Integração de ferramentas é saída contra ferrugem

25.11.2014 | 21:59 (UTC -3)

A combinação de ferramentas para combater a ferrugem asiática, doença que ataca as lavouras de soja em Mato Grosso há mais de dez anos, é a prática recomendada por estudiosos especialistas no assunto. O uso de fungicidas com alternância dos produtos e na forma de ação, associado à adoção de um vazio sanitário consciente, que não prejudique o tempo necessário ao produtor, é uma das medidas defendidas. A conclusão veio à tona durante o Fórum Soja Brasil, em Primavera do Leste, evento que reuniu mais de 200 pessoas na noite desta segunda-feira e foi transmitido ao vivo pelo Canal Rural e pela Internet.

“Não podemos mais contar apenas com esta ferramenta”, referiu-se às três qualidades de fungicidas – DMI associada ao Qol, DMI e Qol –, regularmente utilizadas contra a praga nas fazendas do Estado, o pesquisador da Embrapa Soja, Maurício Meyer, durante a participação no programa de TV. Ele deixou explícito ao público que o fungo que provoca a ferrugem tem alcançado mutações em função do uso indiscriminado dos produtos há muito tempo.

“Também não podemos fazer superdosagem dos produtos. Temos que usar nas doses e nos intervalos recomendados pelos fabricantes, justamente para não haver seleção dos resistentes (fungos)”, reforçou. A ideia foi ainda mais enfatizada pelo fitopatologista da OR Melhoramentos de Sementes, Erlei Melo Reis. “Quantos aqui tomam vacina e antibiótico toda semana?”, provocou. “Controle econômico só acontece quando há controle de eficiência acima de 80%. Nós temos em torno de 38%, isso não é eficiência. E a atual situação de mutação vem do uso indiscriminado dos mesmos produtos”. Estima-se que o custo trazido para o combate e com os prejuízos com a ferrugem no Brasil é de R$ 4 milhões.

O pesquisador referência em ferrugem asiática em Mato Grosso, conhecido como um dos idealizadores do vazio sanitário, José Tadashi, lembrou a necessidade de fazer o uso de fungicida como prevenção. “A essência do produto aplicado como preventivo, mesmo que já esteja no começo da lavoura, entra em tempo de controlar a ferrugem. Mas também é preciso rever a safrinha. Para que fazer safrinha se o risco é extremamente grande? Está proibido antecipar a soja para salvar semente”, determinou aos produtores presentes no evento.

Os representantes do governo que participaram do fórum, Wanderlei Dias Guerra, fiscal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), e Rogaciano Arruda, fiscal de sanidade animal do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso, defenderam a manutenção, por tempo estendido, do vazio sanitário. O período estabelecido para o próximo ano – de 1º de maio a 15 de setembro, mais de 40 dias superior ao normalmente praticado – ganhou a insatisfação dos produtores, em virtude do plantio da safrinha.

“Até a soja guaxa está tendo ferrugem. Precisamos saber, e estamos estudando, qual é a origem desta ferrugem. Temo que seja aquela que já ficou resistente a todas as aplicações de fungicida da safra normal e da safrinha”, comentou o fiscal do Mapa. “O vazio sanitário só deu certo até hoje, nesses oito anos, porque teve a adesão dos produtores. Essa é nossa ferramenta, que vai nos ajudar no problema da ferrugem”, insistiu Arruda.

CAMPANHA – Todas as ponderações dos painelistas do evento vão exatamente ao encontro da próxima campanha da Associação de Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT) anunciada pelo presidente da entidade, Ricardo Tomczyk, enquanto mediava o fórum. Com o slogan “A ferrugem asiática não perdoa. Use fungicida com diferentes modos de ação”, a Aprosoja-MT quer fazer com que o produtor se fortaleça para garantir a diminuição dos riscos e a manutenção da cultura. “Nossa atividade se faz com amor, mas não podemos esquecer que se trata de um negócio. Temos que tirar um pouco da paixão, olhar para os números e contar com as ferramentas para garantirmos o futuro”.

Seo Tadashi, como é chamado pelos produtores o garoto-propaganda da campanha, reforçou a ideia: “calculo uma perda de US$ 25 bilhões com a ferrugem asiática. É muito alto! Temos que ter um pouco mais de patriotismo. Com as perdas de soja é gente que perde o emprego, é comércio que fecha as portas. Temos que fazer aquilo que nos compete e pensando na comunidade, pensando no outro”.

O evento Soja Brasil é uma realização da Aprosoja Brasil e do Canal Rural e ainda tem a Aprosoja-MT como uma das entidades parceiras. Após o evento de Primavera, a Caravana Soja Brasil ainda vai percorrer cidades produtoras de Mato Grosso até o dia 7 de dezembro, para levar palestras e informações aos produtores. Informações no site: www.sojabrasil.com.br.

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