Entidade que estimula pesquisa sobre o que há de melhor no agronegócio mundial amplia atuação no Brasil

NuffieldInternational já concedeu mais 1.600 bolsas para profissionais do setor – valor atual é de US$ 30 mil; no Brasil, primeira pesquisa apoiada avaliou marco regulatório para a adoção de biotecnologia

14.11.2016 | 21:59 (UTC -3)
Ana Paula Silva Ponchio

Interessada em contribuir para o desenvolvimento de líderes também no agronegócio brasileiro, a NuffieldInternational, fundação sem fins lucrativos que fornece bolsas de US$ 30 mil para a realização de pesquisa prática e coordena uma rede mundial de profissionais do setor, está ampliando sua atuação no Brasil – o país se tornou associado em 2013. O CEO da entidade, o australiano Jim Geltch, está no Brasil para tratar diretamente das novas investidas no País.

Conforme a diretora executiva da Nuffield no Brasil, a australiana Sally Thomson, a entidade concentrou em São Paulo, nesta semana, as entrevistas com sete finalistas brasileiros para a obtenção de bolsa, a reunião bianual do Comitê estratégico da Nuffield e também o encontro de planejamento do evento mundial de networking dos seus membros. O Brasil foi escolhido para sediar a Conferência anual de Novos Bolsistas da entidade, que será realizada de 11 e 19 de março de 2017, em Brasília.

“É a primeira vez que o evento global da NuffieldInternational acontece na América Latina. Vemos o enorme potencial dos brasileiros. Tanto em 2015 quanto em 2016, candidatos do País obtiveram uma bolsa que era disputada também por profissionais dos Estados Unidos, Austrália, de alguns países Europeus e também do Chile. Queremos aumentar consideravelmente o número de representantes do Brasil em nossa rede", explica Sally Thomson.

Além das duas bolsas já concedidas a brasileiros, na próxima quinta-feira, 17 de novembro, existe a possibilidade de mais dois serem selecionados. Uma das bolsas é reservada especificamente para um brasileiro, financiada pela empresa do setor agrícola Nufarm, e outra será novamente disputada com candidatos da Austrália, Estados Unidos e Chile – o financiador é o fundo de pensão americano TIAA, que tem atuação nesses países.

A primeira brasileira a receber bolsa Nuffield, em 2015, foi Cecília Fialho, 27 anos, economista que atua em uma empresa de consultoria do agronegócio de Uberlândia. Sua pesquisa centrou-se no marco regulatório para a adoção de biotecnologia em diferentes países e as conclusões são um subsídio relevante para o planejamento estratégico do agronegócio nacional.

Com base em critérios históricos, institucionais, regulatórios e técnicos, Cecília concluiu que o marco regulatório estabelecido no Brasil “está mais bem posicionado" que o dos Estados Unidos, China e União Europeia. Esse resultado indica que, no Brasil, há maior receptividade e que os procedimentos vigentes são mais ágeis para a adoção de biotecnologia que nos outros países analisados, até mesmo que nos Estados Unidos. Prova disso, seria a aprovação de 20 “eventos" transgênicos em 2015.

Com base nos resultados dessa pesquisa e de suas observações e apurações em sete países, todas orientadas e financiadas pela bolsa Nuffield, a economista avalia que o Brasil está no caminho certo para se manter entre os grandes players do agronegócio mundial. “A biotecnologia oferece meios para o enfrentamento de problemas sérios que a agricultura, a produção de alimentos mundial vai enfrentar em médio de longo. Com o marco regulatório que o Brasil dispõe, devemos ter a agilidade necessária para dar respostas eficazes".

Outro brasileiro contemplado com uma bolsa da Nuffield, na edição de 2016, é Luciano Loman, 29 anos, engenheiro eletricista e sócio-fundador de uma empresa de monitoramento climático para agricultura, de São Bernardo do Campo. Luciano tem experiência também em sensoreamento remoto, monitoramento de pragas, modelagem de risco de doenças e manejo de irrigação através de sensores de umidade do solo.

Em sua pesquisa, estudará as mais avançadas técnicas e tecnologias para a Agricultura Vertical, que permite a produção de alimentos utilizando-se o mínimo de recursos e em espaços limitados. Na agricultura vertical, cada aspecto do ambiente – luz, água, ar, nutrientes – é controlado para se maximizar o seu aproveitamento. O resultado é uma produção muito eficiente, capaz de utilizar, por exemplo, até 95% menos água do que a agricultura convencional devido a um excelente manejo hídrico. Além da economia de recursos, a produtividade por área também aumenta com o "empilhamento" de camadas produtivas.

