica possui potencial de geração de impactos quando se analisa em que medida ela já está sendo adotada e incorporada ao processo produtivo. Foi pensando nisso que a equipe de economistas do Balanço Social propôs um novo indicador para avaliar o desempenho das soluções tecnológicas de adoção consolidada, também conhecidas como outcomes. Para isso foi selecionada uma amostra específica de 175 tecnologias, serviços e produtos e apresentada suas respectivas taxas de uso ou adoção.
Outra forma de avaliação presente no Balanço Social se refere à produção técnico-científica da Embrapa. Um estudo sobre essa produção no contexto nacional, realizado a partir de uma busca na base de dados Web of Science (WoS) entre 2003 e 2017, demonstrou que a Empresa ocupa o 8º lugar entre todas as instituições e o primeiro lugar entre as organizações não universitárias. Além disso, foi verificado que as áreas do conhecimento mais representativas dessa amostra com todas as organizações científicas brasileiras são as Ciências da Saúde (30%), Ciências Exatas e da Terra (22%), Ciências Biológicas (18,6%), Ciências Agrárias (11,5%) e Engenharias (10,4%).
Também evidenciam a efetividade da Embrapa a quantidade de downloads de publicações técnicas disponibilizadas pela Empresa na Internet por meio de três repositórios (Ainfo, Alice e Infoteca). Em 2018 foram feitos 25,8 milhões de downloads de publicações, o que indica que as publicações produzidas nos centros de pesquisa estão sendo usadas, especialmente, por produtores e pelos técnicos da assistência técnica e extensão rural, tanto do setor público, como do privado.
A apresentação de resultados no Balanço Social não se esgota com os tipos de avaliação realizados anteriormente. Outros pontos significativos são as 1.039 ações de relevante interesse social realizadas pela instituição e os 118 prêmios e homenagens por ela recebidos. Para chegar a esses números, os diversos centros da Embrapa, no primeiro caso, registram e classificam em um formulário eletrônico todas as suas atividades sociais relacionadas a diversos temas, como desenvolvimento social e organização comunitária; bem-estar, saúde e segurança no trabalho; meio ambiente e educação ambiental; segurança alimentar, nutricional e inclusão produtiva. Esses registros também compõem uma base eletrônica, acessada pela internet, em que qualquer pessoa pode obter informações detalhadas sobre cada uma das ações sociais promovidas pela instituição.
No segundo caso, as descrições dos prêmios e homenagens recebidos anualmente pela Embrapa ou por seus empregados são enviadas por e-mail pelas equipes dos centros à equipe central do Balanço Social, que as contabiliza e as classifica. Assim, em 2018, o total de 118 premiações foi subdividido em 18 prêmios internacionais, 27 prêmios científicos, 33 prêmios nacionais e 40 prêmios regionais.
A publicação do Balanço Social também é uma boa oportunidade para selecionar e descrever as principais contribuições da Embrapa no âmbito da agricultura, em temas tais como manejo e correção de solos; fibras, oleaginosas e cereais; produção animal; frutos e castanhas; hortaliças e leguminosas; sistemas e serviços; cultivares Embrapa e parceiros; e geração de novos empregos. Essas contribuições, denominadas casos de sucesso, foram adotadas no Balanço Social como exemplos ilustrativos das diversas tabelas de impactos e de adoção de soluções tecnológicas apresentadas na publicação.
Em 2018, destacam-se casos de sucesso como o projeto de transferência de tecnologias de café para as etnias indígenas Tupari e Aruá, que as tornaram referência na produção de cafés especiais, o manejo de solos e culturas para reduzir quebra de safras causadas por veranicos e a Caravana Embrapa para controlar a praga exótica Helicoverpa armigera, que vinha atacando diversas culturas no País. Podem ser citados também a forrageira tropical Paiguás resistente à sêca, o grão-de-bico brasileiro BRS Aleppo, o aplicativo Roda da Reprodução para administrar plantéis leiteiros e a cultivar de arroz fino de alta produtividade, a BRS Pampeira.
Todas as informações que constam no Balanço Social da Embrapa são auditadas e auditáveis. Os relatórios de avaliação de impacto com sua respectiva metodologia, resultados detalhados e análises são disponibilizados na Internet desde 2011. No entanto, a descentralização do processo de avaliação de impacto para os centros de pesquisa ocorre desde 2001, momento em que a Empresa adotou o enfoque multidimensional (econômico, social e ambiental) para as análises de impacto e cada relatório começou a ser avaliado por especialistas. Além disso, as unidades passaram a receber "feedbacks" anuais da Sede.
A elaboração do Balanço Social envolve cerca de 270 pessoas, situadas em todas as unidades da Embrapa no Brasil e organizadas em duas equipes interdependentes: uma delas, com 230 pessoas, é responsável pela coleta de dados de campo e análise de impactos das soluções tecnológicas. A segunda equipe, formada por 40 pessoas, é encarregada de coletar as demais informações, tais como ações sociais, casos de sucesso e premiações. Ambas as equipes são coordenadas por um grupo central localizado na sede da Embrapa, responsável pela organização dos dados e publicação do Balanço Social.
