Eficiência de inseticidas contra lagarta Helicoverpa armigera

Como anda a eficiência de controle dos produtos para uso contra lagarta H. armigera após ingresso da praga no Brasil

18.11.2020 | 20:59 (UTC -3)
Cultivar Grandes Culturas

As lagartas do gênero Helicoverpa abrangem pragas que atacam diversas culturas de importância econômica. Dentre elas, a espécie Helicoverpa armigera é considerada a de maior relevância, por ser extremamente polífaga e se alimentar tanto de órgãos vegetativos quanto reprodutivos de seus hospedeiros.

Para o controle de lagartas de H. armigera, existem disponíveis no mercado várias moléculas químicas, que podem ser utilizadas em diferentes cultivos. No entanto, vale destacar que para o manejo dessa praga no Brasil, existe uma carência de produtos registrados para o seu controle, bem como são poucos os trabalhos de controle desenvolvidos, em razão de sua recente constatação no País. Como essa praga foi detectada na região do Cerrado, causando grandes prejuízos econômicos, vários produtos foram disponibilizados pelo Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em caráter emergencial, para o seu manejo. No entanto, a recomendação destes produtos a campo somente será segura através da comprovação experimental de sua eficiência de controle dessa praga.

Ainda existem poucos produtos registrados contra H. armigera no Brasil
Ainda existem poucos produtos registrados contra H. armigera no Brasil

Além dos ingredientes químicos disponíveis no mercado, os inseticidas biológicos constituem uma alternativa promissora para o manejo de H. armigera, principalmente devido ao baixo impacto no ambiente, à seletividade para organismos não alvos, como também pelo apelo da população para o desenvolvimento de uma agricultura mais sustentável e ecologicamente correta.

Conduziu-se uma pesquisa no laboratório de Entomologia da Embrapa Agropecuária Oeste, em Dourados, Mato Grosso do Sul, que teve como objetivo avaliar a eficiência de controle de sete inseticidas químicos e um biológico no controle de lagartas, pequenas e grandes, de H. armigera em condições de laboratório. Como substrato para alimentação das lagartas de H. armigera, a cultivar de feijão Phaseolus vulgaris L., "BRS Estilo", foi semeada em vasos plásticos contendo uma mistura de terra, areia e substrato orgânico em casa de vegetação. Quando o feijoeiro apresentava a 3ª folha trifoliada completamente desdobrada, essas folhas foram retiradas das plantas, higienizadas e cortadas em discos foliares com área de 12,56cm², utilizando-se para isso um vazador metálico. Em seguida, os discos foliares foram imersos na calda inseticida contendo os diferentes tratamentos e suas respectivas doses a serem testadas (Tabela 1), por aproximadamente cinco segundos e depois retirados e dispostos para secagem sobre papel-toalha.

Posteriormente, esses discos foram oferecidos às lagartas, pequenas (<1,5cm) e grandes (>1,5cm) de H. armigera mantidas em placas de Petri (6cm diâmetro x 1,3cm altura) por um período de sete dias, sendo a reposição dos discos foliares na placa de Petri realizada sempre que necessário, em função do grau de consumo das lagartas. As lagartas de H. armigera, utilizadas no bioensaio, foram provenientes da criação em dieta artificial do Laboratório de Entomologia da Embrapa Agropecuária Oeste.

O ensaio foi conduzido no delineamento inteiramente casualizado, com nove tratamentos (sete inseticidas químicos, um biológico e a testemunha) em quatro repetições. Cada unidade experimental (repetição) foi constituída pelo agrupamento de cinco lagartas, pequenas ou grandes, de H. armigera. As avaliações de mortalidade de lagartas foram realizadas aos um, três, cinco, e sete dias após a imersão (DAI) dos discos foliares nos diferentes tratamentos, determinando-se o número de lagartas mortas (N) após o contato com os discos foliares tratados ou não. A eficiência de controle (E%), em cada tratamento, foi calculada empregando-se a fórmula de Abbott (1925). Os dados de mortalidade obtidos foram submetidos à análise de variância e as médias dos tratamentos comparados pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Os resultados obtidos no primeiro dia após o contato das lagartas com os discos foliares de feijão imersos nos inseticidas (1 DAI) mostraram que os tratamentos químicos clorfenapir (288g i.a./ha) e indoxacarbe (120g i.a./ha), seguidos pelo benzoato de emamectina (10g i.a./ha), foram os que apresentaram os maiores valores de efeito de choque para o controle de lagartas pequenas de H. armigera, em comparação à testemunha e a alguns dos tratamentos químicos avaliados no ensaio (Tabela 2 e Figura 2). Aos 3 DAI, apenas os tratamentos flubendiamida (72g i.a./ha), clorantraniliprole + lambda-cialotrina (30 + 15 g i.a./ha) e B. thuringiensis (500g i.a./ha) não apresentaram controle significativo de lagartas pequenas quando comparados ao tratamento testemunha, enquanto os demais tratamentos químicos proporcionaram, relativamente, altos níveis de controle de lagartas pequenas, com destaque para o tratamento clorfenapir (288g i.a./ha), que apresentou 100% de controle (Tabela 2 e Figura 2). Já aos cinco e sete DAI todos os tratamentos químicos apresentaram controle significativo de lagartas pequenas em relação ao tratamento testemunha, sem diferirem entre si. Aos sete DAI não havia nenhuma lagarta pequena sobrevivente na placa de Petri dos diferentes tratamentos químicos e biológico testados (Tabela 2 e Figura 3).