Futuramente, Luciano planeja parcerias com cooperativas e empresas locais para implementar projetos de agricultura urbana e de cunho social. “Além de estudar tecnologias e desafios para a implementação de projetos de agricultura vertical em larga escala, quero estudar a viabilidade de implantação de pequenos núcleos de produção de alimentos baseados nessas modernas técnicas produtivas. Existem algumas iniciativas muito interessantes nos Estados Unidos e em alguns países europeus, que reutilizam antigos contêineres de carga para a produção de alimentos", explica Luciano.

Nesta semana, o bolsista está na Áustria, iniciando a etapa de visitação individual – serão sete semanas em pelo menos cinco países –para conhecer de perto soluções que têm sido desenvolvidas. As visitações de bolsistas Nuffield ocorrem duas fases. Em grupos e, depois, individualmente, para países relevantes para cada estudo. As visitas são apoiadas por ex-bolsistas e demais membros da rede internacional formada pela instituição.

BOLSAS DE ESTUDOS – Neste ano, serão concedidas ao todo 80 bolsas de US$ 30 mil cada a profissionais de nove países. O perfil dos participantes é variado. Podem ter de 28 a 40 anos (este critério não é rígido) e atuarem em qualquer segmento do agronegócio. Importante é que tenham vontade de participar de uma rede do setor agro global para compartilhar e desenvolver conhecimentos, o que requer conversação fluente em Inglês. Mais de 1.600 bolsas de estudo já foram concedidas.

A primeira atividade de novos bolsistas é a participação no CSC (em português, “Conferência de Novos Bolsistas"). Durante uma semana, os recém-selecionados se conhecem e discutem, com participação de outros profissionais, problemas, tecnologias, tendências do agronegócio em diferentes países. A diretora executiva da Nuffield no Brasil explica que essa conferência reúne os bolsistas, líderes mundiais da área agrícola, políticos, entidades de fomento à agropecuária e instituições de pesquisa. “O bolsista desenvolve suas habilidades em liderança em um nível prático e político", resume Sally Thomson.

Outra etapa é a visitação internacional, em grupos de no máximo dez pessoas, ao longo de 7 semanas por países escolhidos – em torno de seis ou sete (“Programa de Foco Global"). Essas visitas são monitoradas por membros da rede Nuffield, que apresentam os desafios e o que há de melhor na produção e gestão do agronegócio em cada país. Noutra etapa, o bolsista se dedica a estudos individuais sobre seu tema, devendo elaborar um relatório que, além de apresentar tudo que foi pesquisado, deve evidenciar de que forma suas conclusões podem contribuir para seus negócios e para o agronegócio. O bolsista também deve fazer uma apresentação oral em evento de grande relevância para a agricultura de seu país dois anos após ter obtido a bolsa.

Na opinião da bolsista Cecília Fialho, a dinâmica e as orientações da Nuffield tornam esse processo a forma mais segura e direta de se realizar uma pesquisa, em âmbito mundial, dispondo-se de apoiadores altamente qualificados (membros da rede Nuffield) em muitos países. “Os resultados são muito assertivos, porque em todo o processo, o bolsista é bem orientado, estimulado e apresentado in loco a problemas reais e também ao que há de mais avançado na agricultura mundial. Os financiadores também têm muito a ganhar", avalia Cecília.

NUFFIELD INTERNATIONAL – Foi criada em 1947 (pós-II Guerra Mundial), na Inglaterra, por LordNuffield que teve a iniciativa de conceder bolsas para que agricultores britânicos identificassem as melhores práticas agrícolas no mundo. Constituída como fundação sem fins lucrativos, a Nuffield se apoia em contribuições de empresas e instituições de países membros e associados. Cada bolsa concedida tem um financiador, que discute o projeto com o selecionado e pode assimilar informações da pesquisa em suas atividades. Os resultados são apresentados também em eventos de grande audiência e publicados em relatório de livre acesso.

Atualmente, a NuffieldInternational tem sete membros estabelecidos – Reino Unido, Austrália, Canadá, França, Irlanda, Holanda, Nova Zelândia – e dois países associados: Brasil e Estados Unidos.

O objetivo da fundação é reunir pessoas com potencial de liderança no agronegócio para que, juntas, aumentem a capacidade de serem geradas soluções para um mundo que demanda cada vez mais alimento e outros produtos da agricultura. Na prática, a Nuffield é uma rede global de produtores, empresários, pesquisadores e demais profissionais relacionados ao agronegócio em constante crescimento. Gestão, produção, distribuição, comercialização, financiamento, consumidor, meio ambiente, políticas globais são temas de discussões na Nuffield.

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