Epagri desenvolve projeto inédito de melhoramento genético da uva Piwi

O objetivo do projeto é desenvolver uma variedade de uva Piwi mais resistente a doenças e que se adeque em diferentes regiões de SC

13.09.2023 | 14:53 (UTC -3)
Isabela Schwengber
Foto: André Kulkamp de Souza/Epagri
Foto: André Kulkamp de Souza/Epagri

Desenvolver uma variedade de uva Piwi mais resistente a doenças e que se adeque em diferentes regiões catarinenses é o principal objetivo do projeto desenvolvido por pesquisadores das Estações Experimentais da Epagri em Videira, em São Joaquim e em Urussanga e dos campus de Curitibanos e Florianópolis da UFSC. O estudo, inédito no Brasil, é realizado desde 2014 e suas atividades contam com apoio do Governo do Estado, via Secretaria da Agricultura e da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc).

Pela Fapesc, o projeto Avaliação vitivinícola de genótipos de videiras nas condições edafoclimáticas de Santa Catarina recebeu fomento a partir de 2014 até 2021, configurado em cinco etapas. A pesquisa também teve recursos do Fundo de Desenvolvimento da Vitivinicultura (Fundovitis), do Rio Grande do Sul. O estudo tem ainda a parceria do Institute for Grapevine Breeding Julius Kühn (Instituto para Melhoramento da Videira Julius Kühn), da Alemanha, e da Fondazione Edmund Mach (Fundação Edmund Mach), da Itália, que forneceram as variedades de uva Piwi para a avaliação, melhoramento e cruzamento genético que foi realizado em Santa Catarina.

O gerente da Estação Experimental da Epagri em Videira e pesquisador do projeto, André Luiz Kulkamp de Souza, explica que Piwi é derivado do termo alemão “pilzwiderstandsfähigen”, que significa resistente a doenças fúngicas. Piwi caracteriza um grupo de variedades de uvas (brancas, rosas e tintas) obtidas nos últimos anos por meio de melhoramento genético, a partir de cruzamentos de variedades viníferas com espécies selvagens. “O grande diferencial é que elas apresentam grande porcentagem do genoma de variedades viníferas, ao ponto que em todo mundo são consideradas vitis viniferas, ou seja, o vinho produzido é chamado vinho fino”, explica.

Foto: André Kulkamp de Souza/Epagri
Foto: André Kulkamp de Souza/Epagri

O projeto começou em 2014 e, no ano seguinte, foram plantadas 11 variedades de uva Piwi, vindas da Alemanha e da Itália. Por meio do melhoramento genético feito em Santa Catarina, com cruzamento e retrocruzamento, atualmente, os pesquisadores trabalham com 40 variedades de Piwi. Para o estudo, foram escolhidos locais em Água Doce, Curitibanos, São Joaquim, Urussanga e Videira, que possuem diferentes altitudes e condições climáticas, com o objetivo de verificar o comportamento das videiras. Houve colheitas nas safras de 2017, 2018, 2019, 2020, 2021 e 2022.

Segundo André, com o melhoramento genético realizado, conseguiu-se variedades da Piwi que se comportam de acordo com a realidade encontrada em Santa Catarina. “Conseguimos uvas mais resistentes a doenças e com isso, reduzimos ao menos pela metade o uso de agrotóxicos nas videiras. Isso mostra a possibilidade de viabilizar no futuro, uma produção orgânica com essas variedades”. Além disso, ele pontua que a uva Piwi tem potencial vinífero, com variedades com as quais podem ser feitos além de vinhos, espumantes. “Com a resistência a doenças e alta qualidade enológica, podemos produzir vinhos finos com redução de custos e impacto ambiental menor”, afirma o gerente da Estação Experimental da Epagri em Videira.

Foto: André Kulkamp de Souza/Epagri
Foto: André Kulkamp de Souza/Epagri

As 40 variedades da Piwi são avaliadas nos cinco municípios em que são cultivadas e todas elas são vinificadas na Epagri em Videira. E os pesquisadores já identificaram que as uvas plantadas em regiões mais altas de Santa Catarina, fornecem vinhos mais florais e neutros. Já em regiões com altitudes mais baixas, os vinhos são mais frutados. Segundo Souza, as duas variedades que se destacaram foram Calardis Blanc e Felicia, duas variedades brancas com alto potencial produtivo e enológico.

O pesquisador conta que em 2023 a linha de pesquisa continua ativa, inclusive com novos parceiros internacionais e que as mudas de Calardis Blanc e Felicia começaram a ser comercializadas por dois viveiros catarinenses credenciados.

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