Figura 2 -	Percentagens médias de controle de lagartas pequenas (<1,5cm) de H. armigera aos 1 e 3 dias após o tratamento (DAT) com os discos foliares do feijoeiro contendo os diferentes inseticidas químicos e biológico (em g i.a./ha). Dourados/MS, 2019
Figura 2 - Percentagens médias de controle de lagartas pequenas (<1,5cm) de H. armigera aos 1 e 3 dias após o tratamento (DAT) com os discos foliares do feijoeiro contendo os diferentes inseticidas químicos e biológico (em g i.a./ha). Dourados/MS, 2019

Figura 3 -	Percentagens médias de controle de lagartas pequenas (<1,5cm) de H. armigera aos 5 e 7 dias após o tratamento (DAT) com os discos foliares do feijoeiro contendo os diferentes inseticidas químicos e biológico (em g i.a./ha). Dourados/MS, 2019
Figura 3 - Percentagens médias de controle de lagartas pequenas (<1,5cm) de H. armigera aos 5 e 7 dias após o tratamento (DAT) com os discos foliares do feijoeiro contendo os diferentes inseticidas químicos e biológico (em g i.a./ha). Dourados/MS, 2019

Com relação à eficiência de controle de lagartas grandes, verificou-se que na primeira avaliação (1 DAI), os tratamentos químicos clorfenapir (288g i.a./ha), indoxacarbe (120g i.a./ha) e benzoato de emamectina (10g i.a.) apresentaram os menores números de lagartas sobreviventes, quando comparados à testemunha (Tabela 3), à semelhança do observado para lagartas pequenas, proporcionando porcentagens de controle de 60%, 55% e 70%, respectivamente (Figura 4). Já os demais tratamentos químicos ou biológicos avaliados apresentaram níveis de sobrevivência de lagartas grandes semelhantes ao observado no tratamento testemunha, nesta época de avaliação.

Figura 4 -	Percentagens médias de controle de lagartas grandes (>1,5cm) de H. armigera aos 1 e 3 dias após o tratamento (DAT) com os discos foliares do feijoeiro contendo os diferentes inseticidas químicos e biológico (em g i.a./ha). Dourados/MS, 2019
Figura 4 - Percentagens médias de controle de lagartas grandes (>1,5cm) de H. armigera aos 1 e 3 dias após o tratamento (DAT) com os discos foliares do feijoeiro contendo os diferentes inseticidas químicos e biológico (em g i.a./ha). Dourados/MS, 2019

Aos três DAI, os tratamentos flubendiamida (72g i.a./ha), clorantraniliprole + lambda-cialotrina (30 + 15 g i.a./ha) e B. thuringiensis (500g i.a./ha) não apresentaram controle significativo de lagartas grandes em comparação ao tratamento testemunha, à semelhança do também observado para lagartas pequenas com estes mesmos tratamentos (Figuras 2 e 4). Nos demais tratamentos químicos foram observados maiores níveis de redução populacional de lagartas grandes, com destaque novamente para os tratamentos clorfenapir (288g i.a./ha) e benzoato de emamectina (10g i.a./ha) que apresentaram as maiores eficiências de controle de lagartas grandes (Figura 3). Aos cinco DAI, todos os tratamentos químicos ou biológicos avaliados no ensaio reduziram significativamente a população de lagartas grandes de H. armigera, em relação ao tratamento testemunha (Tabela 3), sendo observados níveis de controle variando entre 77,8% e 100% (Figura 5). Na última avaliação de mortalidade, realizada no ensaio (sete DAI), todas as lagartas grandes de H. armigera já tinham morrido em função da ação dos inseticidas, proporcionando 100% de mortalidade em todos os tratamentos químicos ou biológico testados (Figura 5).