Segundo Flavio Avila, que também atua como supervisor geral desse processo, “todo o esforço realizado na elaboração do Balanço Social é direcionado para a demonstração à sociedade de um conjunto de indicadores que vai além da eficácia e da eficiência da gestão, geralmente demonstrada em outros documentos corporativos, tais como os relatórios de gestão e de administração. No caso do Balanço Social, focamos primordialmente na efetividade da Embrapa, ou seja, nos impactos gerados e nas transformações induzidas pela instituição no mercado e na sociedade, a partir da adoção das soluções tecnológicas da Empresa. Atualmente a sociedade e os órgãos de controle do Estado não querem apenas saber como os recursos públicos estão sendo utilizados, mas quais benefícios sociais estão sendo por eles gerados”.
Balanço Social é um documento publicado anualmente por organizações públicas e privadas, destinado a seus públicos interno e externo, que reúne um conjunto de informações sobre seus projetos, benefícios e ações sociais. A ampla disseminação dessa prática corporativa recebeu grande impulso no Brasil com o surgimento, em 1993, da Ação da Cidadania contra a Miséria e pela Vida, também conhecida como Campanha contra a Fome.
Criada pelo sociólogo Herbert José de Sousa, o Betinho, essa campanha foi desenvolvida pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), que promoveu a aproximação de parte do setor empresarial de relevantes problemas sociais brasileiros. Em 1997, o Ibase e o Comitê de Entidades no Combate à Fome e pela Vida (COEP) idealizaram um modelo e realizaram uma campanha para promover a divulgação voluntária de balanços sociais por parte das empresas. Nesse mesmo ano a Embrapa publicou a primeira edição de seu Balanço Social.
O Balanço Social da Embrapa é uma adaptação do modelo sugerido pelo Ibase. A principal diferença em relação à proposta original se deve à adequação de alguns de seus indicadores, então criados especificamente para organizações com fins lucrativos, aliada à inclusão de dados socioeconômicos das tecnologias geradas pela Empresa e já incorporadas ao processo produtivo. No primeiro caso, a Embrapa não foi criada para gerar lucros financeiros, mas sim o chamado “lucro social”, dada a sua contribuição ao desenvolvimento da agropecuária brasileira.
O maior desafio desse documento, no âmbito institucional, consiste, portanto, em demonstrar o papel da pesquisa agropecuária como um esforço estratégico para o país. Para isso, a Empresa precisou incorporar à publicação, além dos indicadores sociais, aqueles decorrentes de estudos de impactos de tecnologias que já vinham sendo tradicionalmente realizados pela Empresa desde os anos 1980.
A partir da publicação do primeiro número do Balanço Social, em 1997, sua metodologia vem sendo constantemente aprimorada. As primeiras edições contemplavam um limitado número de dimensões de avaliações, tais como as ações sociais desenvolvidas pela Empresa, os impactos econômicos de suas tecnologias e seu lucro social.
Ao longo do período foram agregadas à publicação informações tais como os impactos ambientais e sociais, a geração de empregos, premiações e reconhecimentos da sociedade. Mais recentemente foram incorporados os casos de sucesso, a taxa interna de retorno (TIR) de cada tecnologia, os impactos institucionais e a análise das contribuições da Empresa no ambiente da comunidade científica.
Apesar desse perfil mais restrito, o Balanço Social da Embrapa vem servindo de referência a muitas outras instituições de pesquisa similares, tais como a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) e a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig).
Em 2017, a Corporación Colombiana de Investigación Agropecuaria (Agrosavia) adotou a metodologia do Balanço Social da Embrapa por intermédio de acordo de cooperação internacional e lançou no ano seguinte sua primeira edição desse documento. Da mesma forma, as instituições de pesquisa agropecuária dos países participantes do Programa Cooperativo para o Desenvolvimento Tecnológico, Agroalimentar e Agroindustrial do Cone Sul (Procisur) – Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai – também receberam treinamento da Embrapa e passaram a adaptar a metodologia para suas respectivas realidades.
Em recente estudo realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a iniciativa da Embrapa na avaliação dos impactos da pesquisa agropecuária em múltiplas dimensões, vinculada à publicação anual de um Balanço Social, foi reconhecida como experiência única e bem sucedida. Por isso a Empresa é colocada no mesmo patamar que o de prestigiadas instituições similares de outros países, tais como o Serviço de Pesquisa Agrícola (ARS/USDA) dos Estados Unidos, o Instituto Nacional de Pesquisa Agrícola (INRA) da França e a Organização de Pesquisa Científica e Industrial da Comunidade Britânica (CSIRO) da Austrália, ou supranacionais, como os 15 centros de pesquisa do Consórcio de Pesquisa Agrícola Internacional (CGIAR).
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