Figura 5 -	Percentagens médias de controle de lagartas grandes (>1,5cm) de H. armigera aos 5 e 7 dias após o tratamento (DAT) com os discos foliares do feijoeiro contendo os diferentes inseticidas químicos e biológico (em g i.a./ha). Dourados/MS, 2019
Figura 5 - Percentagens médias de controle de lagartas grandes (>1,5cm) de H. armigera aos 5 e 7 dias após o tratamento (DAT) com os discos foliares do feijoeiro contendo os diferentes inseticidas químicos e biológico (em g i.a./ha). Dourados/MS, 2019

O uso de inseticidas químicos e/ou biológicos tem se apresentado como uma importante ferramenta para ser empregada no manejo de diversos insetos-praga nos diferentes cultivos em que ocorrem. De acordo com as normas de recomendação de produtos do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), os inseticidas químicos ou biológicos, liberados no Brasil, precisam apresentar um nível médio de controle superior ou igual a 80% das pragas alvos para que os produtos possam ser considerados eficientes do ponto de vista agronômico. Diante dos resultados obtidos neste trabalho, pode-se inferir que os tratamentos químicos ou o biológico testados foram eficientes para o controle de lagartas pequenas e grandes de H. armigera, visto que, de modo geral, na última avaliação de mortalidade, realizada aos sete DAI, todas as lagartas de H. armigera (de ambos os tamanhos) já tinham morrido em função da ação dos inseticidas testados.

O grau de eficiência de controle de um produto é de extrema importância no manejo de lagartas logo no início da ocorrência da praga na cultura, ou seja, quando predominam ainda lagartas pequenas, com o objetivo de evitar maiores danos às lavouras causados pelas lagartas grandes. Todavia, neste trabalho, em que foi avaliada a eficiência de controle sobre lagartas pequenas e grandes de H. armigera, o tamanho da lagarta aparentemente não foi influenciado quanto à suscetibilidade aos ingredientes ativos testados.

Dentre os produtos testados nas quatro avaliações de controle realizadas, os que apresentaram menor efeito de choque foram a flubendiamida, ciantraniliprole + lambdacialotrina e o B. thuringiensis. Os inseticidas químicos do grupo das diamidas (flubendiamida e clorantraniliprole), quando em contato com o inseto, ligam-se aos receptores de rianodina nas células dos músculos, provocando a abertura dos canais de cálcio, causando inicialmente cessação da alimentação, paralisia e somente após algum tempo é que ocorre a morte do inseto. Esse modo de ação específico das diamidas explica o efeito retardado de choque observado tanto para lagartas pequenas quanto grandes neste trabalho.

É de conhecimento que o inseticida biológico B. thuringiensis somente apresenta eficiência satisfatória no controle de lagartas após uma semana da sua aplicação, o que explica a reduzida mortalidade observada, para ambos os tamanhos de lagartas, nas primeiras avaliações para o controle de H. armigera. Esse baixo efeito de choque do B. thuringiensis, após sua exposição às lagartas, está relacionado ao seu mecanismo de ação, uma vez que este produto atua no epitélio intestinal da lagarta, interrompendo a sua alimentação em poucas horas após o início da exposição, não causando a sua morte imediata na fase inicial da contaminação, como foi também observado para os inseticidas testados do grupo das diamidas.

De um modo geral, os resultados aqui obtidos evidenciam que os inseticidas químicos e o biológico testados apresentam potencial de uso para o controle de lagartas de H. armigera, não somente na fase inicial do desenvolvimento das lagartas, mas também naquelas mais desenvolvidas. Todavia, cabe ressaltar que os resultados desta pesquisa foram decorrentes de um trabalho conduzido em condições de laboratório e que necessita ser reproduzido em condições de campo para garantir uma recomendação mais segura. Em adição, é importante ressaltar que para o sucesso no controle de qualquer tipo de praga, é necessário realizar antecipadamente o seu monitoramento adequado na área, bem como selecionar inseticidas que preservam os inimigos naturais e o meio ambiente, princípios esses fundamentados nos preceitos do Manejo Integrado de Pragas.

Ávila aponta para a necessidade de novos estudos em condições de campo
Ávila aponta para a necessidade de novos estudos em condições de campo

Crébio José Ávila, Embrapa Agropecuária Oeste; Marizete Cavalcante de Souza Vieira, Elizete Cavalcante de Souza Vieira, Paula Gregori Silva e Ivana Fernandes da Silva, Universidade Federal da Grande Dourados; Nátaly Diane Rocha da Silva, Instituto Federal de Mato Grosso do Sul; Izabela Carla Vessoni e Giovane Franco Rodrigues, Centro Universitário da Grande Dourados

Cultivar Grandes Culturas Agosto 2020

A cada nova edição, a Cultivar Grandes Culturas divulga uma série de conteúdos técnicos produzidos por pesquisadores renomados de todo o Brasil, que abordam as principais dificuldades e desafios encontrados no campo pelos produtores rurais. Através de pesquisas focadas no controle das principais pragas e doenças do cultivo de grandes culturas, a Revista auxilia o agricultor na busca por soluções de manejo que incrementem sua rentabilidade. 

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